Fenômeno IZA fala de racismo e preconceito: ‘Me chamavam de churrasquinho’

Quando apareceu no palco Sunset ao lado de CeeLo Green no Rock in Rio, IZA — assim mesmo superlativa, em capslock — causou um furor. Muitos se perguntaram quem era aquela mulher de curvas sinuosas, voz potente, tranças esvoaçantes. Ao entrar numa escola particular e tradicional de Natal, no Rio Grande do Norte, aos 6 anos, Isabela causou estranhamento.

Por Carol Marques Do Extra

Muitos se questionaram quem era aquela menina espevitada, falante e… negra! “Eu era a única negra da escola e só percebi como isso afetava outras pessoas com o tempo. No Rio, eu já havia sido a única da turma. Era a diferente”, conta a cantora, o novo fenômeno pop do país.

Aos 27 anos, IZA vê em seu ofício mais do que cantar. “Tenho a chance de ser referência para muitas meninas negras como eu, posso oferecer representatividade e dizer a elas que podem ser quem quiserem”, avalia. Não é discurso pronto. Afinal, IZA sentiu na pele, sem fazer trocadilho barato, o peso do racismo. “O apelido que eu mais odiava era o de churrasquinho. Um dia perguntei à minha mãe por que as pessoas me olhavam no mercado. E ela dizia: ‘porque você é linda’”, recorda: “Essa bela autoestima foi primordial. Mas, claro, que tive minhas noias”.

Entre elas a de mudar os cabelos. “Alisei aos 12 anos. Minha mãe se rendeu e deixou. Eu não me achava atraente com o cabelo natural. Só fui beijar na boca com 17 anos”, justifica. Livre e empoderada, é essa IZA que hoje ganha cada vez mais seguidores (630 mil no Instagram), faz dez shows por mês entre outras apresentações, posa para editoriais e tem agenda cheia até abril de 2018.

Até três anos atrás, ela dava expediente numa agência de publicidade. Como muitos jovens de sua geração estava infeliz vendo a vida passar na urgência do futuro. Aprendeu a cantar em casa com a mãe, Isabel, professora de História da Arte e Música. Dali, migrou para os corais das igrejas católicas. Mas palco a travava. “Sempre fui extrovertida, a primeira a fazer tudo, representante de classe, mas subir num palco não era comigo”, confessa.

Cantava nas reuniões de amigos e eles não entendiam como ela ainda não vivia disso. Chutou o balde, avisou em casa e foi para o Youtube abrir seu canal mostrando covers. “Meus pais empre ma apoiaram, não precisava pagar as contas de casa, então, encarei”, recorda.

Na época, a ex-publicitária, filha única, morava com os pais em Olaria, onde nasceu e foi criada entre uma tempoarada e outra em estados diferentes por conta da profissão do pai, militar da Marinha. Uma semana após pedir demissão, veio a separação dos pais. “Foi uma época em que minha mãe teve que segurar muito a onda para eu seguir meu sonho”, diz.

As coisas foram acontecendo, a Isa virou IZA, ganhou empresário, um contrato com gravadora e estourou. Hoje, ela se vê como uma empresa, é inquieta e sabe que fama é passageira. “Detesto que puxem meu saco, que me tratem como diva”, avisa: “Sei de onde vim e prezo meus valores”.

Alguns prazeres do anonimato foram deixados para trás. “Amo ir ao Saara, me enfiar nas lojas, comprar caixinhas. Não dá mais para ir“, revela: “Sou muito pé no chão. Me blindo do deslumbramento, procuro ouvir o que realmente interessa. No mais, me protejo com a fé. Para onde vou levo meu terço e ando com a Bíblia na mala”.

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