Cabelo é um assunto que mexe com qualquer mulher. Desde pequena. É por isso que o livro O Mundo no Black Power de Tayó (Peirópolis/R$ 34/44 páginas) deve ser olhado por carinho por pais e educadores, principalmente os que convivem com crianças negras.
Escrito pela arte-educadora paulista Kiusam de Oliveira, 48 anos, o trabalho fala sobre o tema, da perspectiva de uma bela menininha que sente o maior orgulho de seu cabelo black. Adora enfeitá-lo e exibi-lo por aí, mas sofre com o preconceito dos coleguinhas da escola.
A situação, narrada de forma lúdica, pode ser bem traumática na vida real. “A ideia surgiu das minhas próprias experiências enquanto menina negra, e, depois, como professora. Estas crianças sofrem demais com os xingamentos que recaem sobre a cor da pele e suas características físicas”, afirma Kiusam, uma das estudiosas que trabalhou na implementação da lei 10.639 – que regulamenta o ensino da história e cultura afro-brasileira nas escolas.
Ela mesmo, recorda, passou maus bocados. Ouviu piadinhas e apelidos, teve seus momentos de crise e desejos de uma cabeleira com balanço, mas aprendeu a lidar com seu black. E resolveu problematizar o tema. “São coisas que eu ouvia lá nos anos 70 e que ainda estão bem vivas no século 21”, pontua.
Uma das motivações para falar sobre cabelo, diz Kiusam, é o fato de notar que, cada vez mais cedo, as crianças são submetidas processos como escovas e alisamentos para se adequar aos padrões. E é no ambiente escolar, destaca, que elas são inicialmente confrontadas com o racismo. Aí vê as críticas e a falta de preparo dos educadores … Kiussam destaca que não é incomum casos de professoras mudarem os penteados que as mães fazem em casa nas crianças, por consideram os cabelos naturais desarrumados.
“É um livro para crianças, pais, mães e professores. Infelizmente, ainda estamos à mercê de uma educação extremamente racista. Precisamos dizer às crianças como elas são bonitas e inteligentes. É assim que elas desenvolvem autoestima. E o cabelo, neste contexto, é muito importante”, diz Kiusam.
Mestre em psicologia e doutora em educação, Kiusam também é autora de Omo-Oba – História de Princesas (2009), que fala sobre seis princesas africanas e recebeu prêmio da Fundação Nacional.
Estética
Para ilustrar uma história que fala, sobretudo, sobre beleza, a artista plástica Taisa Borges (Frankenstein em Quadrinhos) usou e abusou das cores fortes e de uma atmosfera fantasiosa, em desenhos em gauche sobre papel. “Fiz muitas imagens até chegar onde a autora queria. Todo trabalho que faço vejo como um aprendizado. Com esse aprendi sobre respeito, troca, autoestima, cor, estamparias, pessoas, bichos e plantas”, afirma.
Com um cabelo black enorme, Tayó (palavra em iorubá que significa “da alegria”) brinca de enfeitá-lo com flores, borboletas, fios de lã coloridos… Afinal, descontrói a autora, o cabelo da garota é do tamanho da sua imaginação. Nele, ela poderia carregar o mundo. A autora também usa o cabelo crespo para falar de história e tradição, e reforçar que ele é uma das marcas mais fortes da herança negra.