Feira Cultural Preta do Estado do Pará realiza sua primeira edição

Artesanato, estética, culinária, vestuário, produção cultural e produtos afro religiosos característicos da cultura negra poderão ser vistos na primeira edição da “Feira Cultural Preta do Estado do Pará Maristela Albuquerque”, que ocorre de 19 a 22 de novembro na Praça Floriano Peixoto, no Complexo do Mercado de São Brás, em Belém.

O evento faz parte das comemorações do “Mês da Consciência Negra”, com ponto alto no dia 20 de novembro, que marca os 314 anos de morte de Zumbi dos Palmares, quando haverá uma marcha pelas ruas de Belém. A organização é da Secretaria de Estado de Justiça e Direitos Humanos (Sejudh), por meio da Coordenadoria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Ceppir).

Palestras, exposições e apresentações artísticas integram a programação, além da posse dos membros do Conselho Estadual de Promoção da Igualdade Racial (Coneppir), ligado à Sejudh. O sociólogo Domingos Conceição, coordenador da Ceppir, explica que o evento simboliza a trajetória de luta e resistência dos movimentos sociais negros do Brasil e serve de reflexão sobre as ações que o governo do Estado tem realizado.

“Destacamos que muito ainda precisa ser feito, mas, mais que isso, estamos construindo políticas públicas de Estado específicas à população negra do Pará e uma cultura de direitos humanos e cidadania negra em nossa secretaria”. Para Conceição, o momento serve para diminuir o preconceito que ainda é grande, seja “o preconceito revelado ou o velado”.

A política de Estado para a igualdade racial foi estabelecida no dia 20 de novembro de 2008, quando o governo instituiu o Plano Estadual de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Peppir), instrumento que permite a gestão da Coordenadoria. O Plano é o referencial que norteia ações, projetos, programas e convênios definidos pelo governo estadual para a efetivação da política da Sejudh.

O Peppir contêm estratégias e medidas necessárias à implementação desta política, que segue as diretrizes nacionais fundamentadas na Constituição Federal, cujos objetivos fundamentais baseiam-se na erradicação da pobreza e da marginalização, bem como na redução das desigualdades sociais e regionais das populações afro-descendentes.

“É importante a forma que o governo do Estado está olhando para as comunidades quilombolas”, analisa o artesão e integrante da Coordenação Estadual das Comunidades Remanescentes Quilombolas, Manoel Conceição dos Santos, da comunidade de Gurupá, localizada no município de Cacheira do Arari, no Arquipélago do Marajó.

Ele diz que o encontro promoverá a troca de experiências, conhecimento que será repassado para os moradores das comunidades participantes. Entre artesãos e dançarinos do Grupo Parafolclórico Flor da Terra, 20 pessoas da comunidade Gurupá participarão da Feira. Gurupá é composta por 165 famílias e faz parte do Movimento Quilombola Malungo, que reúne mais de 100 associações quilombolas.

Referência – A comunidade de Manoel dos Santos tem no extrativismo do açaí e no artesanato as principais fontes de renda. Pela primeira vez, os produtos serão mostrados fora da Região do Marajó o que, segundo o artesão, é primordial para a divulgação deste trabalho artesanal feito com fibra de miriti e jacitana (um tipo de cipó). O público poderá conhecer detalhes de objetos utilitários e de decoração construídos a partir destas matérias-primas, como paneiros de açaí, tapetes, porta-jóias, matapi (objeto que serve para pegar camarão) e tipiti (utilizado no preparo da massa da mandioca).

Boa parte das associações do Malungo participa do “Mês da Consciência Negra”, assim como representantes dos mais de 20 movimentos sociais urbanos negros e das cerca de 1.300 organizações religiosas do Estado. Além das principais lideranças, participam ainda grupos de capoeira, de hip hop, dentre outros. Foram três meses de preparação para a Feira, um importante espaço para a comercialização dos produtos típicos desta cultura. Na opinião de Domingos Conceição, o evento deverá se transformar em referência no próximos anos.

A Feira Cultural tem como patronos dois grandes representantes da cultura negra do Estado, falecidos este ano: Maristela Albuquerque, mais conhecida como Teteca, e o Mestre Verequete. Teteca era vocalista de um dos grupos do Centro de Estudos e Defesa dos Negros do Pará (Cedenpa) e integrante dos primeiros movimentos negros do Estado.

Augusto Gomes Rodrigues, o Verequete, foi um dos precursores e maiores divulgadores do carimbó de raiz no Pará, estando à frente da campanha pelo reconhecimento do ritmo como patrimônio cultural brasileiro.

Avanços – De acordo com dados oficiais, a população afro descendente compreende, hoje, 84% dos cerca de sete milhões de habitantes do Pará, estando concentrada, em sua maioria, nas periferias da capital e nos demais 143 municípios paraenses. Do total, mais de 200 mil habitantes são quilombolas distribuídos em pelo menos 53 municípios, 410 comunidades, 37 títulos e 16 áreas no atual governo – com previsão de entrega de mais quatro neste mês. Também está em processo de titulação o primeiro quilombo urbano do Pará, localizado na Baía do Sol, na Ilha de Mosqueiro, Grande Belém.

Para Domingos Conceição, as conquistas nas titulações de terra resultam das novas políticas do governo, considerando que, em 12 anos do governo anterior, uma média de 23 titulações foram realizadas, quase o número alcançado em apenas três anos do atual governo.

A demanda faz parte de um dos cinco eixos principais do Plano Estadual: educação; saúde; segurança; acesso à terra, habitação e infraestrutura; e assistência e desenvolvimento social. O acompanhamento jurídico e o apoio da Sejudh, lembra o artesão Manoel dos Santos, foram determinantes para que a comunidade dele pudesse receber, dois anos atrás, a titulação de um terreno que tem ajudado a impulsionar a extração do açaí no local.

SERVIÇO

“I Feira Cultural Preta do Estado do Pará Maristela Albuquerque”. De 19 a 22 de novembro, na Praça Floriano Peixoto, do Complexo do Mercado de São Brás, em Belém. A Feira faz parte das comemorações do Mês da Consciência Negra.

PROGRAMAÇÃO

De 19 a 22 de novembro: I Feira Cultural Preta do Pará Maristela Albuquerque (Teteca).
Apresentações artístico-culturais e afro religiosas, exposição de produção temática de recorte racial, com ênfase na cultura negra; e outras atrações.

Local: Praça Floriano Peixoto, no Complexo do Mercado de São Brás, localizado na avenida Almirante Barroso.
Horário: de 10h à meia noite.

18h: Abertura oficial da Feira com celebração afro religiosa, participação de autoridades e movimentos sociais negros do Pará.

A partir das 19h haverá apresentação de atividades culturais.

19 de novembro: Instalação e Posse do Coneppir.
Local: auditório da Sagre, na Travessa do Chaco, em frente à Funtelpa.
Horário: 10h30.

20 de novembro: Marcha Zumbi dos Palmares.
Concentração às 16h na Praça Santuário, em frente à Basílica Santuário, em Nazaré, com saída prevista para as 17h. O destino é o Mercado de São Brás. Durante o percurso, ocorrerão quatro paradas, batizadas com o nome de lutadores negros.

Mais informações sobre a Feira Cultural Preta do Estado do Pará e sobre o Mês da Consciência Negra, com Domingos Conceição: (91) 4009-2737 e 8137-8716. Outras informações com Marluce Barbosa, (91) 9208-4929, que representa uma associação afro religiosa ou Manoel dos Santos, da comunidade Gurupá, no telefone (91) 9621-0717.

 

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