Enfermeiro sofre racismo durante vacinação contra Covid no PI: ‘me senti constrangido, mas sei quem eu sou’, diz vítima

A vítima registrou um boletim de ocorrência na Delegacia de Direitos Humanos. A Fundação Municipal de Saúde (FMS) informou que comunicará o caso ao Ministério Público.

FONTEPor Laura Moura, do G1
Delegacia de Direitos Humanos, em Teresina. (Foto: Lucas Pessoa/G1)

Um enfermeiro de 27 anos foi vítima de racismo pela mãe de uma paciente durante a vacinação contra a Covid-19 na Universidade Federal do Piauí (UFPI), em Teresina. O caso ocorreu na manhã desta sexta-feira (13).

A mãe da paciente havia agendado a vacinação da filha no local para hoje. A paciente possuía a segunda dose da vacina marcada para a próxima segunda-feira (16). Entretanto, nessa semana, a Fundação Municipal de Saúde (FMS) está aplicando o imunizante naquelas pessoas que possuem a segunda dose marcada até domingo (15).

Os profissionais de saúde explicaram para a mãe da paciente que ela não poderia receber o imunizante. A mulher, então, apresentou uma declaração comprovando que a filha era dependente química. Por este motivo, a equipe autorizou a aplicação da segunda dose.

No momento da vacinação, a mãe da paciente perguntou quem seria o responsável pela aplicação. O enfermeiro respondeu que seria ele e mais duas profissionais de saúde. Em seguida, ela questionou quem era o superior da sala de imunização. A vítima era o profissional responsável pela vacinação contra a Covid-19 na UFPI nesta sexta (13).

“Ela perguntou se eu era o superior e eu disse que sim. Depois, ela questionou com tom de deboche ‘Você?’. Eu perguntei se era pelo fato de eu ser negro e ela respondeu ‘Sim. E você é médico?’. A mulher chegou a proferir diversas palavras de baixo calão contra a equipe“, disse a vítima ao G1.

O profissional comentou sobre o que sentiu no momento em que sofreu discriminação. “Em pleno século 21, as pessoas pensarem dessa forma é triste. Me senti constrangido no momento, em choque, mas sei quem eu sou e o quanto eu batalhei para conseguir o que tenho hoje”, disse.

Profissionais de saúde fizeram cartazes em apoio ao enfermeiro (Foto: Imagem retirada do site G1)

O enfermeiro registrou um boletim de ocorrência na Delegacia de Direitos Humanos. O caso será investigado pela Polícia Civil do Piauí.

Protesto e FMS se pronuncia

Colegas de trabalho do enfermeiro gravaram um vídeo protestando contra o que aconteceu com ele. “Não aceitamos discriminação de forma alguma. Racismo não. Estamos aqui e queremos respeito em nosso trabalho. Nós já aguentamos muita coisa e agora racismo? Chega, né”, afirmaram os profissionais.

A FMS informou, através de nota, que comunicará o caso ao Ministério Público para as providências legais cabíveis e que o servidor está recebendo todo o suporte jurídico necessário. Veja a nota ao fim da reportagem.

Confira a nota da FMS:

A Fundação Municipal de Saúde (FMS) informa que repudia totalmente qualquer tipo de discriminação. Na manhã de hoje (13), um servidor da FMS foi vítima de conduta discriminatória em serviço. O enfermeiro de 27 anos estava na equipe de vacinação contra a covid quando foi agredido verbalmente por um paciente que agendou o recebimento do imunizante para a Universidade Federal do Piauí, que afirmou que não tomaria a vacina aplicada por um negro, o que configura crime de racismo. A procuradoria jurídica da FMS orientou o envio de notícia-crime à Delegacia de Direitos Humanos. O servidor terá todo suporte jurídico por parte da instituição, que dará ciência ao Ministério Público para as providências legais cabíveis na área criminal.

A FMS ressalta que racismo é crime inafiançável tipificado na Lei 7.716 de janeiro/1989 e que punível por reclusão.

O presidente da FMS, Gilberto Albuquerque, ressalta que a instituição fornecerá todo suporte que o servidor necessitar. Gilberto Albuquerque. Gilberto agradece o empenho e dedicação de toda a equipe da FMS que tem trabalhado incansavelmente para que a população de Teresina seja imunizada e receba todo o suporte de saúde quando for necessário.

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