‘Espero que o Papai Noel negro tenha um impacto positivo nas pessoas’, diz autora do especial de Natal da TV Globo

Cleissa Martins está produzindo uma websérie, com dez episódios retratando homens negros na moda; A equipe toda é formada por jovens negros Foto: Estevam Avellar

Cleissa Regina Martins participou do Laboratório de Narrativas Negras para o Audiovisual, parceria entre a emissora e a Flup, e convidou Milton Gonçalves para viver o personagem

Por Amanda Pinheiro, do O Globo

Cleissa Martins está produzindo uma websérie, com dez episódios retratando homens negros na moda; A equipe toda é formada por jovens negros Foto: Estevam Avellar

O que fazer ao receber um cartão de visitas do ator Milton Gonçalves? Imaginá-lo como Papai Noel e convidá-lo para fazer parte do seu especial de Natal. Foi o que fez Cleissa Regina Martins, de 24 anos, que faz sua estreia como autora no especial de Natal da TV Globo ‘Juntos a Magia Acontece’, que irá ao ar nesta quarta (25) depois da novela “Amor de Mãe”.

Neuza (Zezé Motta), Orlando ( Milton Gonçalves ) e a autora Cleissa Regina Martins Foto: Estevam Avellar

Após participar do Laboratório de Narrativas Negras para o Audiovisual, em 2017, uma parceria da TV Globo com a Festa Literária das Periferias (Flup), Cleissa pode tirar do papel suas ideias e retratar na TV uma família negra. Cleissa espera que o especial tenha um impacto positivo na vida das pessoas:

— A gente precisa normalizar as famílias negras, que são o verdadeiro retrato do Brasil. Espero que o especial seja uma abertura para isso, e que o público entenda que uma família negra também pode emocionar; e que o Papai Noel negro e a criança negra causem um impacto positivo nas pessoas. Acredito que mostrar isso na TV, com o alcance que ela tem, é uma outra experiência. Então, espero que o público goste e que eu atenda a toda essa expectativa boa que foi criada mesmo antes de o especial ir ao ar — afirma.

Nascida em Magalhães Bastos, na Zona Oeste do Rio, Cleissa foi aluna do ensino público. Formada em Ciências Sociais, por meio de bolsas de pesquisa fez intercâmbios nos Estados Unidos e no Canadá. Para ela, o Laboratório de Narrativas Negras foi uma oportunidade de fazer as conexões necessárias para colocar seus projetos em prática.

— Eu pesquisava sobre as desigualdades de gênero e de raça no audiovisual brasileiro. Mais do que fazer pesquisa, eu queria muito produzir e vi que era possível. Sou formada em Ciências Sociais, mas eu achava que mudaria o mundo fazendo pesquisa. Mas, nesse universo, muitas vezes, a gente tem conhecimento porém não se comunica com outras pessoas — explica Cleissa, que decidiu juntar sua formação com o cinema. — Assim eu entendi que, mais do que fazer pesquisa, é necessário produzir. O Laboratório foi crucial para isso. Conheci pessoas maravilhosas, entre elas o Milton Gonçalves, que me deu o cartão dele e disse que eu poderia escrever algo e convidá-lo. Pensei nele como Papai Noel e, durante a Flup do ano seguinte, nasceu a história — conta Cleissa.

Uma das poucas negras na equipe de produção do especial, Cleissa também integra o grupo de colaboradores de “Malhação”. A autora ainda trabalha em uma websérie, com dez episódios, que retrata os negros na moda. Toda a equipe deste projeto é formada por jovens negros. Cleissa faz ressalvas sobre a necessidade de mais pessoas como ela nesses espaços.

— O tempo todo eu vejo diversos lados do que está acontecendo. Precisamos estar nesses espaços e cobrar representatividade. Mas, ao mesmo tempo, é muita responsabilidade. Talvez eu não consiga representar todas as pessoas negras porque considero minha trajetória diferente e muitos não têm as oportunidades que eu tive — reflete a autora, para quem a presença de pessoas negras nos bastidores é necessária. —Tivemos ajuda da consultora Kênia Maria, a equipe de maquiagem, os atores… Tudo isso contribuiu para que o produto final ficasse incrível. Precisamos valorizar essas pessoas que estão por trás das câmeras — reitera.

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