João Cândido: Ex-marinheiro morreu pobre aos 89 anos

Imagem: Arquivo Nacional

Em 22 de novembro de 1910, inconformados com os castigos corporais ainda impostos pelos oficiais da Marinha, João Cândido e cerca de 2.300 marinheiros se sublevaram, tomaram à força quatro navios de guerra na baía da Guanabara e bombardearam o Rio, então capital federal, como advertência. No episódio, morreram quatro oficiais nos navios e duas crianças em terra.

A rebelião foi planejada, e seu estopim foi o castigo de 250 chibatadas imposto ao marinheiro Marcelino Rodrigues diante da tripulação do encouraçado Minas Gerais. Os revoltosos tomaram também o encouraçado São Paulo, o cruzador Bahia e o navio de patrulha Deodoro.  João Cândido foi guindado a chefe da insurreição, “o primeiro marinheiro no mundo a comandar uma esquadra”, observou Edmar Morel.

Uma semana antes da rebelião, o marechal Hermes da Fonseca assumira a Presidência.

Pressionado pelo poderio nas mãos da marujada, o Congresso aprovou o fim dos castigos e a anistia. Com a vitória, quatro dias depois os navios foram devolvidos. Meses depois, no entanto, uma nova rebelião -forjada, segundo os próprios marinheiros, por oficiais para incriminá-los-, provocou uma forte repressão na Marinha.
João Cândido e 17 militares que haviam participado da primeira revolta foram levados para a Ilha das Cobras. No terceiro dia, 16 deles estavam mortos. João Cândido sobreviveu. Apesar da anistia, foi expulso da Armada.
A Marinha aprisionou centenas de outros revoltosos no navio Satélite e os mandou para a Amazônia. Vários foram fuzilados e os que sobreviveram foram deixados na floresta para trabalho forçado.

O historiador Marco Morel avalia que o movimento serviu como “um golpe de misericórdia nos resquícios de escravidão que ainda permaneciam arraigados na sociedade”.

O gaúcho João Cândido teve uma vida difícil depois da expulsão. Redescoberto na década de 1950 trabalhando num mercado de peixes, foi transformado num símbolo e apoiou a Revolta dos Marinheiros, ocorrida em 25 de março de 1964, às vésperas do golpe militar.

Ele morreu em 1969, aos 89 anos, pobre, doente e sem ter sido anistiado. (MB)

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