“Exorto a Conferência a incluir as pessoas de ascendência africana na resolução”

Em ato de apoio à nota de Geledés sobre a COP16, a presidenta do Grupo de Trabalho de Especialistas em Afrodescendentes da ONU se manifesta

FONTEGeledés Instituto da Mulher Negra
Barbara G. Reynolds Membro e Atual Presidente do Grupo de Trabalho de Especialistas das Nações Unidas sobre Pessoas de Ascendência Africana - Foto: Nathalia Angarita

A presidenta do Grupo de Trabalho de Especialistas em Afrodescendentes da ONU, Barbara G. Reynolds, se manifestou prontamente sobre a nota de Geledés -Instituto da Mulher Negra, divulgada ontem, sobre as dificuldades encontradas na tramitação e aprovação na Conferência sobre Biodiversidade (COP16), relação à menção de afrodescendente no documento do Artigo 8(j).

Reynolds tem acompanhado de perto as iniciativas de Geledés em diferentes fóruns da ONU e assim tem sido sobre as ações da organização neste momento na COP 16, que acontece em Cali, na Colômbia.

Leia abaixo a íntegra da nota de Barbara G. Reynolds:

Para a Atenção da Conferência das Partes – COP 16, Cali, Colômbia.

1º de novembro de 2024

Declaração de Barbara G. Reynolds

Membro e Atual Presidente do Grupo de Trabalho de Especialistas das Nações Unidas sobre Pessoas de Ascendência Africana

Em minha capacidade individual e pessoal, não em nome do Grupo de Trabalho.

É imensamente importante reconhecer que africanos escravizados, trazidos para trabalhar em terras nas quais não podiam reivindicar posse na época, deixaram ali seu sangue, suor e lágrimas. Essas terras enriqueceram os escravizadores e colonizadores, e alimentaram esses africanos apenas com as migalhas dos senhores. Eram terras onde a flora, a fauna, o solo e o clima apresentavam desafios significativos; terras onde eles forjaram uma nova identidade, uma nova comunidade e novas resoluções. Finalmente, foram terras onde muitos enterraram suas moedas ao lado de seus entes queridos, guardaram seus poucos recursos com dignidade e ocultaram seus centavos de modo a lutar pela emancipação da escravidão, pelo fim do colonialismo, para enfrentar a segregação e, no final, emergir de cabeça erguida, esperançosos e otimistas, determinados a seguir em frente.

A questão dos direitos sobre a terra para as pessoas de ascendência africana, assim como para os povos indígenas, não é apenas uma questão econômica do século XXI ou de conveniência; é sobre manter os frágeis vínculos entre o passado e o presente que estão sob ameaça, e assegurar o desenvolvimento futuro. Trata-se da identidade, história e futuro dos africanos e dos africanos escravizados que foram traficados para as Américas e Europa, e da situação dos direitos humanos de todos os povos, em todos os lugares. A este respeito, os Artigos 1 e 2 da Declaração da Assembleia Geral da ONU de 1986 sobre o Direito ao Desenvolvimento são instrutivos (https://www.ohchr.org/en/instruments- mechanisms/instruments/declaration-right-development).

Ao longo dos séculos, adotando e adaptando seu conhecimento tradicional às novas terras, as pessoas de ascendência africana tornaram-se não apenas beneficiárias dos recursos naturais, mas também protetoras desses recursos. Esses modos de conhecimento são integrais à sua existência e à forma como vivem em harmonia com a terra. Não reconhecer sua relação com a terra e sua contribuição para sua proteção é prejudicial não apenas para as pessoas de ascendência africana, mas para os próprios ambientes que buscamos proteger e preservar para as futuras gerações e para o planeta. Com isso, exorto as Partes da Conferência a incluir explicitamente e de forma específica as pessoas de ascendência africana na resolução.


Leia a declaração em inglês:

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