George Wright: os bastidores da Pantera Negra

A polícia federal dos EUA descreve George Wright, o fugitivo norte-americano de 68 anos capturado em Portugal e que tinha Bilhete de Identidade português, como membro de um dos movimentos radicais negros mais activos na década de 1970.

Segundo o FBI, Wright juntou-se ao Exército Negro de Libertação (Black Liberation Army, BLA) depois de fugir da prisão em 1970. Wright participou em 1972 no desvio de um avião com 88 passageiros; a imprensa norte-americana da época descreveu os sequestradores como «membros de um grupo ligado aos Panteras Negras», o partido radical negro fundado por Huey Newton.

O BLA resultou de uma cisão dos Panteras Negras, em 1971, quando Newton expulsou Eldridge Cleaver e alguns dos seus apoiantes.

Os Panteras Negras eram um movimento destinado a proteger os negros norte-americanos da brutalidade policial, que evolui para um partido com uma ideologia revolucionária e inspiração maoísta. Cleaver e os seus aliados pertenciam a uma facção mais radical dos Panteras Negras, que defendia a «acção directa» – ataques à polícia, atentados, assaltos.

Em 1972, Cleaver estava exilado na Argélia – para onde Wright e os outros sequestradores levaram o avião desviado.

Ainda na década de 1970, Cleaver renegou o seu activismo radical e tornou-se um cristão evangélico. O BLA continuou contudo a existir – ou pelo menos o seu nome era utilizado por vários grupos militantes que cometiam actos violentos nos EUA.

Uma das figuras mais famosas do BLA é Assata Shakur («nome de guerra» de Joanne Chesimard), que foi condenada por vários crimes, incluindo o homicídio de um polícia em New Jersey. Em 1979, Shakur (tia por afinidade do «rapper» Tupac Shakur) foi libertada da prisão por um comando do BLA, acabando por se exilar em Cuba, onde ainda vive.

Segundo o New York Times, o nome de Shakur constava da lista telefónica de Havana até há alguns anos, mas desde então o seu paradeiro é mantido secreto pelas autoridades cubanas. O então presidente cubano Fidel Castro disse em 2005 que os EUA consideram Shakur «uma terrorista, o que é uma injustiça, uma brutalidade, uma mentira infame».

Outro dos líderes do BLA é Sekou Odinga (Nathaniel Burns), acusado de envolvimento na morte de vários polícias, de atentados à bomba contra centros comerciais e de um assalto a uma carrinha de valores.

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Odinga está actualmente detido a cumprir uma pena de prisão perpétua na Califórnia. Num dos seus julgamentos, segundo o jornal San Jose Mercury News, Odinga admitiu que o BLE «reivindicou a morte de agentes da polícia», acrescentando que esses actos eram uma forma de «retaliação por atrocidades continuadas» contra os negros americanos.

George Wright, norte-americano condenado por homicídio e procurado há 41 anos pelas autoridades dos EUA, foi detido na segunda-feira em Sintra pela Polícia Judiciária em cumprimento de um mandado de detenção internacional. Está em prisão preventiva e o Tribunal da Relação irá agora decidir uma eventual extradição, a que o detido se opõe.

Vivia há cerca de 20 anos em Portugal sob identidade falsa, com o nome de José Luís Jorge dos Santos, tendo dois filhos de 24 e 26 anos de um casamento celebrado em território nacional.

George Wright foi condenado em 1962 por homicídio e fugiu da cadeia de Bayside, em Leesburg (Nova Jérsia), em 1970. Dois anos mais tarde desviou um avião de uma companhia aérea norte-americana e pediu asilo à Argélia. O governo argelino devolveu o avião e o resgate aos EUA, a pedido da Administração norte-americana, e deteve os sequestradores temporariamente.

Os cúmplices de Wright foram mais tarde presos, julgados e condenados em Paris em 1976. Wright foi o único que se manteve em fuga, até ser capturado pelas autoridades portuguesas.

Fonte: TVI 24

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