Há meio século, Feiticeira usou blackface para condenar racismo e levou Emmy

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Técnica controversa do século 19 empregada por atores brancos para ridicularizar negros no teatro, a blackface ressurgiu em A Feiticeira (1964-1972) para condenar o racismo. Há 48 anos, a popular série escureceu a pele dos principais personagens para dar uma lição. Atualmente, uma nova versão da atração está em desenvolvimento e vai transformar a bruxa Samantha loira em negra, também com objetivos didáticos.

por João da Paz no UOL

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Na véspera do Natal de 1970, época na qual o blackface era combatido pelo blaxploitation (cinema feito por negros para negros), A Feiticeira exibiu o episódio Sisters at Heart, algo como Irmãs de Coração, uma história comovente, idealizada por alunos da periferia de Los Angeles. O capítulo chegou a receber uma honraria no Emmy do ano seguinte e é o preferido de Elizabeth Montgomery, a protagonista loira.

A narrativa é simples. A herdeira de Samantha, Tabitha Stephens (Erin Murphy) tem uma amiga negra, Lisa (Venetta Rowlers), filha de um casal amigo do pai de Tabitha, Darrin (chamado no Brasil de James e vivido por Dick Sargent). A garotinha loira ficou triste por ter ouvido de uma outra menina que ela não poderia ser irmã de Lisa, porque tinham o tom de pele diferente.

A atriz branca e loira Erin Murphy com blackface – imagem UOL

Lisa visitou Tabitha e, após uma brincadeira, a loira mostrou para a amiguinha uma feitiçaria que a deixou com a pele escura. Tabitha diz que queria ficar assim para sempre, para ser igual a Lisa e não ouvirem mais de ninguém que não poderiam ser irmãs.

Ao saber da inquietação da filha, Samantha aproveitou a situação e falou às meninas que “irmãs são garotas que compartilham algo, geralmente os mesmos pais. Mas se compartilham uma boa amizade, amor e gostos parecidos, como acontecem com vocês duas, vocês são irmãs também”. Lisa aceitou o conselho e não repetiu mais o encanto.

‘Eu sou racista’

Outra história contada no episódio é a do empresário Mr. Brockway (Parley Baer), dono de uma grande loja de brinquedos que estava prestes a fechar um contrato de milhões de dólares com a agência de publicidade na qual Darrin trabalhava.

Brockway visitou a casa de Darrin para conhecer sua família. Assim que viu Lisa atender à porta, ele presumiu que a menina seria filha da empregada. Depois de uma breve conversa com a garota, o empresário se confundiu e entendeu que Darrin estava em um casamento inter-racial, casado com uma negra. E desistiu do negócio, por achar Darrin instável.

Samantha ficou sabendo da notícia e armou uma pegadinha para o empresário durante uma festa de Natal. Ela jogou um feitiço em Brockway, que passou a ver todas as pessoas ao ser redor com a pele escura, inclusive ele mesmo, ao encarar o espelho. É nesse instante que Elizabeth e Sargent aparecem com o blackface.

No dia seguinte, o empresário bateu à porta de Darrin, pediu desculpas pelo seu comportamento, admitiu ser racista e voltou atrás na decisão de não assinar com o publicitário. “Eu sou racista. Não daqueles vulgares, mas mais um do tipo sorrateiro. Eu era tão ardiloso que sequer percebia”, confessou Brockway.

Ele recebeu apoio do amigo negro de Darrin, Keith Wilson (Don Marshall), pai de Lisa: “Um homem muito esperto disse: ‘Identificar corretamente um problema é o primeiro passo para resolvê-lo'”, filosofou.

Conflito racial

A nova Feiticeira tem a assinatura do produtor Kenya Barris, novo contratado da Netflix, que ganhou fama em Hollywood por criar Blackish. A comédia traz uma família negra rica, moradora de um bairro nobre em Los Angeles, cercado por vizinhos brancos. O patriarca é publicitário e a matriarca, médica.

Assim como Blackish trata de temas polêmicos, como racismo, privilégio branco e discrepâncias sociais, a nova Feiticeira virá para discutir assuntos da mesma seara. A história começa com Samantha, uma mulher negra trabalhadora e mãe solteira. Ela se casa com Darren, um preguiçoso homem branco.

Eles encontram dificuldades no relacionamento após ela notar que, mesmo sendo uma bruxa, não tem tanta facilidade de viver nos Estados Unidos dos dias atuais em comparação ao seu parceiro, um homem branco, alto e de boa aparência.

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