Gabriela Anastácia, a mulher que acolhe mães para difundir educação empreendedora

Ela criou projeto para acolher mães e difundir “educação empreendedora”

Por Lola Ferreira Do Huffpost Brasil

VALDA NOGUEIRA/ESPECIAL PARA O HUFFPOST BRASIL

Gabriela Anastácia é a 316ª entrevistada do “Todo Dia Delas”, um projeto editorial do HuffPost Brasil.


Gabriela Anastácia era uma criança comunicativa. Sempre gostou de falar, articular bem as palavras e unir a sala de aula em torno da sua voz. Hoje, aos 31 anos, ela se tornou comunicadora e assessora de imprensa. E mais: encontrou, depois de muitos erros, sua realização profissional em projetos de responsabilidade social, cultura e educação. Além da sua “eu-gência” ― a Gamarc Comunicação que ela mantém sozinha ― , Gabriela é responsável pelo projeto Papo de Empreendedora, que nasceu de um incômodo próprio após a gravidez: o sentimento de que mulheres que empreendem e são mães, muitas vezes, se veem sozinhas no processo de firmar o próprio negócio.

E parte disso tem a ver com sua própria história. Ainda na faculdade, ela já estagiava em um jornal carioca quando começou a perceber a dificuldade de mulheres terem destaque, principalmente na chefia: “Isso começou a me angustiar muito, porque eu olhava para o mercado e não via futuro para mim e outras mulheres. A partir daí comecei a repensar o que seria da minha vida profissional”, lembra em entrevista ao HuffPost Brasil. Em seguida, ela começou mais um estágio acumulou os dois trabalhos com a faculdade.

Eu tenho que trabalhar com aquilo que amo.

VALDA NOGUEIRA/ESPECIAL PARA O HUFFPOST BRASIL

“Quando eu estava grávida, perdi muitos clientes porque achavam que eu não iria me dedicar.”


Foi ali o primeiro contato com a assessoria de imprensa e também quando Gabriela encontrou chefes que empreendiam na comunicação e compartilhavam com ela os desafios. Com o passar dos anos, descobriu seu nicho de trabalho depois de muito errar e tentar abraçar o mundo com as próprias mãos. “Eu tenho que trabalhar com aquilo que amo. Eu tinha vários clientes de segmentos diferentes, mas percebi que não daria certo. Não adianta atender uma coisa que não me dê prazer. Eu tenho prazer em trabalhar com cultura, com área social. Assim eu me sinto realizada”, explica.

Em 2016, três anos depois de começar sua carreira como assessora de imprensa, Gabriela se tornou mãe. Foi naquele mesmo momento que percebeu que havia uma lacuna na sociedade para mulheres que são mães e empreendem. “Quando eu estava grávida, perdi muitos clientes porque achavam que eu não iria me dedicar. Trabalhei até os seis meses de vida dele, depois fiquei um pouco frustrada e tirei um tempo para chegar até a definição melhor do público. Mas eu me sentia muito sozinha, não tinha com quem conversar.”

Depois que você é mãe, tem barreiras. (…) Eu me sentia sozinha.

VALDA NOGUEIRA/ESPECIAL PARA O HUFFPOST BRASIL

“Pessoas começaram a querer me conhecer, me encontrar, fazer alguns projetos juntos, dividir que também se sentiam como eu.”


Foi assim que surgiu o Papo de Empreendedora. Gabriela criou um perfil no Instagram e começou a dividir dicas, resultados de pesquisas e mais informações sobre o mundo do empreendedorismo. O primeiro objetivo era ser um desabafo de uma mulher empreendedora com um filho no braço, mas logo ela começou a receber muitos feedbacks. “Pessoas começaram a querer me conhecer, me encontrar, fazer alguns projetos juntos, dividir que também se sentiam como eu”, conta. “Se eu vejo esses desafios hoje em dia, imagine minha mãe lá atrás, que não era vista como empreendedora? Hoje nós temos a oportunidade de fazer diferente, que é ter esse diálogo.”

Por essa influência externa, os encontros saíram da internet e ganharam o mundo real. Em parceria com alguns co-workings da região da zona norte do Rio de Janeiro e também da Baixada Fluminense, Gabriela conseguiu reunir mulheres empreendedoras (e também seus filhos) em encontros para discutir questões como plano de negócios, área jurídica, área financeira e todos os detalhes que existem em criar ou manter um negócio.

Se eu vejo esses desafios hoje em dia, imagine minha mãe lá atrás, que não era vista como empreendedora?

VALDA NOGUEIRA/ESPECIAL PARA O HUFFPOST BRASIL

Ao final dos workshops, Gabriela conta que a expectativa é que as mulheres decidam se aquela rotina é para elas ou não.


“Existem casos de mulheres que estão se separando e tem mais de dois filhos e estão desesperadas porque era dona de casa e não sabe o que fazer a partir dessa situação. É um grupo de mulheres juntas tendo ideias para que outra mulher consiga tocar o seu negócio”, define Gabriela.

Ela explica que o foco do projeto é dar uma “educação empreendedora” para as mulheres que são mães: “É para ela entender que aquilo é um negócio. Boa parte das mulheres que empreendem, não empreende porque querem, mas por necessidade. Então elas acabam não participando do processo de formular um plano de negócios, abrir uma conta jurídica. Elas fazem na cara e na coragem.”

É um grupo de mulheres juntas tendo ideias para que outra mulher consiga tocar o seu negócio.

Os encontros acontecem durante vários dias, com foco em cada uma das áreas necessárias para o desenvolvimento. Ao final dos workshops, Gabriela conta que a expectativa é que as mulheres decidam se aquela rotina é para elas ou não, e se preparem para dar essa guinada rumo ao empreendedorismo. E ela faz questão de ressaltar: o foco com os encontros não é ter lucro, mas sim criar networking e, claro, suporte. “Compartilhamos histórias, conhecimento e as mulheres podem levar seus filhos. É importante criar vínculos e se sentir alguém no mundo, porque depois que a gente é mãe, se sente um pouco perdida”.

Boa parte das mulheres que empreendem, não empreende porque querem, mas por necessidade.

VALDA NOGUEIRA/ESPECIAL PARA O HUFFPOST BRASIL

A empreendedora conta que sempre teve uma urgência em ter o controle de tudo e estar sempre disponível.


As mulheres convidadas para falar sobre cada uma das áreas de conhecimento (financeiro, jurídico, etc) são parceiras, e responsáveis até por Gabriela falar do projeto sempre no plural ― apesar de planejá-lo sozinha ― porque sem elas não seria possível.

A empreendedora conta que sempre teve uma urgência em ter o controle de tudo e estar sempre disponível, mas que com a chegada da gravidez tudo mudou: “Eu comecei a estabelecer limites para os outros. Muitos se afastaram por conta disso. Antes a Gabriela atendia tudo, hoje não. A maternidade me salvou, me deu muito pé no chão. Eu mudei muito a questão do controle, também. Hoje eu digo que meu filho me salvou”, conta, emocionada.

É importante criar vínculos e se sentir alguém no mundo.

VALDA NOGUEIRA/ESPECIAL PARA O HUFFPOST BRASIL

Os próximos passos de Gabriela envolvem continuar o projeto, transformá-lo talvez em um podcast e, futuramente, ampliar o quadro de funcionários da sua agência. Com isso, ela acredita que conseguirá dedicar mais tempo a cuidar de si mesma. Ela conta com um sorriso no rosto que agradece a maturidade adquirida nos últimos anos, mas reconhece que ainda tem muito a conquistar.

“Esse projeto é sobre empatia, sintonia e troca. As mulheres fazem o mundo avançar, são mães e esposas que estão sempre ajudando a melhorar o universo. Durante muitos anos, fomos cerceadas do empreendedorismo, mas a mulher pode fazer e ser o que quiser, e é tão capaz quanto o homem. E às vezes não dá para pensar muito: se errou, não deu certo, respira e segue.”

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