‘Eu me comporto igual no ar e fora do ar’, diz Maria Júlia Coutinho

Apesar de ter entrado no horário nobre há algumas semanas, Maria Júlia Coutinho rala na Globo faz anos. Maju foi escolhida para falar sobre meteorologia em 2013, quando Eliana Marques tirou licença.

“Acredito que quem já trabalhou como repórter de rua, numa pressão danada de tempo, cobrindo assuntos variados, lida bem com o ambiente de estúdio”, diz a jornalista, de 37 anos, ao G1.

Em dezembro, Maju passou a informar a previsão do tempo no Hora 1, mas de uma forma diferente, mais conversada, como se estivesse na sala do espectador. Desde 27 de abril, está no Jornal Nacional.

“Foi a confirmação de que estou no caminho certo: um caminho que tem que ser construído com honestidade, linguagem acessível, informação correta”, afirma.

Maju, aliás, é um apelido pessoal que foi primeiramente usado em rede nacional no Bom Dia Brasil por Chico Pinheiro. Nesta semana, William Bonner perguntou ao vivo a ela se prefere ser chamada de Maju, “como seus fãs pedem que a gente te chame”, e ela disse sim. “Adorei!”, respondeu rindo (assista ao lado). Leia a entrevista completa com a moça do tempo:

G1 – Quando você soube que queria ser jornalista? Foi influência dos seus pais?
Maria Júlia Coutinho –
Sou filha de educadores, pai professor de português e mãe coordenadora pedagógica, ambos aposentados. Cresci rodeada de livros e de jornais. Lembro-me dos meus pais discutindo notícias em casa. Acho que fui influenciada por esse ambiente. Na infância, apresentava a maioria dos meus trabalhos escolares em forma de telejornais, jornais impressos, livrinhos.

G1 – Sempre quis trabalhar na televisão?
Maju –
Na faculdade, havia laboratórios de jornal, de revista, de rádio e de TV. Passei por todos, mas quando peguei o microfone para fazer minha primeira reportagem para o laboratório de TV, pensei: “Senhor, é isso que quero da vida.”

Leia Também: Maria Júlia Coutinho nova garota do tempo do Jornal Nacional é alvo de racismo na internet

G1 – Quando foi que você entrou na Globo e em qual programa?
Maju –
Comecei a trabalhar na Globo em agosto de 2007 e pasme: minha primeira reportagem foi sobre tempo seco, veiculada no SPTV 2ª edição.

G1 – Você se lembra do seu primeiro ao vivo?
Maju –
Só lembro que foi terrível!

G1 – Você fez várias reportagens culturais no SPTV. Você gosta de cobrir essa área?
Maju –
Amo cobrir cultura, amo cobrir cidades. Gosto de contar histórias.

G1 – Qual pauta foi mais marcante para você?
Maju –
Foi a da morte de um trabalhador na construção de um shopping. Fomos cobrir o acidente na obra, colegas do trabalhador aproveitaram a presença da imprensa para reclamar das condições precárias em que viviam, em um alojamento na Zona Sul da capital. Investigamos e a delegacia do trabalho entrou em ação e a empresa que contratou os trabalhadores, a maioria de Sergipe, foi punida e teve que custear a volta de muitos deles para o Nordeste.

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G1 – Você assumiu o posto de garota do tempo no Bom dia SP/Brasil para cobrir a licença maternidade da Eliana Marques. Como foi essa transição?
Maju –
Foi menos complicada do que eu esperava. Acredito que quem já trabalhou como repórter de rua, numa pressão danada de tempo, cobrindo assuntos variados, lida bem com o ambiente de estúdio. Uma coisa que me ajudou muito no trabalho no estúdio foi usar a internet para continuar tendo acesso ao público, já que quando era repórter de rua eu tinha um contato maior com os telespectadores. Pude testar, através da internet, maneiras diferentes de falar sobre o tempo. Durante um ano, publiquei quase diariamente posts com a previsão do tempo usando uma linguagem mais descontraída. Usei na TV muitas das expressões aprovadas pelo público na rede.

G1 – Como é ser garota do tempo? Como você edita as informações meteorológicas que são relevantes?
Maju –
Sou assessorada pelos meteorologistas que acompanham nosso trabalho na Globo. Eles analisam as cartas meteorológicas e informam quais os destaques. Minha função é “traduzir”, de forma clara, acessível ao público e saborosa, as informações técnicas passadas por eles. Tenho contato também com as emissoras afiliadas que nos enviam reportagens ou imagens de assuntos relacionados ao tempo que podem ser aproveitadas no mapa.

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G1 – Como era trabalhar com a Monalisa Perrone? Vocês passaram a impressão de serem melhores amigas.
Maju – Sim. Nossa amizade é verdadeira. Mona sempre me apoiou, orientou, fez críticas construtivas. A gente conversava e ria muito antes de ir ao ar. Duas tagarelas às 4 da manhã! Essa vibração do bastidor nos ajudava a não deixar a peteca cair. Monalisa me ensinou o quanto é fundamental o olho no olho, quando você tem um parceiro num telejornal. Ela tem uma frase que guardo até hoje quando tenho que trabalhar com alguém num projeto: “Eu somo, nunca divido. Eu levanto a bola e você corta”. Acho que a gente jogou muito bem.

G1 – Como você recebeu a notícia de que ia estar ao vivo ao lado de William Bonner e Renata Vasconcellos no novo Jornal Nacional?
Maju –
Recebi com muita alegria. Para mim foi a confirmação de que estou no caminho certo: um caminho que tem que ser construído com honestidade, linguagem acessível, informação correta. Eu me comporto no ar (falo, me movimento, dou risada) do mesmo modo que me comporto fora do ar.

Maria Júlia Coutinho (Foto: Globo/Zé Paulo Cardeal)
Maria Júlia Coutinho (Foto: Globo/Zé Paulo Cardeal)

G1 – Como é sua rotina atual, da hora em que levanta até estar pronta para o JN?
Maju –
Acordo entre 6h30 e 7h, faço ioga e meditação, leio jornal, cuido da casa. Entro na TV 13h, às vezes apresento os boletins jornalísticos da programação que vão ao ar às 14h15. Depois me enfurno no departamento de arte da Globo, onde ficam a meteorologista e os ilustradores (que cuidam das artes do mapa). A meteorologista informa quais os destaques do dia, conversamos com os ilustradores para definir as artes, faço meu texto, informo para o Bonner, para a Renata e para o editor adjunto do jornal, Fernando Castro, quais os temas serão abordados no mapa. Depois cuido do texto da previsão do tempo do jornal SPTV 2 edição. Vou para a maquiagem às 17h. Por volta das 19h15 entro no ar no SPTV. Depois, dou uma rápida respirada, vou para estúdio conferir as artes do mapa do JN e mando bala a partir das 20h30. Depois da minha aparição, rola uma breve reunião de avaliação e uma prévia do que podermos fazer no dia seguinte.

G1 – Você opina no figurino que veste para os jornais?
Maju –
Sim. As figurinistas trazem as roupas que combinam mais com meu estilo: normalmente são vestidos coloridos. Eu sugiro peças e uso o que me faz sentir confortável.

G1 – Você acha que, para o público, sua ascensão do jornal local para o JN possa parecer rápida demais? O que mais te chateia dos comentários?
Maju –
Acho que não. Muita gente sabe que, apesar de não ter trilhado o caminho tradicional (passar pelos os jornais da manhã, depois pelos da hora do almoço e só então ir para o JN), ralei bastante, inclusive em outras emissoras: passei pela reportagem na TV Cultura, onde também apresentei um telejornal. Estou lendo D. Quixote de La Mancha, de Miguel de Cervantes. No segundo livro, o personagem Sancho Pança, escudeiro de D. Quixote, diz o seguinte: “Sou cachorro velho, não me fio em assovios”. Eu procuro não me fiar em assovios elogiosos, nem nos que representam críticas que não constroem nada. Também gosto desta frase: “O que você pensa de mim, é problema seu”.

Foto de Capa:Zé Paulo Cardeal

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