O governo dos Estados Unidos iniciou uma investigação para apurar se a Universidade Harvard, uma das mais prestigiadas do país, comete discriminação racial ao favorecer a admissão de candidatos cujos pais tenham estudado no local ou doado dinheiro à instituição.
O Departamento de Educação abriu a apuração após três grupos que atuam em defesa de direitos civis apresentarem uma queixa contra as chamadas admissões por legado. Eles argumentam que a política beneficia estudantes brancos, uma vez que a maior parte das universidades dos EUA começou a admitir alunos de grupos minoritários há uma geração.
A ação foi apresentada poucos dias depois de a Suprema Corte americana decidir, em junho, que as universidades dos EUA não podem utilizar a raça dos candidatos em processos de admissão, encerrando assim as políticas de ações afirmativas para incentivar o ingresso de minorias raciais no ensino superior.
Segundo a denúncia, quase 70% dos candidatos admitidos por “legado” são brancos e têm de seis a sete vezes mais chances de serem admitidos em Harvard. Os números foram calculados a partir de dados que se tornaram públicos após a decisão da Suprema Corte.
Em comunicado, um porta-voz de Harvard disse que a instituição está revisando aspectos das políticas de admissão para garantir que a universidade continue com um corpo discente diversificado após a decisão do tribunal. “Harvard continua dedicada a redobrar nossos esforços para encorajar estudantes de diferentes origens a se inscreverem para admissão”, escreveu a porta-voz Nicole Rura.
À agência de notícias Reuters o Departamento de Educação confirmou que havia uma investigação para apurar possíveis violações à lei que proíbe a discriminação em programas que recebem fundos federais.
Após a decisão da Suprema Corte, a Universidade Wesleyan, em Connecticut, e um dos campi da Universidade de Minnesota anunciaram que interromperiam a política neste mês, a exemplo de outras instituições de ensino superior dos EUA —as admissões por legado já foram proibidas em centros como a Universidade da Califórnia e todas as universidades públicas do Colorado.
“Simplificando, Harvard está do lado errado da história”, diz Oren Sellstrom, diretor de litígios do Lawyers for Civil Rights (advogados pelos direitos civis), organização com sede em Boston.
“Essa porcentagem que está sendo aceita automaticamente em Harvard não é justa e está deixando nossos adolescentes negros fora da equação”, acrescentou Zaida Ismatul Oliva, chefe do Chica Project, organização que oferece orientação educacional e profissional para mulheres negras.
Embora cotas raciais sejam proibidas nos EUA, era possível, na maioria dos estados, criar formas de estimular a entrada de estudantes negros e hispânicos. A decisão da Suprema Corte foi tomada após ações movidas contra as universidades Harvard e da Carolina do Norte, acusadas de discriminar alunos brancos e asiáticos em favor de negros, hispânicos e indígenas —o que as instituições negam.
Foi a segunda vez em um ano que o colegiado altera políticas sensíveis —em junho de 2022, a corte mudou entendimento de quase 50 anos e passou a considerar o acesso ao aborto inconstitucional.
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