Equidade de gênero ainda é realidade distante na ciência, afirmam especialistas

Representatividade de mulheres na ciência foi tema da mesa 'A ciência tem rosto de mulher', que contou com a participação de Jaqueline Goes de Jesus, Margareth Dalcolmo e Simone Olenk Albiero no Power Trip Summit, de Marie Claire

FONTEPor Juliana Faddul, da Revista Marie Claire
Natacha Cortêz, Simone Olenk Albiero, Jaqueline Goes de Jesus e Margareth Dalcolmo debatem sobre a mulher na ciência brasileira (Foto: Bléia Campos)

Por décadas (talvez séculos) a palavra “ciência” vinha acompanhada com uma aura densa e, em muitos casos, como algo que antecipava discursos didáticos e pedantes. No entanto, a pandemia obrigou que a população se interessasse pelo tema – e os cientistas, que falassem de uma forma mais compreensível.

“Sempre tivemos relação preconceituosa com a imprensa, mas ela teve um comportamento impecável [na pandemia]. Ela tomou um lado, o lado certo, que é o lado da ciência”, diz a pneumologista e pesquisadora da Fiocruz Margareth Dalcomo na mesa A ciência tem rosto de mulher no primeiro dia da 7ª edição do Power Trip Summit, realizado por Marie Claire.

Margareth, assim como outras cientistas, médicas e biólogas, conquistaram da noite para o dia o estrelato por conta de suas contribuições para a ciência. “Quando aconteceu o boom do sequenciamento eu passei de mil seguidores para 180 mil da noite pro dia”, relembra a biomédica Jaqueline Goes de Jesus, na mesa mediada por Natacha Cortêz, editora executiva de Marie Claire.

Por ser uma mulher jovem, negra e nordestina logo foi escolhida para ser a cara do mapeamento do genoma do novo coronavírus. “Não tive referências até cinco anos atrás, nem de mulheres na ciência, nem de mulheres negras. Não é que não existam, é que há uma invisibilização na sociedade. Tive uma dificuldade muito grande para entender e aceitar que estava nesse local de representatividade”, relembra.

Para isso a sororidade foi fundamental. “Lutei muito contra isso. A Dra Esther [Sabino, que assinou o a pesquisa com Jaqueline] sempre batia na tecla quando eu duvidava de mim mesma ‘se você está aqui é porque você tem capacidade’ e me lembrava que eu fui a única negra que foi estudar mapeamento de genoma da Inglaterra, que eu estudo isso há anos. Falar isso para vocês hoje é fruto de um trabalho muito forte, mas ainda penso ‘será que sou mesmo?’”, conta. A plateia, onde havia muitas mulheres negras, não pensou duas vezes em responder em oníssono “é”.

No Brasil, as mulheres são maioria entre os alunos de graduação e doutorado. A atuação das delas cresceu em quase todas as áreas de pesquisa e atualmente representamos 54% da população no sistema nacional de ciência e tecnologia. Apesar dos índices animadores, a sub-representação começa no nível da docência universitária e cresce à medida que os cargos de liderança aumentam e se tornam mais políticos. A Pesquisa Comparativa sobre Mulheres e Meninas em STEM na América Latina indica que, nos cargos políticos mais elevados em Ciência e Tecnologia, a representação feminina não passa de 2%. Por isso a biomédica é um pouco pessimista em relação à equidade de gênero. “Vai demorar um pouco, duas ou três gerações, para termos equidade na ciência”.

Para grandes mudanças fazem parte do conjunto de pequenas ações cotidianas, Simone Olenk Albiero, gerente de qualidade de Alexa, fez questão de enfatizar o esforço desse exercício nas tecnologias dentre as cientistas que atuam também fora da área de saúde. “O que a gente mais quer é a pluralidade do nosso pais: sotaques, vozes de mulheres, homens, de qualquer comunidade. Para termos isso precisamos de um time diverso. Por termos pessoas de vários lugares do Brasil na hora dos testes já aprendemos outra gíria ou termo”, explica.

A gerente, também por atuar como professora num curso de graduação, explica que tem bastante espaço para ser ocupado. “A mulher é perfeitamente capaz de aprender, encarar, de ser cientista. Por isso termos que acabar com isso de profissão masculinas x profissão feminina. O que é preciso é acreditar que é capaz e ir em frente”, finaliza.

A 7ª edição do Power Trip Summit é uma realização da Marie Claire, com patrocínio de Vichy Laboratoires e Animale, apoio de Magalu, Alexa, Claro e Unico, parceria de Merz Aesthetics e Women@, o grupo de afinidade de mulheres da Meta. O Hotel Fairmont Rio é quem hospeda o evento.

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