Familiares de mãe Bernadete Pacífico deixam Quilombo de Pitanga dos Palmares por proteção

Matriarca foi assassinada na última quinta-feira (17); velório foi marcado por homenagens, música e ancestralidade

FONTEPor Nara Lacerda, do Brasil de Fato
A liderança quilombola Bernardete Pacífico foi morta a tiros dentro de casa, na quinta-feira (17) (Foto: Reprodução do Youtube)

O governo da Bahia retirou familiares da líder quilombola Bernadete Pacífico do Quilombo de Pitanga dos Palmares, como medida de proteção. A ativista foi assassinada dentro de casa, na última quinta-feira (17), aos 72 anos.

Estabelecida na região desde o século XIX, a comunidade é descendente de trabalhadores e trabalhadoras vítimas da escravidão, que formaram grupos e territórios de resistência desde o período colonial. Há décadas, as famílias do território lutam contra as consequências de grandes empreendimentos públicos e privados; e convivem com forte especulação imobiliária empresarial e violência.

Neste sábado (19), a secretária de Promoção da Igualdade Racial do Estado da Bahia, Ângela Guimarães, informou que parentes de mãe Bernadete deixaram o local. Alem disso, segundo ela, equipes da pasta e da polícia permanecem no quilombo para assegurar proteção a moradores e moradoras.

“Obviamente a comunidade está assustada, porque ninguém esperava uma situação tão brutal e tão torpe. Estamos com a presença da Polícia Militar e retiramos os familiares para eles não ficarem na comunidade. Também estamos identificando as pessoas que necessitem dos programas de proteção a vítimas e de defensores de direitos humanos”, disse Ângela à Agência Brasil.

Ela ressaltou ainda que o governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT), determinou investigação rigorosa por parte das polícias Militar e Civil. A Polícia Federal também atua para descobrir os mandantes e os executores do crime. 

Bernadete Pacífico é uma liderança histórica da região de Simões Filho (BA), município da região metropolitana de Salvador, onde está localizado o Quilombo Pitanga dos Palmares. Ela já havia denunciado ser alvo de ameaças e estava sob proteção policial.

A liderança foi executada enquanto assistia televisão com os netos por dois homens de capacete que invadiram a casa. Mãe Bernadete Pacífico foi enterrada neste sábado, na capital baiana. Ela está ao lado do filho, Flávio Gabriel Pacifico, que também foi morto em um atentado.

Velada em uma cerimônia candomblecista no quilombo, a ativista foi levada ao cemitério em um caminhão do Corpo de Bombeiros, que chegou em carreata a Salvador e percorreu as ruas de Simões Filho acompanhado por uma caminhada em homenagem à matriarca.

O velório e o trajeto foram tomados por música. Bernadete Pacífico foi lembrada com samba, o que era desejo expresso dela. Neste sábado (19), a Organização das Nações Unidas (ONU) convocou o Estado Brasileiro a realizar uma investigação “célere, imparcial e transparente”.

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