Estudantes pedem demissão de professor de escola pública do DF por comentário racista na internet

FONTEG1
Imagem: Geledés

Uma publicação feita nas redes sociais por um professor de escola pública do Distrito Federal causou revolta por parte de pais e alunos. Murilo Vargas, que dá aulas de espanhol, republicou a foto de uma modelo negra de cabelo crespo e a chamou de “cosplay de microfone”.

Na publicação, realizada nesta quinta-feira (20), o professor do Centro de Ensino Médio 804, do Recanto das Emas, tira sarro de uma postagem que constava a seguinte frase: “Não consigo ouvir o seu racismo por causa do volume do meu cabelo”.

Internautas reagiram com críticas. A comunidade escolar onde ele trabalha iniciou uma campanha pela demissão do professor. A Secretaria de Educação afirma que vai “apurar o assunto”.

“A Secretaria de Educação reafirma a sua missão educacional de assegurar o respeito à diversidade e à pluralidade na rede pública de ensino e, com isto, contribuir para que se propague em toda a sociedade.”

A reportagem entrou em contato com o autor do texto e ele afirmou “não ter nada a declarar”.

Nota de repúdio
Em menos de 24 horas, um abaixo-assinado organizado por estudantes e ex-alunos da instituição reuniu mais de 2,4 mil assinaturas.

O documento cita que a conduta desrespeita o regimento da Secretaria de Educação, que proíbe professores de “ferir a suscetibilidade dos estudantes no que diz respeito às convicções políticas, religiosas, etnia, condição intelectual, social, assim como no emprego de apelidos e/ou qualificações pejorativas”.

Estudantes e ex-aluno de escola pública do DF organizam abaixo-assinado pedindo a demissão de professor por racismo — Foto: Reprodução/Change.org

Após a repercussão negativa, o perfil da escola nas redes sociais publicou uma nota de repúdio à publicação do professor.

“Essas declarações não refletem o pensamento da escola, que sempre prezou pela diversidade e pluralidade de ideias e procurou sempre se pautar pelos princípios da liberdade, como escola formadora do pensamento crítico-reflexivo, independente de partidarismo político, ideologia, raça ou credo.”

Ao G1, uma estudante de 17 anos, que preferiu não se identificar, disse que já presenciou o professor chamar uma aluna negra de “macaca” em sala de aula. Questionada se a turma procurava a diretoria, ela afirmou que sim. “A gente contava, mas era a palavra dele contra a nossa”.

Segundo a aluna, a postagem do professor nas redes sociais foi uma oportunidade de tornar o caso público. “É a primeira vez que a gente consegue registrar ele fazendo isso”, afirmou.

Na legislação brasileira, o crime de racismo pode ser punido nos termos do artigo 140 do Código Penal, caracterizado como injúria “na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia”. A pena é de um a três anos de reclusão e multa (veja números abaixo).

Fachada do Centro de Ensino Médio 804, em Recanto das Emas, no Distrito Federal — Foto: Joel Rodrigues/Agência Brasília

Investigação
O diretor da escola, Luiz Moreira da Cunha, afirmou à TV Globo que se reuniu com o conselho de classe da instituição e avaliou a conduta de Murilo como “inadequada”. Ele disse que o posicionamento foi encaminhado à Regional de Ensino.

Injúria racial no DF
De acordo com a Secretaria de Segurança Pública (SSP-DF), houve 241 registros de injúria racial, de janeiro a julho, no Distrito Federal. No mesmo período do ano passado, foram 246.

Em todo o ano de 2019, ocorreram 453 ocorrências de injúria racial. Em 2018, 433 crimes.

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