Filhos de mulheres vítimas de feminicídio no ES enfrentam as consequências da violência

Crianças perdem a referência materna e, em muitos casos, o pai, preso por conta do crime. Quando não são acolhidas por familiares, ficam sob responsabilidade do estado.

FONTEG1
Foto: ONU Mulheres/Dzilam Mendez

Nos últimos anos, pelo menos 211 mulheres morreram vítima de feminicídio no Espírito Santo. Entre 2020 e 2021, os casos cresceram 46% no estado. São mulheres que perderam a vida e o crime também deixa a pergunta: para onde os filhos vão?

O homem não apenas mata a mulher, mas também marca para sempre a vida dos filhos dela. Os órfãos do feminicídio não são uma realidade invisível, e precisam de ainda mais atenção a medida que os números da criminalidade crescem.

Era junho de 2019, a auxiliar de serviços gerais Maria Madalena foi assassinada com um tiro na cabeça perto da casa. Preso, o ex-marido confessou: matou Maria Madalena porque não aceitava o fim do relacionamento.

Ela tinha procurado a Polícia Civil dias antes de ser morta, para denunciar novamente o ex-marido. Jean Silva dos Santos já havia sido preso por violar a Lei Maria da Penha.

Maria deixou dois filhos. Depois do crime, as crianças não tiveram qualquer contato com a família paterna. São crianças que perderam a mãe de forma trágica, e também perderam o elo com o pai, que está preso.

Hoje estão com a tia, Liliene Rosa da Conceição, que tem a guarda de ambos.

“Agora eles são meus filhos. São responsabilidade minha. Eu quero que eles estudem, tenham o futuro deles, sejam alguém na vida. O que eu puder fazer por eles eu faço. O que eu faço pelos meus filhos, eu faço por eles”, afirmou Liliene.

Quando as crianças não têm quem as acolha, cabe ao estado abrigá-las. A coordenadora do Laboratório de Pesquisas sobre Violência contra a Mulher no Espírito Santo (Lapvim), Brunela Vincenzi, chama atenção, porém, para a infraestrutura desses locais.

“Eles perdem as figuras de referência que estavam com eles no dia a dia, e aí o sistema de Justiça e o estado procuram alguém da família, se houver. Infelizmente a impressão que temos dos abrigos públicos para crianças e adolescentes é de uma estrutura muito ruim”, afirmou Brunela.

O aspecto racial nos crimes de violência contra a mulher também é analisado por ela. De acordo com o Atlas da Violência, a chance de uma mulher negra ser vítima de homicídio é quase duas vezes maior do que de uma mulher branca.

“Enquanto a violência contra as mulheres não negras diminui, há um aumento da violência contra mulheres negras. É um ponto importante que precisa ser considerado, porque talvez as políticas públicas implantadas funcionem para apenas um grupo da população, não para todos”, destacou a pesquisadora.
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