Filmes imperdíveis sobre mulheres negras e afetividade

Esse ano a hashtag #OscarsoWhite bombou nas rede sociais levando a uma série de discussões nos E.U.A. sobre representatividade no cinema, meses antes Viola Davis no Emmy levantou a mesma bandeira, aplaudida de pé por atrizes negras como Taraji P. Henson e Kerry Washigton, todas as três com personagens importantes em séries populares pelo mundo todo. Surpreende, no entanto, que enquanto as mulheres negras começam a chegar na TV em um número expressivo, com personagens complexos e não-estereotipados; no cinema o mesmo não se repete.

Do iamnotastereo.

Nos E.U.A. uma parcela dos filmes que retratam o cenário contemporâneo pouco falam sobre mulheres em ocupações domésticas, como é o caso do Brasil onde a mulher negra só aparece retratada como empregada doméstica, babá, entre outros similares. No entanto, no cinema norte-americano a mulher negra recorrentemente é a figura divertida e “esquentada” – os filmes da Vovózona – , ou a figura que será salva por uma branca – o amado Histórias Cruzadas.

Por isso, selecionei meus 4 filmes de drama preferidos que retratam problemáticas de raça e gênero, apresentando personagens negras cheias de complexidades, afetos, sexualidades, problemas nas profissões, familiares, amizades, etc. Mulheres negras retratadas como seres humanos, não objetos.

1 – A cor púrpura.

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Um antigo filme, de 1985, baseado no livro homônimo de Alice Walker, traz a maravilhosa Whoopi Goldberg como Celie, a personagem principal de uma trama bonita sobre descoberta de afetos. A medida que o tempo passa, a história contada através de cartas, constrói Celie como um sujeito completo, em um momento histórico que a quer ver como uma subordinada. Mas Celie aprende a se levantar, ser agente da própria vida. Numa trama sobre sexualidade homo-afetiva, amizades e reencontros, a vida de Celie descobre a cor púrpura de que se gosta, descobre de que gostar e nos apresenta um bonito enredo. O filme também conta no elenco Oprah Winfrey e excelente direção de Steven Spielberg.

Para quem não leu o livro é um excelente filme, mas para os fãs de cinema que tenham lido, o filme não substitui a escrita de Walker, apesar de adaptá-la bem.

Aqui dublado:

https://www.youtube.com/watch?v=uknT0QdiRww

2 – Flores de aço.

Flores de Aço foi gravado pela primeira vez em 1989, mais de 20 anos depois em 2012, na produção executiva Queen Latifah (da vontade de escrever: a Rainha Queen Latifah, porque ela é rainha duas vezes mesmo) fez uma releitura do filme, dirigido por Kenny Leon, um homem negro, e com um elenco inteiro negro.

O black remake retrata a relação entre 4 amigas e Shelby, filha de uma delas, o filme acompanha o conflito de Shelby entorno de seu casamento por conta de uma doença grave, tendo como pano de funo as vidas e problemas dessas outras mulheres todas maduras. O salão de cabelereiro de Truvy é o ponto de encontro dessas mulheres para conversar e confessar suas angústias.

É um filme simples, com uma trama que se desenrola sem muitas surpresas, mas ainda assim, de uma ousadia sem tamanho da produção executiva refilmar um clássico com protagonistas negras

O filme está disponível no Netflix! Corre lá. ;)

3 – For colored Girls.

Depois de um tempo assistindo filmes hoolywoodianos você percebe de cara um filme de baixo orçamento, uma infelicidade que acomete alguns desses filmes que não movimentam tanto os gostos já pré-construídos  de nós, educados pelo Cinemark pra ir ao cinema.. É o caso de For colored Girls, o título inspirado no livro de Ntozake Shange, “For Colored Girls Who Have Considered Suicide/When the Rainbow Is Enuf”, se passa através da enunciação de uma poesia da mesma autora.

O filme que conta com um elenco estelar de muitas atrizes que se repetem nos filmes aqui citados, como Whoopie Gooldberg, Loretta Devine, Phylicia Rashad e as atuais queridinhas de Hollywood, Kerry Washington, Tessa Thopson e Thandie Newton. Seguindo a fórmula de Flores de Aço, Tylers Perry dirige um filme sensível e emocionante que perpassa a vida de 8 mulheres negras que se conhecem e compartilham experiências diversas sobre seus amores, carreiras e saúde. Me parece que a escolha das atrizes promove uma escala de cor contada através de histórias negras.

Eu não achei o filme pra assistir novamente antes de escrever aqui, mas já tendo assistido algumas vezes, esse filme de 2010, marcou minha história; pela poesia, pelo encontro desses nomes poderosos do cinema negro e pela descoberta de Perry como um diretor que se desbrava por caminhos outros que não os de Madea.

p.s.: Esse é um pouco difícil de encontrar, eu assisti algumas vezes na HBO, mas parou de passar. Com certeza deve ter online, caso de se dedicar pra encontrá-lo.

4 – Até as últimas consequências.

Por fim, meu preferido, sobre o qual discorreria por horas, dissecando cada cena, Set it off. O filme de 1996, dirigido por F. Gary Gray, do filme Straight Outta Compton, ganhou uma série de prêmios ao retratar a vida de quatro amigas periféricas nos anos 90, o que mais parece as favelas brasileiras de hoje. A vida dura as leva pra um caminho sem volta.

Com Queen Latifah, Vivica A. Fox, Jad Pinkett Smith e Kimberly Elise o filme é o único a trazer pessoas comuns, cotidianas, com problemas que poderiam ser os nossos – ou pelo menos os de uma mulher moradora da periferia de São Paulo. Eu adoro a trilha sonora e já ouvi milhares de vezes, composta só de R&Bs e raps cantados por mulheres negras.

Amo esse filme! Não consigo falar sobre ele sem entregar a trama e eu acho que vale a pena demais pra estragar. Então, assistam! Não é difícil encontrá-lo online.


Só pra finalizar o post, existe uma série de outros filmes que retratam vidas de mulheres negras, mas assistir a esses quatro é uma dose de esperança na amizade, no afeto entre mulheres negras. Nessa irmandade que quando nos juntamos com as pessoas certas, só nos faz crescer. É lindo.

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