Escravidão pode custar R$ 6,2 bi à Igreja Anglicana

Grupo independente de supervisão considera insuficientes os 100 milhões de libras prometidos pela Church of England, a fim de compensar suas conexões históricas com a escravidão.

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Catedral de São Paulo, em Londres: Church of England já prometeu compensação milionária por seu papel na história da escravidão - Foto: David Herraez Calzada/Zoonar/picture alliance

O órgão supervisor independente Oversight Group aconselha a Igreja Anglicana a decuplicar, para 1 bilhão de libras esterlinas (1,17 bilhão de euros, R$ 6,28 bilhões), o fundo criado para compensação de seus laços históricos com o comércio de escravos.

A Church of England é a matriz do anglicanismo global, totalizando cerca de 85 milhões de membros. Em janeiro de 2023, o órgão Church Commissioners, que administra suas reservas e ativos, anunciou que contribuiria com comunidades afetadas pela escravidão com 100 milhões de libras, distribuídos ao longo de nove anos.

O compromisso foi consequência de a instituição ter reconhecido que fora financiada com investimentos da South Sea Company, uma multinacional do século 18 envolvida no tráfico transatlântico de escravos.

Após abolir a escravatura em 1833, o Império Britânico concedeu aos proprietários de escravos das Índias Ocidentais uma indenização equivalente a 20 bilhões de libras esterlinas atuais. Em 2023, o reiCharles 3º, doReino Unido, anunciou que apoia a pesquisa das conexões históricas da monarquia britânica com a escravidão.

Igreja Anglicana: é preciso que outros também contribuam

Nesta segunda-feira (04/03), os especialistas do Oversight Group concluíram que a quantia era insuficiente para alcançar “justiça, reparação e cura verdadeiras”, e que seu cronograma também deveria ser acelerado. Foram sugeridos investimentos em negócios conduzidos por cidadãos negros e subvenções voltadas a problemas das comunidades impactadas pela escravidão.

Os Church Commissioners rebatem que a quantia já prometida é um “compromisso financeiro adequado” no momento, mas sinalizou sua “ambição” de ampliar o fundo no futuro. “Nossa esperança é que outros se unirão a nós, investindo juntamente conosco”, comentou Gareth Mostyn, diretor e secretário-chefe do órgão, e que assim o fundo de investimento “cresça a partir dos lucros”: “Esperamos que o fundo cresça para 1 bilhão [de libras esterlinas] e mais, criando um legado positivo duradouro.”

Segundo a bispa anglicana Rosemarie Mallett, da cidade de Croydon, no sul da Inglaterra, isso encorajaria outras instituições a se empenharem para reparar seus laços com a escravidão: “Reconhecemos que nossa responsabilidade, com que arcamos intencionalmente, é fazer o que possamos, e realmente esperamos que fazendo o que podemos outros nos verão como um exemplo.”

av (AFP,Reuters,AP)

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