Empresas ainda falham em garantir diversidade em cargos de liderança, diz levantamento

Postos de entrada são mais diversos, mas chefias e conselhos seguem brancos e masculinos

FONTEFolha de São Paulo, por Ana Beatriz Garcia
Funcionários de empresas diversas são mais felizes, segundo estudo da McKinsey - AnnaStills/Adobe Stock

Parte das maiores empresas e entidades financeiras do país avançou na diversidade de contratação, mas cargos de escalão mais altos continuam sendo majoritariamente ocupados por homens brancos. As suas lideranças, no entanto, estão mais convencidas de que isso precisa mudar.

É o que mostra levantamento do Instituto Ethos divulgado nesta quarta-feira (18), o “Perfil Social, Racial e de Gênero das 1.100 Maiores Empresas do Brasil e Suas Ações Afirmativas 2023/2024”. Realizado desde 2001, o estudo abrange aspectos de diversidade, equidade e inclusão em grandes empregadores do país e chega em 2024 à sua sétima edição, feita pelo Ipec.

Responderam aos questionários 131 empresas e instituições financeiras do ranking das mil maiores empresas e 100 maiores instituições financeiras do Brasil elaborado pelo veículo Valor Econômico em 2022. As participantes empregam conjuntamente 1,1 milhão de pessoas.

O estudo concluiu que, embora a representatividade tenha avançado em cargos de entrada, como estagiários, aprendizes e trainees, mulheres ainda são menos do que um quinto nos conselhos de administração das empresas analisadas, e pessoas negras não chegam nem a 10%.

O número de mulheres nos conselhos de administração, por exemplo, aumentou de 11% em 2015 para 18,6% em 2023. No Quadro Executivo, o número no período foi de 13,6% para 27,4%. Nos quadros de supervisão, chefia e coordenação, o índice caiu dois décimos, indo para 38,6% com relação a 2015.

Apesar da melhora em alguns aspectos, os índices estão longe da divisão igualitária nas cadeiras entre homens e mulheres.

É o que o relatório chama de “afunilamento hierárquico” —a maior dificuldade de alcançar níveis satisfatórios de diversidade em cargos mais avançados na “escada corporativa”. A expressão também se aplica a outros marcadores sociais, como cor e raça, orientação sexual e deficiências físicas.

Quando o recorte abrange cor e raça, a desigualdade é ainda maior. Nos conselhos de administração, o percentual de pessoas brancas é de 93,8%, frente a 5,9% de pessoas negras, 0,2% de pessoas amarelas e 0,2% de pessoas indígenas. Para Quadro Executivo e Diretoria, são 84% de pessoas brancas nos cargos, contra 13,8% de negras, 2,2% de amarelas e 0,1% indígenas.

As pessoas indígenas não atingem nem 1% dos cargos em nenhuma das categorias das pessoas empregadas.

Para Ana Lucia Melo, diretora-adjunta do Instituto Ethos, o avanço identificado foi a preocupação das lideranças com a mudança no perfil de funcionários das empresas.

“Em 2016, chamou atenção negativamente o fato de as lideranças estarem ‘satisfeitas’ com a ausência dessa diversidade nos níveis hierárquicos mais altos, especialmente no espaço de tomada de decisão. Hoje, isso mudou, houve ganho na consciência”, afirma Ana Lucia.

A pesquisa identificou que, entre as principais lideranças executivas inquiridas, 69,7% acreditava que havia menos mulheres do que o ideal nos conselhos de administração. Para os cargos executivos e de diretoria, o número foi de 66,7%, um aumento em relação a 2010, quando o indicador marcou 55,2% A pergunta sobre os conselhos de administração foi novidade dessa edição da pesquisa.

Com relação às pessoas negras em cada nível hierárquico, a percepção também se mantém: 86,9% acham que pessoas negras estão subrepresentadas nos conselhos, e 86% acreditam que isso ocorre nos quadros executivos e cargos de diretoria (em 2010, eram 54,3%).

“O Brasil já foi o país que acreditava na democracia racial. Hoje isso é refutado. Há nove anos, víamos que as lideranças empresariais não se incomodavam com não haver mulheres, pessoas negras, pessoas com deficiência nos espaços de liderança. Hoje, isso mudou, e aumentou nossa expectativa sobre o quanto essa mudança de percepção vai impactar a mudança dessa demografia daqui para frente”, ressalta Melo.

Para ela, o desafio, hoje, é o ritmo desses avanços e a dimensão interseccional.

“Precisamos ganhar em celeridade, porque há um risco de a questão da agenda de diversidade ser tratada como onda passageira. Isso precisa ser feito, e não ficar só no campo do compromisso, visão, discurso. Assim, o impacto será não só na composição das empresas, mas também na qualidade do emprego e nas condições de vida dessas populações”, afirma.

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