“As facetas de um racismo silenciado” de Kabengele Munanga

Foto: IEA

Resenha de “As facetas de um racismo silenciado” de Kabengele Munanga

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Por Vinicius Becker de Souza

O texto começa diferenciando dois tipos de racismo: um institucionalizado, explícito, com consentimento do poder público e da sociedade como um todo; outro implícito, “silenciado” e negado por todos. No Brasil, temos o segundo caso, “tem-se o preconceito de se ter preconceito” (Fernandes apud Munanga).

Munanga busca a origem desse comportamento na ideologia da elite dominante – o já discutido mito da democracia racial – em contraponto com o senso comum que coloca a culpa na falta de instrução. A visão do Brasil como um país mestiço, onde há um convívio harmonioso entre as diferentes raças, esteve bastante difundida entre todas as camadas da sociedade para fomentar a unidade nacional. Mas a “mistura” entre brancos, índios e negros não produziu igualdade de condições aos seus descendentes, antes pelo contrário. Segundo o autor, nos defrontamos com “uma questão moral e ontológica” – ou seja, uma ideia que só pode ser modificada com uma mudança de consciência.

As políticas de afirmação do negro sempre passaram pela questão da mobilidade social. Seus defensores afirmam que solucionando o problema de classes se resolveria o problema do negro, que teria mais acesso a educação e a profissionalização por exemplo.

Mas a discriminação racial é uma das principais barreiras a mobilidade, pois alguns são preteridos devido apenas a suas características físicas. O racismo é uma “desumanização”, o que coloca a vítima em uma posição inferior sempre que confrontada com um branco.

Da mesma forma, apenas a afirmação da identidade não é capaz de superar o racismo, pois na verdade existem múltiplas identidades que têm que ser respeitadas. Mas o negro deve se aceitar como negro, e não cair no discurso de que o branco é melhor e também “branquear-se”. Esta é a importância da “negritude” – não é discriminar os brancos, mas se afirmar como um ser humano.

A dificuldade do movimento negro na visão do autor deve-se ao fato de não ser um movimento multirracial. Ainda que existam indivíduos não-negros entre os militantes, e contem com o apoio de intelectuais, permanece composto pela minoria discriminada.

Por isso a solução proposta é o estímulo de uma conscientização, que reconheça a sociedade brasileira como racista. Não existe um racismo melhor que o outro, pois todos passam pela negação da humanidade do outro.

 

 

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