Erika Januza: “Questões com meu cabelo já mexeram comigo. Hoje gosto muito de mim como sou”

Por Guilherme Lima Do Revista Quem

Erika Januza (Foto: Guilherme Lima)

Erika Januza tem deixado jurados e espectadores de queixo caído com suas performances na Dança dos Famosos. A atriz de 33 anos vem mostrando desenvoltura e já desponta como uma das favoritas ao título – a grande final é dia 16 de dezembro. A habilidade surpreendeu a própria competidora, que até antes do reality apenas “dançava quando saía pra balada, era a dança orgânica do meu corpo”, confessou à QUEM.

Também foi por acaso que Erika conheceu seu novo namorado, Victor Evangelista, quando pegava um voo do Rio de Janeiro para Contagem, em Minas Gerais, sua cidade natal. Depois de pedir informações para a atriz no aeroporto, Evangelista mandou uma mensagem a ela no Instagram chamando Erika para um encontro. “Acabei aceitando um convite para jantar. Eu não tenho o hábito de fazer isso, mas resolvi me permitir. E foi ótimo. Não nos desgrudamos mais”, conta ela, que está radiante com o relacionamento.

Erika foi descoberta pelo diretor Luiz Fernando Carvalho enquanto ele procurava jovens desconhecidos para a minissérie “Suburbia”, exibida na Globo em 2012. Contratada para protagonizar a produção, nunca havia atuado antes.

Desde então, a carreira da mineira de Contagem deslanchou. Ela emendou três novelas – Em Família (2014), Sol Nascente (2016) e O Outro Lado do Paraíso (2017) – tendo grande repercussão na última, na qual viveu Raquel, uma empregada doméstica que se torna juíza. Questões como discriminação e preconceito foram abordadas pela personagem assim como são temas recorrentes para a atriz, que em novembro revelou ter sofrido ataques racistas nas redes sociais – o caso foi registrado na Delegacia de Repressão a Crimes de Informática.

Tida como uma das mais belas atrizes de sua geração, Erika se orgulha em poder inspirar meninas a verem beleza em si mesmas. Na entrevista a seguir, ela fala como enfrentou problemas com a autoestima, diz quem a inspirava quando era jovem, conta alguns de seus segredos de beleza e boa forma e defende mais espaço para que outras mulheres negras possam brilhar na televisão.

Erika Januza (Foto: Guilherme Lima)

Você é uma das favoritas no Dança dos Famosos. De onde vem toda essa habilidade para a dança?
Sou perfeccionista, podia fazer muito melhor, mas fico muito nervosa. Antes de entrar, eu quase desmaio. Fico nervosa demais e isso me atrapalha muito. Eu só dançava quando saía pra balada, era a dança orgânica do meu corpo, dançava por gostar, sempre adorei sambar. Toda a técnica é novidade, estou adorando aprender, mas é mais difícil do que eu imaginava. Agora admiro ainda mais quem dança porque é uma atividade física muito forte, dói tudo. Com uma hora de ensaio estou acabada. Durante a semana, nem faço academia. Quando acabo cada apresentação e vejo que deu tudo certo eu comemoro como se tivesse vencido um campeonato. É aquela sensação de missão cumprida.

Você assiste a tudo o que faz?
Gosto de me assistir, é uma forma de melhorar. Hoje gosto mais, antes me criticava, me achava feia, magra, mas você precisa ser a primeira a se amar. Gosto de estar bonita porque faço por mim e por quem inspiro.

Erika Januza (Foto: Guilherme Lima)

Como mantém a boa forma?
Não sou a doida da academia, gosto de malhar e não é um sacrifício, mas o trabalho é sempre a prioridade. Como de tudo, pego leve durante a semana por conta da saúde, como marmitinhas fitness, mas se dá vontade de comer um pastel eu vou comer, não tenho neura, faço atividade física para comer o que gosto. Sou mineira e, modéstia à parte, a comida do meu povo é uma das melhores, então quando vou para casa, minha mãe faz canjica, feijão tropeiro e eu faço questão de comer.

Você é modelo de beleza e inspiração para muitas mulheres, como vê isso?
Me deixa muito feliz porque tive questões com minha autoestima. Questões com meu cabelo já mexeram muito comigo. Hoje gosto muito de mim como sou. Não me coloquei nesse lugar (de inspiração), mas fico feliz porque não tive muitas pessoas para me inspirar. Então, quando mulheres e meninas me pedem dicas, me elogiam, eu fico feliz em fazer o melhor possível e representá-las e mostrar que somos negras lindas e diferentes inclusive entre nós.

Erika Januza (Foto: Guilherme Lima)

Quem eram suas inspirações quando jovem?
Eu era louca para ter o cabelo da Isabel Fillardis, eu alisava porque não via a menor possibilidade de ter um cabelo cacheado lindo como o dela. Zezé Motta como Xica da Silva (no filme de 1976) era uma força da natureza, assim como a Taís Araújo na novela (de 1996). Tenho vontade de fazer um remake de Xica da Silva, se um dia fizerem, vou bater na porta pedindo o trabalho. E a Dona Ruth (a atriz Ruth de Souza, que nos anos 40 fez parte de um grupo de teatro formado por mulheres negras e nos anos 60 foi a primeira atriz negra a protagonizar uma novela), lá atrás, que se não fosse por ela eu não estaria aqui. Ela abriu a porta para os outros passarem.

Você conquistou os cachos da Isabel Fillardis!
Hoje temos produtos para nosso tipo de cabelo e pele. A mulher negra tem poder aquisitivo e as marcas de beleza estão atentas a isso. Antigamente, não tinha quase nada, o blush que eu usava era batom vermelho. As marcas abriram os olhos para um público que existe, que não quer chegar em uma loja e ter make para três tons de pele. Se esse for o caso, a loja vai perder a cliente porque em outras lojas temos opções. Estamos nos tornando uma sociedade que se aceita e as marcas notaram que essas pessoas estão se amando, fazendo transição capilar, por exemplo. É uma crescente, atender a todos e fazer publicidade para elas. E essa publicidade não é só para produtos direcionados para negros. Uma família negra pode fazer um comercial de margarina porque essa família existe.

Erika Januza (Foto: Guilherme Lima)

Como você avalia o espaço que o negro tem hoje na TV?
Para o negro ainda falta oportunidade. Se não tiver oportunidade não tem como mostrar trabalho. Se o Suburbia não buscasse negros, não teriam me achado. A série inclusive precisava tanto de um elenco negro que abriu testes para não atores. É importante abrir portas, confiar. Ainda é um desafio e estamos galgando isso aos poucos. Precisamos também estar preparados para novos papéis, então é importante falarmos de oportunidades de estudar, para poder competir no futuro.

Você teve boas oportunidades depois de Suburbia. Se sentiu exceção?
Meus personagens foram sempre muito fortes. Na novela Em Família eu fazia uma mulher que era fruto de um estupro. São histórias que precisam ser contadas, assim como o Walcyr (Carrasco, autor) foi muito feliz em O Outro Lado do Paraíso me colocando para interpretar uma juíza. Em qualquer lugar que eu vá me chamam de juíza. É bom trilhar um caminho que tenha portas abertas para mostrarmos nosso talento. Não temos só médicos brancos e só motoristas negros.

Erika Januza (Foto: Guilherme Lima)

 

Você vê essa discussão dentro das produções?
Entre os atores essa conversa existe porque sentimos que a sociedade está cobrando. Quando o público se conscientiza que não se vê, quando não se identifica e não encontra suas questões representadas, ele cobra isso. Temos muita vontade de mostrar a população como ela é. Quando vemos no nosso meio um ator negro que fugiu do estereótipo é motivo para comemorar.

Que tipo de papéis gostaria de ter?
Quero interpretar mulheres fortes, porque temos muitas no Brasil, batalhadoras, guerreiras, que fazem tudo dobrado. E quero ser uma vilã. Tenho vontade de fazer novela de época, mas elas sempre remetem à escravidão, e sempre do ponto de vista do branco, com a situação dos escravos já estabelecida. Eu gostaria de fazer uma trama de época que mostrasse a origem dessas pessoas, que têm suas histórias, que tinham uma cultura e que foram arrancadas dela à força.

Você passou por ataques racistas nas redes sociais recentemente. Como encara isso?
Algumas pessoas se incomodam quando veem se destacar algo que elas não aceitam. É uma questão de falta de respeito ao próximo, ao que é diferente de você. Precisamos nos respeitar. É bem simples: não faça com o outro o que você não gostaria que fizessem com você!

Erika Januza (Foto: Guilherme Lima)

Você agora está focada no Dança dos Famosos. Conseguiu descansar no final deOutro Lado do Paraíso?
Depois da novela passei uma semana na Disney com a minha criança interior e uma semana no nordeste. Nesse fim de ano o Natal vai ser em família e o ano novo viajando. Espero não ter folga até o dia 16 (de dezembro, quando acabar o Dança dos Famosos).

Sua família continua em Minas Gerais?
Moro sozinha no Rio, só com meus dois cachorros, a família ficou toda em Minas. Fiquei por um tempo indo e voltando, mas depois de “Em Família decidi que minha vida é no Rio. Na época me lembro de me perguntar “será que vou continuar sendo atriz?” Quando vi que daria certo, fiquei. Vim para trabalhar e sou muito feliz.

Erika Januza (Foto: Guilherme Lima)

Vai pensar em Carnaval só no ano que vem?
Vai ser a primeira vez que desfilo em São Paulo, a Vai-Vai é uma escola de comunidade e abriram as portas para mim com esse enredo fantástico, “Quilombo do Futuro”, que tem tudo a ver com o que acredito. Amo carnaval, quero ir pra rua e para a avenida, gosto de assistir. Já desfilei com a Império Serrano, com a Império da Tijuca e em 2019 também desfilarei com a Grande Rio.

Créditos:
Fotos: Guilherme Lima
Beleza: Lucas Almeida

Antes de encarar a avenida você faz alguma preparação especial?
Tem que dar um gás, fico mais focada, a academia ganha um pouco de prioridade. São tantos abdomens bonitos na avenida que sempre que estou lá, penso “porque não comecei a malhar antes! Porque sempre deixo para a última hora?” (risos)

Erika Januza (Foto: Guilherme Lima)
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