Herdeiro de Mãe Bernadete vai contratar perícia particular para investigar assassinato

Escritório do advogado Hédio Silva Jr. passará a atuar em defesa dos interesses da família da líder quilombola

FONTEFolha de São Paulo, por Mônica Bérgamo, com Bianka Vieira, Karina Matias e Manoella Smith
Bernadete Pacífico era líder quilombola na Bahia e coordenadora da Conaq (Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos) - Conaq/Divulgação

A família da líder quilombola Bernadete Pacífico, que foi assassinada a tiros em agosto deste ano, irá contratar peritos particulares para revisar todo o trabalho de perícia do local do crime, o laudo de sua morte e os protocolos de proteção que vinham sendo adotados antes da execução da sacerdotisa.

As medidas foram definidas após o físico nuclear Jurandir Patrocínio, único filho vivo de Mãe Bernardete, contratar o escritório do advogado Hédio Silva Jr. para defender os interesses de sua família e do Instituto Mãe Bernadete Pacífico, que será criado para preservar a memória da liderança quilombola.

“Mãe Bernadete tem uma trajetória ímpar na luta do povo preto, quilombola e de religiões afro por dignidade e justiça. Todos aqueles indivíduos e gestores que, por ação ou omissão, provocaram direta ou indiretamente seu suplício, ou pretendem locupletar-se com sua morte, responderão nos exatos termos da lei”, afirma o advogado.

“É uma honra, para um filho de Xangô, defender o legado de uma grande brasileira quilombola como ela”, diz ainda Silva Jr., que também é coordenador do Instituto de Defesa dos Direitos das Religiões Afro-Brasileiras (Idafro).

Antes de sua execução, Mãe Bernadete já havia recebido ameaças e fazia parte de um programa de proteção a defensores de direitos humanos do Governo da Bahia. Câmeras foram instaladas em sua casa e no entorno, e policiais faziam visitas periódicas ao local, mas não havia uma vigilância constante.

A sacerdotisa foi morta aos 72 anos de idade. Ela estava junto dos netos quando dois homens chegaram na casa ao lado do terreiro de candomblé que comandava em Simões Filho, na região metropolitana de Salvador, e a assassinaram com 14 tiros.

A luta contra os ataques a terreiros e o assassinato de lideranças religiosas de matriz africana na região se intensificou após o assassinato de seu filho mais velho, Flávio Gabriel Pacífico dos Santos, em 2017.

Conhecido como Binho do Quilombo, ele era um dos líderes quilombolas mais respeitados da Bahia e defendia a titulação do Quilombo Pitanga dos Palmares, em Simões Filho. O caso segue sem solução após três anos de investigação da Polícia Civil e outros três da Polícia Federal.

Atualmente, Jurandir Patrocínio cuida dos três filhos do irmão assassinado e é responsável pela comunidade quilombola. É ele também quem lidera os esforços para o lançamento do instituto em memória à sua mãe.

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