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    DAVE KOTINSKYGETTY IMAGES

    Quem é Amanda Gorman, a poeta de 22 anos convidada para a posse de Biden

    Barbie de Maya Angelou || Reprodução Instagram

    Escritora e ativista Maya Angelou ganha Barbie em sua homenagem no mês da História Negra

    Anielle Franco (Foto: Bléia Campos)

    Mulheres pretas acadêmicas

    Mônica Calazans tem 54 anos e trabalha na UTI do Instituto de Infectologia Emílio Ribas (Foto: Arquivo pessoal)

    Primeira a ser vacinada é mulher, negra e enfermeira do Emílio Ribas em SP

    Primeira vereadora negra eleita na Câmara de Curitiba, Carol Dartora recebeu ameaças de morte por e-mail (DIVULGAÇÃO/Imagem retirada do site El País)

    Ameaças de neonazistas a vereadoras negras e trans alarmam e expõem avanço do extremismo no Brasil

    Ingrid Silva é a primeira bailarina negra e brasileira a ser palestrante principal em Harvard

    Pesquisadoras também produziram livreto em homenagem às profissionais que atuam no combate ao coronavírus - Ilustrações: Marcelo Jean Machado

    Projeto dá visibilidade ao trabalho de cientistas negras brasileiras de forma lúdica

    Divulgação

    2º Festival Frente Feminina abre inscrições e seleciona artistas negras para residência artística virtual

    A cantora Alaíde Costa Kazuo Kajihara/ Sesc-SP

    ‘Não tenho muito o que me queixar da vida’, diz a cantora Alaíde Costa

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      Imagem: Júlia Rodrigues/Divulgação

      Emicida e o direito de sermos quem somos

      Comissão ARNS (Divulgação )

      Brasil: etnocracia branca contra a maioria negra

      Aliyyah e Yasmeen Koloc/ Imagem retirada do site UOL

      Irmãs de 16 anos são alvos de racismo e sexismo no Rally Dakar; FIA repudia

      Reprodução/Facebook

      O que será dos profissionais de saúde que distorcem a ciência?

      Bianca Santana - Foto: João Benz

      “Mas morreu esse tanto de gente por covid-19 mesmo?”

      Arquivo Pessoal

      O Sol de Cada Um

      Alicia Keys (Foto: Rob Latour/Shutterstock)

      Alicia Keys pede para Joe Biden lançar iniciativa de justiça racial nos EUA

      Enfermeira Mônica Calazans, de 54 anos, é a primeira brasileira a receber dose da vacina Coronavac (Foto: Governo do Estado de São Paulo / Divulgação)

      “Precisa dizer que Mônica é negra?”: o racismo à brasileira e a CoronaVac 

      Em foto de 2019, Ananda Portela segura a mão da avó, internada com covid-19 Imagem: Acervo Pessoal

      Após o final do ano, a covid-19 explodiu em minha família – e no país

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      Maíra Vida: Advogada, Professora, Conselheira Estadual da OAB BA e Presidenta da Comissão Especial de Combate à Intolerância Religiosa (Foto: Angelino de Jesus)

      Do crente ao ateu, não faltam explicações para o racismo religioso no Brasil

      Foto: Deldebbio

      Prefeito de Duque de Caxias é investigado por intolerância religiosa a crenças de matriz africana

      FÁBIO VIEIRA/ESPECIAL METRÓPOLES

      Após ser alvo de ataques transfóbicos e racistas, Érika Hilton irá processar 50 pessoas

      A parlamentar Laetitia Avia propôs a nova nova lei, enquanto o primeiro-ministro Jean Castex foi ridicularizado por seu sotaque (GETTY IMAGES)

      Por que a França pode criminalizar a discriminação pelo sotaque

      Adolescente de 16 anos foi espancada pelo pai por ser lésbica, na Bahia — Foto: Divulgação/Polícia Civi

      Adolescente é espancada pelo pai na BA e relata que motivo é ela ser lésbica; avó da vítima denunciou homem à polícia

      (Jonathan Alcorn/AFP/)

      Painel trata combate ao racismo como exercício de cidadania e justiça

      Imagem: Geledes

      Racismo Estrutural – Banco é condenado a indenizar cliente por discriminação racial

      GettyImagesBank

      13 palavras e expressões da língua portuguesa para não usar mais

      Racismo e desigualdades: o que há de democrático na Covid-19?

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        A historiadora e militante negra Beatriz Nascimento (1942-1995), cuja vida e pensamento conduzem a narrativa do documentário 'Ôrí' (Foto: REPRODUÇÃO/ORI)

        Antes de ‘AmarElo’ de Emicida, estes documentários já contavam a trajetória do negro no Brasil

        Rainha Abla Pokou (Foto: Imagem retirada do site DW)

        Rainha Abla Pokou: Mãe do povo Baoulé da Costa do Marfim

        Jessica Ellen em foto de divulgação do single Pomba Gira (Foto: Gabriella Maria)

        Jéssica Ellen canta a Umbanda e celebra ancestralidade em ‘Macumbeira’: ‘Conexão espiritual’

        Tatiana Tibúrcio levou o prêmio APCA de Melhor Atriz por sua interpretação da doméstica Mirtes Souza, no especial 'Falas Negras' — Foto: TV Globo/Victor Pollak

        Tatiana Tibúrcio ganha o prêmio APCA de Melhor Atriz por atuação em ‘Falas Negras’

        Edneia Limeira dos Santos - Foto: Nego Júnior

        Samba Rock na Cidade de São Paulo: Uma Análise da Evolução do Gênero Desde os Anos 1970 nos Bailes Blacks, até o Registro Como Patrimônio Cultural Imaterial

        Francisco Ribeiro Eller (ou Chico Chico), 27 anos (Foto: Marina Zabenzi)

        Chicão, filho de Cássia Eller: ‘Batalha das minhas mães é parte do que sou’

        Elenco de 'Uma Noite em Miami' (Foto: Patti Perret/Amazon)

        ‘Uma Noite em Miami’: Regina King celebra o homem negro em encontro estelar

        O protagonista de "Os Intocáveis", Omar Sy, (Foto: Jordan Strauss/Invision/AP - Jordan Strauss)

        Além de Lupin: conheça a carreira de Omar Sy em 5 filmes

        O escritor nigeriano Wole Soyinka, durante visita ao Brasil em 2015 - Bruno Poletti/Folhapress

        ‘Aké’ é oportunidade de ler Wole Soyinka, um dos maiores nomes da África

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              EMICIDA: O bom moço do rap detona o preconceito dos colegas e o machismo no hip hop

              26/04/2011
              em Em Pauta
              Tempo de leitura: 23 min.

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              Leandro Roque de Oliveira, filho de dona Jacira. Ele jura ser um bom menino: não bebe, não fuma, sofreu bullying na infância por ser negro e pobre. Mas você o conhece por seu nome de guerra: Emicida, o matador de MCs. Apontado pela crítica como o mais importante nome do novo rap nacional, embarca este mês para rimar no prestigiado festival Coachella, na Califórnia. Mas parece que, quanto mais sucesso faz, menos é tolerado por seus colegas do rap.

              O rap brasileiro não é mais o mesmo desde que um rapaz paulistano, autoapelidado Emicida, apareceu afrontando um punhado de dogmas que seus colegas mais velhos acalentaram ao longo das últimas duas décadas. Nascido há 25 anos no Jardim Fontales, na zona norte sul paulistana, Leandro Roque de Oliveira é ambicioso, gosta de fazer sucesso e afirma pensar estrategicamente cada novo passo de sua carreira.
              Revelado como improvisador em batalhas de freestyle, pela rapidez de raciocínio e de rima que lhe valeu o codinome de “matador de MCs”, ele costuma aceitar de bom grado convites de impacto midiático, os mesmos que Mano Brown e os Racionais MCs se notabilizaram por recusar. Emicida atiça a intolerância de seus pares a cada vez que desobedece as normas do rap local, topando visitar o programa global de Jô Soares ou gravar rock adolescente com a banda NX Zero. “Traidor do rap” e “rapper de playboy” são acusações que ele já ouviu incontáveis vezes – seria Leandro não apenas “Emicida”, mas também um “rapcida” entranhado no hip hop paulistana?
              Entre suas façanhas mais recentes estão ter sido escalado para tocar no festival californiano de rock Coachella (em 15 de abril) e o lançamento de Rua Augusta. A música aborda o cotidiano das prostitutas de calçada, sob um ponto de vista mais próximo delas que de seus potenciais fregueses. O vídeo segue o dia a dia de Rosana, uma prostituta real da Vila Mimosa, no centro do Rio de Janeiro.
              “Eu vejo minha mãe e minhas irmãs nessas minas”, afirma Leandro, marido de Carolina e pai de Estela, 1 ano, divergindo da misoginia explícita do gangsta rap e de grupos brasileiros influenciados por aquela vertente. O exemplo, diz, vem de dentro de casa. A avó paterna foi assassinada pelo marido, seu avô, que comprara a futura esposa numa fazenda, quando ela tinha 12 anos. Alcoólatra, o pai de Leandro morreu cedo, como a maioria dos homens da família.
              Tolerância e intolerância vivem em constante embate no mundo de Emicida
              Evandro, seu irmão caçula, trabalha ao seu lado desde que Leandro virou Emicida e se destacou com as mixtapes Pra quem já mordeu um cachorro por comida, até que eu cheguei longe (2009) e Emicídio (2010), lançadas por sua produtora/gravadora/fábrica de CDs independentes, Laboratório Fantasma, localizada no bairro de Santana. Cada uma já vendeu cerca de 10 mil exemplares, produzidos e comercializados na base do faça-você-mesmo.

              Traumas do passado e circunstâncias do presente fazem de Leandro um rapper que dribla o excesso em sexo, drogas & rock’n’roll, como a Trip verificou ao acompanhá-lo numa noite de show ao lado da banda mato-grossense de rock Macaco Bong, no Studio SP, casa de shows de bandas independentes na rua Augusta. “Não falo de crime, trato mulher com respeito, eu sou evangélico”, ele brinca. “Se não falasse tanto palavrão, ia ser gospel fácil.”

              PATRULHA DOS PURISTAS

              Na manhã seguinte ao show da madrugada na rua Augusta, Leandro e sua mãe, Jacira, levam a reportagem da Trip para conhecer a casa dela no bairro de Vila Cachoeira, na serra da Cantareira. Com Jacira, acostumou-se a ouvir MPB. Seu pai biológico era DJ de bailes black. E o padrasto, vindo do campo, o ensinou a gostar de moda de viola. Jacira levava os filhos pequenos a cultos evangélicos, menos para rezar e mais para filar refeições em tempos mais duros. Hoje Emicida afirma que absorveu dos sermões dos pastores o poder de persuasão que usaria mais tarde no freestyle. Para desespero dos puristas, Emicida é um rapper que valoriza música sertaneja, MPB, funk carioca e pagode.
              Tolerância e intolerância vivem em constante embate no mundo de Emicida. Ora ele é patrulhado pelos puristas do rap, ora processa por discriminação racial um taxista que o chamou de “macaco”. Movimenta-se entre gêneros musicais e religiões. Ora ensaia discurso de respeito às mulheres, ora hesita em topar uma das propostas da Trip para a foto da capa, de vesti-lo numa camiseta com os dizeres: “Algumas pessoas são gays. Acostume-se”. Homossexualidade e homofobia são tabus ainda inexplorados pelo rap, e Leandro não peita a ousadia. “Todo mundo vai ver a foto, mas nem todo mundo vai ler a entrevista”, argumenta. Ainda assim, pede a camiseta de presente no fim do encontro, para, quem sabe, usá-la qualquer dia desses.
              (A conversa começa dentro do carro, perto da meia-noite, no caminho entre o Laboratório Fantasma e o Studio SP.)
              O que você sentiu gravando o vídeo de “Rua Augusta”?

              A gente adquiriu uma frieza, mas quando entrou na casa da Rosana e começou a conviver com ela foi foda. Ela saía do emprego às nove da manhã. A gente queria filmar o dia a dia fora do prostíbulo. A coisa ficou família, uma mulher cuidando do seu filho. Era mais fácil pegar uma atriz e fazê-la fingir que era puta, pôr ela fazendo pole-dance.
              [O carro passa pela Santa Ifigênia, rua comercial de São Paulo] Vila Mimosa é uma Santa Ifigênia do sexo, várias mulheres peladas, um bagulho pesado.

              Toda prostituta usa nome falso, mas ela usa o nome de verdade, por quê? “Porque toda semana eu vejo uma mina dessas ser morta. Se meu nome é Rosana e eu falar que chamo Natasha, como vão avisar meu filho que eu morri?”
              (Emicida vai se preparar para o show. O novo encontro acontece na manhã seguinte, no Laboratório Fantasma. A conversa começa no carro, com a presença de sua mãe, e continua na casa de Jacira, na Vila Cachoeira.)

              Como vai o Pai Leandro?
              Pai Leandro vai ausente. Minha filha tá com 1 ano e 2 meses já, tá falando pra caralho, falando e correndo. Tá grandona.

              Como assim?

              Muito do hip hop brasileiro foi desrespeitoso com as mulheres, por muito tempo.

              Por que você é diferente?
              Eu vejo minha mãe e minhas irmãs nas minas. Então procuro respeitar. É a maior burrice, que vem de reproduzir uma cultura lá de fora, dos caras que chamam menina de puta, vadia. Parece que o rapper nasceu de inseminação artificial. [O carro entra na rua Augusta, Leandro aponta as meninas na calçada] Viu as meninas cheirando cocaína no meio da rua, aqui do lado? A Rosana contou uma pá de barato, sobre as minas que morreram. Falou de uma amiga dela que foi encontrada mutilada, esfaqueada, num hotel. A história mais triste que ela falou é que o nome dela realmente é Rosana.

              Por que pesado?
              Você entra num lugar e vê umas tiazinhas de 60 anos e umas minas de 14, peladas. Várias minas tão bem loucas desde cedo, é droga pra caralho. É foda pra mim, eu fui criado por uma família de mulher, então vejo muito as angústias das mulheres. É minha mãe, minhas duas irmãs, cinco ou seis tias e minha avó. Todos os homens da minha família morreram, só tem o Evandro e alguns primos. Toda vez que vejo uma mina nessa situação, não vejo a parada rasa, a mina ali com uma roupa de puta. Imagino: “Quando acabar essa porra essa menina vai voltar pra onde?”. Sei lá se ela tem casa, família, se o pai bate nela ou abusa dela, se ela tá ali porque gosta ou porque precisa.
              Por que você foi pai tão jovem?
              Por quê? Pobre acontece, né? No começo tomei maior sustão, mas pensei: “Não vai ser nada mais difícil do que eu já tenha visto nesta vida, então vamos aí”. Ela nasceu num momento complicadíssimo. Eu tinha condição de cuidar dela, mas não podia e não posso estar lá. Todo dia tem um mundão de coisa pra fazer.

              “Rua Augusta” faz você pensar na sua filha também?
              Tudo tá ligado. As angústias, sofrimentos, as metamorfoses das mulheres, é tudo muito parecido. A Rosana é uma mulher comum, e todas são. Da Rosana até a Lady Gaga, todas têm TPM, até a rainha Elizabeth. Os caras me zoam porque tenho uma filha: “Agora você vai pagar seus pecados, tudo que aprontou”.
              Mas você parece ser um cara bem-comportado.Eu sou um cara bem-comportado.
              Ontem, no show, ofereciam cerveja e você recusava. Era porque estava trabalhando?
              Não, eu sou assim. E você me pegou num dia bom, tem vários dias que os caras chegam com baseado desse tamanho. “Trouxe lá de Salvador pra você, é da pura.” “Não, cara, eu não fumo.” “Mas pega.” “Não.” [Jacira ri].
              Você não fuma nem bebe nada?
              Nada. Mas eu tenho um hábito bizarro, viajo pros lugares e trago sempre uma garrafa de cachaça. Guardo em casa. Outro dia, dei uma bicada numa que devia vir com caveira no rótulo, porque mata, o olho encheu de lágrima na hora. O que destruiu todos os homens da minha família foi a cachaça, tá ligado? Meu pai, meu tio, meu vô. Tenho trauma. Quando vejo as pessoas bebendo não vejo um bagulho de celebração. Eu vejo: essa porra vai matar você.

              Isso vale pra outras drogas?
              Também. Tenho a maior raiva de bêbado. Tipo ontem no show. Eu tava lá, colou uma mina e começou a cantar um refrão meu.
              “Chamam mina de puta, vadia. Parece que o rapper nasceu de inseminação artificial”
              Era uma loira?
              É, a loira, tá ligado? Ela falou assim: “Por que você ficou tão marrento depois que foi no Jô Soares?”. Olhei pro meu camarada e falei alto: “A mina tá bem louca, entra na conversa dos outros e vem falar bosta pra mim”. E ela [faz voz bêbada]: “Eu não tô bem louca, não!”.

              Ela foi embora depois?
              Foi nada, mano, ficou me chamando pra ir pra casa dela. Grudou dum jeito… E aí começou a contar da vida dela, entrou numa deprê, sentou lá e começou a falar: “Eu tenho uma filha de 3 anos, meu marido me abandonou”. Aí, puta, mano, essas histórias me cortam o coração.

              A bêbada chata vira um ser humano…
              Vira um ser humano! Aí eu quis ouvir a história, puta que pariu, peguei um afeto por essa desgraçada. Tô com dó dela agora, tadinha.

              Que rapper é esse que evita sexo, drogas e rock?
              Total, não fala de crime, trata mulher com respeito. Eu sou… Eu sou evangélico. Sou gospel. Sou semievangélico, se eu não falasse tanto palavrão, ia ser gospel fácil. Mas a mina lá foi embora com outro, não tem nada a ver comigo. Eu sou só um símbolo que ela tá vendo, ela quer falar pras amigas que tá dando pra um cara que é famoso. É a mina que vai engravidar e vai ter uma pensão alimentícia do maluco.

              Tem gente que vira artista por isso…
              Sou friozão. Passo tranquilão no meio do inferno e saio do outro lado lá. Tenho um relacionamento difícil com várias pessoas por isso, inclusive com a minha mina. Vou num lugar, tá tendo o coquetel da revista Sexy, várias minas em trajes sumários. Só que eu tenho uma missão, sou um soldado. Não me perco no caminho. Esse negócio de Emicida só existe na cabeça das pessoas. Vejo como se eu trabalhasse pro Emicida. Não tem nada de vida de artista, ficar massageando o ego, “fui no Jô Soares”.
              Cobram muito de você por isso?
              É muito louco o impacto da Globo. Tem lugar que vou e as pessoas perguntam mais da Afrodite [cadela de Emicida] do que de mim, por causa do Jô Soares. O garçom lá em Santa Catarina: “Você mordeu o cachorro mesmo?”.

              Você mordeu?
              Mordi, cara. Minha mãe trabalhava de empregada doméstica, a gente não tinha grana pra nada. À tarde, o que tinha pra comer eram dois pães, que a gente cortava no meio e cada irmão comia metade. Um dia eu tava comendo e vendo TV, e a Afrodite veio e comeu num bocado só. Fiquei puto, puxei ela aqui e dei uma mordida nela. Aí comecei a refletir: caralho, que situação foda, você morder um cachorro porque ele comeu o único pedaço de pão que você tinha. Graças a Deus virou piada, mas foi foda. Por isso eu coloquei na capa do disco.

              Você sofria bullying na infância?
              Sempre. Me zoavam porque eu não tinha pai, porque eu não tinha meias, porque eu era preto. Mesmo em escola de quebrada, tive o azar de ser o único negro. Até tinha outros, mas que não se comportavam como pretos, meninas que alisavam o cabelo. Era “cabelo de bombril”, “macaco”, até a professora dava risada.

              Você conta que aprendeu a fazer rap com um pastor, quando era pequeno e frequentava a igreja.
              É, eu venho dessa linhagem aí. Eu achava a macumba mais divertida, ficava ligado no batuque, mas o texto dos pastores influenciou meu freestyle, esse lance de persuadir as pessoas.

              Jacira: Nós éramos integrantes da Igreja católica e do Movimento Sem-Terra. Já dormi muito em acampamento sem-terra com esses meninos. Eu era católica porque minha mãe era, toda a vida achei um saco. Um dia chutei o pau da barraca. Fazia parte do grupo Filhas de Maria, mandei todo mundo pra casa do caralho, tinha umas saias compridas, cortei e de cada saia fiz três. Aí fomos pra Universal.

              Jacira: O pai dele era disc jockey. Ele não conseguia baile pra fazer, começou a trabalhar como metalúrgico, depois a pegar ferro-velho na rua. Aí começou a beber.

              Jacira: Logo a mãe dele faleceu. Meu sogro era muito violento, matou minha sogra. Tive uma cunhada que não morreu porque fugiu, mas abortou três vezes, porque meu cunhado chutava a barriga dela, coisas desse tipo.
              Emicida: Colou nos espíritos sem luz.
              Emicida: Assim que meu pai morreu a gente colava nesse bagulho, mais porque depois do culto sempre rolava um rango.
              E o seu padrasto?
              Seu Eduardo é um maluco da hora. Tive meus desentendimentos com ele na adolescência, mas hoje o vejo na minha escola musical. Ele trouxe esses discos de moda de viola, por ser homem de campo. Só dei valor pra Chitãozinho & Xororó, Zezé di Camargo & Luciano quando conheci as paradas do seu Eduardo.
              Qual é a história do Seu Eduardo com funerária?
              Ele dava flores pra minha mãe, chegava todo dia com um maço de rosas, que homem romântico. Aí descobrimos que ele trabalhava na funerária, começamos a falar que ele arrancava flor do caixão… Minha escola musical foi essa aí, minha mãe escutava essas músicas de MPB, de dor de cotovelo. E as modas de viola do seu Eduardo eram sofridas pra caralho, mas tem a maior semelhança com o rap.

              Você acha? Nunca imaginei.
              Porra, os caras da moda de viola gostavam de dar umas ideias firmeza: “Mundo velho não tem jeito, já não endireita mais/ os filhos de hoje em dia já não obedecem os pais/ é o começo do fim, já estou vendo sinais/ metade da mocidade estão virando marginais” [versos de “A vaca foi pro brejo”, de Tião Carreiro & Pardinho]. Era uma coisa de alertar a sociedade, o rap também tinha essa postura.

              Por que você gravou uma música com o NX Zero?
              Porque eu gosto de NX Zero. Podem achar que traí o rap, mas eu gosto do NX Zero, eles me convidaram, qual o problema? Gravar com eles ampliou meu público, eu quero ser conhecido. Eu penso estrategicamente, não tenho culpa se os caras do rap não fazem isso. A gente tem três músicas de periferia hoje no Brasil: o rap, o funk e o tecnobrega do Pará. Um dia vai ter que unificar tudo isso, porque é tudo a mesma coisa, música de periferia.

              Você faria um rap misturado com funk?
              Faria. Nem toda letra de funk presta, mas o som do funk é bom, é cheio de batida, de batuque. Eu não acho ruim pensar minha carreira estrategicamente. O rap nacional nunca teve um boom comercial porque não tem um grupo de rap que seja autêntico e ao mesmo tempo seja comercialmente viável pras gravadoras. O único cara que foi longe foi o Marcelo D2. São Paulo é a terra do rap no Brasil, mas tirando Racionais não tem um grupo de expressão monstruosa. Os rappers que têm uma disseminação maior são todos do Rio, D2, Gabriel o Pensador, MV Bill. Um amigo da minha mãe falou: “O que eu gosto do seu rap é que ele foge desses racionaisismos”. Ele fala como se fosse uma religião, o “racionaisismo”. Os Racionais têm um peso ideológico foda pra nós, é a nossa história, mas até hoje o argumento mais forte deles é que não vão na mídia. E eu, cada vez que vou, sou apedrejado, como se eu fosse o Mano Brown, como se eu tivesse dito as coisas que ele diz. Nas favelas a regra é essa, os caras me cobravam: “Mas não tem o pacto dos rappers de não ir na mídia?”. Que pacto, mano?

              Você acha que tem que ir à mídia?
              Porra, lógico, cara. Você tem que ir onde tem respeito, onde as pessoas falam com você. Tipo, sou preto de favela, quero mudar essa situação e não vou lá falar com as pessoas do outro lado, vou ficar aqui reclamando? Nem fodendo.
              “Podem achar que eu traí o rap, mas eu gosto do NX Zero, quero ser conhecido”
              Você compra briga com o rap tradicional falando isso?
              Não, eu compro uma briga com os caras hipócritas do rap tradicional. Todo mundo sabe que a coisa tem que andar e para isso acontecer a gente tem que dialogar. Você vive uma situação que te impulsiona a escrever uma música falando da pobreza. Assinou um contrato, vendeu disco, fez show, ganhou dinheiro. Na segunda parte, quando era necessário mostrar que conseguiu um progresso que não é do crime, você esconde aquilo e repete a dose da pobreza. As pessoas compram de novo, porque adoram o sofrimento, mas já não é a sua realidade, é mecânico. De repente, o rap virou um partido político.

              De esquerda ou de direita?
              De esquerda, mas que não funciona. Um mano meu diz que Karl Marx é foda, mas os marxistas são uma bosta. Aconteceu isso com o rap, a ideologia é foda, mas quem põe ela em prática tá fodendo ela.

              Se olhar pelo ponto de vista deles, talvez entendam você como uma diluição do rap, “o cara se vendeu”.
              Sim, para algumas pessoas sim. A minha única diferença é que tenho esse pensamento estratégico muito bom. Tento construir coisas que gerem mais coisas pro próprio rap, embora eu não me sinta muito à vontade quando as pessoas obrigam a gente a estar vinculado ao social. Quem tem obrigação de mudar essa porra é o governo, não é grupo de rap.

              Você fica à vontade tocando em clubes de playboy?
              Eu vejo cara na internet dizendo que eu canto pros caras que me discriminaram a vida inteira. Isso é um argumento muito vazio. Sou filho adotivo dum branco. Minha mãe trampava de empregada, eu ia com ela lá nas mansões. Eu achava do caralho. Era favelado só durante a noite, durante o dia eu morava em casa de rico [risos]. Minha mãe trampou pra patrão cuzão, mas também pra arquiteto que deixava eu ficar desenhando. Via escultura, tinha livro pra caralho, podia ficar vendo TV a cabo.

              Mas como é tocar para esse público?
              Tem uns momentos que entro num conflito, mas sinto que esse conflito é por causa do rap, não por eu estar num lugar estranho. Não posso escolher quem compra meus CDs e vai no meu show. Se eu for tocar no Japão o que eu vou fazer? Vou mandar importar uns pretos? Durante muito tempo eu fiquei no maior pé-atrás pra falar do que faço, dizia “a gente lançou um CDzinho aí” como se tivesse pedindo pras pessoas olharem pra nós por essa ótica do sofrimento mesmo. Não, mano, a gente é foda, vai fazer um CD e ele vai vender no mínimo 20 mil cópias. Por quê? Porque a gente sabe trabalhar direito. Eu tinha medo de declarar isso, mas comecei a me livrar dessa parada. E os caras começaram a dizer que eu fiquei marrento. Porque fiquei famoso eu tô esnobe? Não é ser esnobe, eu falo do que faço. Aí me olham e me chamam de moleque de apartamento. Na cabeça de vários caras do rap, o rap que eu faço é de boy porque é inteligente.

              Mas você reclamou que não tinha muitos pretos no show ontem.
              Estranho muito mais pela plástica da coisa, porque a gente tá adequado a ver vários pretos num show de rap mesmo. Quando subo e vejo vários brancos me dá um baque, mas tiro maior onda, não é um bagulho que me agride. Duas horas antes eu tava na Transamérica cantando com NX Zero, tinha várias loirinhas gritando: “Emicida!”. Acho do caralho. Domingo a gente vai estar aqui na quebrada, no Cachoeirinha, no pé da favela. Ali vai ter boy, maloqueiro, ladrão, todo mundo vai. Tem gente que sai de Alphaville pra vir aqui, isso é do caralho.
              O rap brasileiro nasceu lutando contra o racismo, mas era também misógino, homofóbico. Emicida é rapper, logo…… 
              Emicida é a contramão de várias dessas coisas aí. Mas, vou te falar uma parada, o rap não nasceu combatendo o racismo. O primeiro rap era de festa: “Fiquei sabendo, tem um tal de Pepeu/ que canta rap bem melhor do que eu”. Mas aí sabe o que aconteceu? Chegou NWA, Public Enemy, o rap gringo de protesto. Levou-se pra um lado consciente e daí foi pra um lado gangsta. Em 2000 veio o boom comercial com Jay-Z, rapper milionário. A gente tá sendo tão ridículo quanto os gringos, pegando o que há de pior no rap lá de fora, a casca. Rihanna apanha do namorado, quer processar, mas ela mesma se porta como puta. Do jeito que elas admitem ser tratadas, elas tão sendo agredidas de outra forma. Você cria uma sociedade doente.

              Misoginia e homofobia foram importadas também ou a gente é assim?
              Cara, isso não é do rap, vem da sociedade, e muito mais da sociedade de São Paulo. No Rio vejo mais respeito pelo homossexual, embora São Paulo tenha a maior Parada Gay do mundo. No resto do ano é notícia de agressão.

              Você faria um rap sobre homofobia?
              Nunca pensei nisso. Mas na verdade nunca fiz um rap falando nem de preconceito racial.

              Mas você fala de preconceito racial da música “Quero Ver Quarta-Feira”, com a Mart’nália.
              Sim. Nenhum tipo de discriminação é novidade pras pessoas. Processei um maluco por racismo. Ele implorou, ajoelhou pra mim, e eu achei da hora [risos]. Depois não levei pra frente, ia ter que faltar nos shows pra pôr o cara na cadeia. Só a dor de cabeça que dei no filho da puta, de ver ele chorando, já deu a lição. Fora que a polícia não registra BO de racismo. Não registra porque é inafiançável, se registrar tem que prender e, se prender, tem que trabalhar.

              Qual foi o caso?
              Eu e a Carolina pegamos um táxi, descemos na rodoviária Tietê, fui pagar, o maluco falou que o dinheiro era falso. Dei outra nota, ele falou que era falsa. “Pô, mano, só tenho essas duas notas.” Ele começou a falar uma pá de bosta, a resmungar: “E aí, vai querer debater, macaco?”. O segurança da rodoviária disse: “Desce daí, eu vi, isso é racismo, você vai ser preso”.

              O segurança era negro?
              Não, era branco, é importante ressaltar. O polícia era preto, não ouviu porra nenhuma. Ficamos seis horas na delegacia, o maluco começou a implorar, falou que tinha um sobrinho que era preto. “Vamos fingir que não aconteceu nada.” “Não, vou te foder pra você aprender.” Aí ele ajoelhou e começou a chorar, minha mina chorando também: “Ele tá pedindo perdão”. Eu gosto, ele tem que ser colocado nessa posição mesmo, de humilhado. Pode crer, não somos racistas, não, como diz o livro do Ali Kamel…

              Você diz que rap, funk e tecnobrega deveriam se unir. O preto, a mulher e o gay não deveriam trabalhar juntos contra o preconceito?
              Total, você falou da melhor forma.

              Defender a homossexualidade no rap é um tabu.
              MV Bill já deu essa ideia, mas as pessoas fingem que não ouvem. Helião falou da burrice do rap em “O mensageiro”: “Vejo nos bailes rap milhares de pessoas/ não conquistamos o respeito, nem com festas boas”. Sei todos os raps de cor.

              “Emicida” é “o matador de MCs”. Você está comendo o rap por dentro?
              Acho que sim, acho que a gente é a maior bandeira dessa revolução hoje. Eu sou o maior nome dessa nova fase, dessa nova safra do rap.

              Você vai matar o rap?
              O que os caras vão fazer da música deles eu não sei, mas eu vou cantar com [a sambista] Fabiana Cozza e me sinto pequeno. Não quero me sentir pequeno. Por isso falo que não sei se o que vou fazer vai ser chamado de rap ou se vai ser rap. Falam que Gabriel o Pensador não é rap. Pra mim é, e um dos mais fodas que tem. A favela adora ele, sabe por quê? Porque ele é sincero na música dele, não tá de patifaria.
              Engraçado. Pra mim é como se ele soasse falso…
              A imprensa espera o aval do rap de São Paulo sobre tudo que é feito de rap fora de São Paulo, e o rap de São Paulo não vai assumir que Gabriel o Pensador é foda. Todo mundo fala de preconceito de preto, mas propaga essa porra de piada de loira. Olha, te digo que sou gay, mas tenho medo de falar isso pra vocês.[Irônico] Não tava ligado nisso aí, não, mano, não olha mais pra mim! [Risos, Jacira gargalha.] Tenho vários camaradas que são gays. Se for com base nisso aí os caras que devia odiar são os héteros, que vivem fazendo bosta.

              Para terminar, qual é a sua religião?
              Sou uma mistura de todas. Admiro budismo. Respeito candomblé. Mas minha doutrina de vida é respeitar essas coisas todas. Se fosse ter uma religião, seria respeitar a natureza, interferir o mínimo possível no que tá ao meu redor.

              Revista Trip

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              • "O artigo inicia-se a partir do conceito de cultura no sentido geral, antropológico. Entre os tantos termos que são utilizados para definição de cultura. Neste artigo, cultura será analisada por meio dos próprios atores que a promovem, nas esferas sociais e políticas. Além disso, por ser o samba rock uma manifestação cultural contemporânea e em avanço, foi analisado o conceito de que para uma cultura em observação, as variáveis são muitas e estão em pleno acontecimento, construção e evolução." Leia o Guest Post de Edneia Limeira em www.geledes.org.br
              • A coluna NOSSAS HISTÓRIAS desta quarta-feira vem com a assinatura da historiadora Iracélli da Cruz Alves! O tema “Mulheres negras, política e cultura do cancelamento no Brasil republicano” é abordado no artigo e no vídeo nos quais ela oferece reflexões a partir de registros da atuação de mulheres negras integrantes do Partido Comunista Brasileiro (PCB) na década de 1940! Confira um trecho: “O que essas mulheres têm em comum? Todas eram comunistas, trabalhadoras e muito provavelmente negras, como é perceptível nas poucas imagens que até hoje encontrei. Além disso, não podemos esquecer que a classe trabalhadora brasileira tem sido majoritariamente negra, o que aumenta a probabilidade de essa pressuposição fazer sentido para os casos em que não acessei registros fotográficos. Outro ponto em comum em suas trajetórias é que todas participaram ativamente da vida política do país em meados do século XX, atuando significativamente no partido no qual escolheram militar. No entanto, foram praticamente esquecidas (ou silenciadas?) tanto pela historiografia política do Brasil quanto pelas narrativas históricas sobre o PCB. Os nomes delas, na maioria das vezes, nem sequer são citados.” Leia todo o artigo no Geledés: https://www.geledes.org.br/mulheres-negras-politica-e-cultura-do-cancelamento-no-brasil-republicano/ Veja o vídeo no Acervo Cultne: https://youtu.be/pS35-3RuNMc
              • Já que o mundo está em medida de contenção social, acredito estar diante de um dos maiores desafios que o ser humano possa receber da vida, que é o de ter a oportunidade de ficar sozinho e explorar a sua consciência, conhecer quem é essa pessoa que cohabita em meu corpo, ou seja tentar descobrir quem “eu dentro de mim”. Leia o Guest Post de Tatiane Cristina Nicomedio dos Santos em: www.geledes.org.br
              • Enfermeira Monica Calazans, primeira pessoa vacinada em território nacional
              • "Escolhi parafrasear no título do presente guest post a escritora brasileira, Conceição Evaristo, que constrói contos e poemas reveladores da condição da população negra no país. A intelectual operaciona a categoria de “escrevivência”, através de uma escrita que narra o cotidiano, as lembranças e as experiências do outro, mas sobretudo, a sua própria, propagando os sentimentos, as lutas, as alegrias e resistências de um povo cujas vozes são silenciadas." Leia o Guest Post de Ana Paula Batista da Silva Cruz em: www.geledes.org.br
              • ✊🏾 1960-1970: Grupo Palmares de Porto Alegre e a afirmação do Dia da Consciência Negra ✊🏾 Está disponível mais uma sala da Exposição “20 de Novembro - Dia Nacional da Consciência Negra” no Google Arts & Culture! Link: https://artsandculture.google.com/culturalinstitute/beta/u/4/exhibit/1960-1970-grupo-palmares-de-porto-alegre-e-a-afirma%C3%A7%C3%A3o-do-dia-da-consci%C3%AAncia-negra/tgLSJakjmcizKA 🙌🏿 Esta sala é especialmente dedicada à movimentação do Grupo Palmares em Porto Alegre, fundado em 1971, afirmando o Vinte de Novembro como Dia da Consciência Negra. Em 2021, o Vinte completa 50 anos! Conecte-se ao compromisso de ativistas negros e negras gaúchas em defesa de uma história justa sobre as lutas negras por liberdade por meio de depoimentos, fotografias, poemas, anotações, cartas, entre outros documentos. Vamos junt@s! 🖤 O material pode ser acessado em português e inglês e é mais um resultado da parceria entre a Rede de HistoriadorXs NegrXs(@historiadorxsnegrxs , Geledés Instituto da Mulher Nega e o Acervo Cultne! (@cultne) 🎉 Ao longo de todo 2021, muitas outras “Nossas Histórias” sobre vidas, lutas e saberes da gente negra serão contadas em salas de exposições virtuais!
              • "A história do indigenismo no século XIX tem importantes pontos de conexão com a história do tráfico escravista. A investigação dessas conexões permite compreender como possibilidades de branqueamento foram projetadas na nação brasileira, para além da mais conhecida: a imigração europeia ocorrida entre o último quartel do século XIX e 1930." Leia o artigo do historiador Samuel Rocha Ferreira publicado na coluna “Nossas Histórias” **A coluna “Nossas Histórias” é uma realização da Rede de Historiadoras Negras e Historiadores Negros em parceira com o Portal Geledés e o Acervo Cultne.
              • "Afirmar que este ano foi ganho para a EDUCAÇÃO parece beirar à cegueira. Escolas fechadas, estudantes, professores, gestores todos os servidores em casa e sem aulas presenciais." Leia o Guest Post de Jocivaldo dos Anjos em: www.geledes.org.br
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              Geledés Instituto da Mulher Negra

              GELEDÉS Instituto da Mulher Negra fundada em 30 de abril de 1988. É uma organização da sociedade civil que se posiciona em defesa de mulheres e negros por entender que esses dois segmentos sociais padecem de desvantagens e discriminações no acesso às oportunidades sociais em função do racismo e do sexismo vigentes na sociedade brasileira.

              Fique em casa

              A historiadora e militante negra Beatriz Nascimento (1942-1995), cuja vida e pensamento conduzem a narrativa do documentário 'Ôrí' (Foto: REPRODUÇÃO/ORI)

              Antes de ‘AmarElo’ de Emicida, estes documentários já contavam a trajetória do negro no Brasil

              23/01/2021
              Imagem: Júlia Rodrigues/Divulgação

              Emicida e o direito de sermos quem somos

              23/01/2021
              Rainha Abla Pokou (Foto: Imagem retirada do site DW)

              Rainha Abla Pokou: Mãe do povo Baoulé da Costa do Marfim

              23/01/2021

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