Histórias do feminino não traduz a realidade das mulheres negras

FONTEPor Mônica Aguiar, enviado ao Portal Geledés
Foto: Stock/Adobe

As pessoas adoram contar fatos da história do voto feminino brasileiro. No mês de Fevereiro a história da líder feminista e política Bertha Lutz entra em sena para dar luz a esta grande conquista, além da reafirmação como uma das maiores figuras do feminismo no Brasil no início do século XX e, peça fundamental na luta para a conquista do direito do voto feminino brasileiro.

Mas como não falar da mulher que elevou o discurso de defesa do voto feminino em nível internacional e em conjunto com a anarquista Maria Lacerda Moura e a jornalista e comunista Eugênia Moreyra, da Liga para Emancipação Intelectual da Mulher construiu o embrião da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino (FBPF), fazendo com que o voto feminino tomasse corpo no Brasil?

Como podemos deixar de falar e lembrar do periódicos “A Família“, de Josefina Álvares de Azevedo que se tornou um dos principais veículos de propaganda do direito ao voto?

A história é longa e traz consigo variantes que se modificam de Estado para Estado, criando um grande mosaico na história emancipacionista das mulheres brasileiras.

No Rio Grande do Norte, Celina Guimarães Viana, foi a primeira mulher a votar no Brasil. A fazendeira Alzira Soriano de Souza tornou-se a primeira mulher eleita, e não pode tomar posse como prefeita em sua cidade. Em Pernambuco Maria Amélia de Queiróz redigia artigos em favor da república e da participação das mulheres nas “lutas dos homens”. No Ceará, Maria Tomásia Figueira de Melo presidia a sociedade abolicionista feminina Cearenses Libertadoras. Na Bahia Amélia Rodrigues protestou contra o envio de cativos para a Guerra do Paraguai. Leolinda Daltro feminista bahiana primeira presidenta do Partido Republicano Feminino (PRF) foi fundado em 23 de dezembro de 1910. A médica paulista Carlota Pereira de Queirós a primeira mulher a ser eleita deputada federal da América Latina e a única após a composição da Assembleia Constituinte.

Em Minas Gerais, Mietta Santiago, estudante de Direito, conquistou o direito ao voto através de um mandado judicial de segurança, embasado no artigo 70, da Constituição Brasileira criada em 1891, 11 anos após a aprovação da Lei do Ventre Livre.

A discussão sobre o voto feminino, nesta época, havia chegado ao Congresso, mas foi rechaçada pela maioria dos deputados sob a alegação da inferioridade da mulher e que este direito colocaria em risco a preservação da família brasileira.

Foi a forte pressão de grupos feministas e o alvoroço midiático contra forma de governo de Getúlio Vargas que fez com ele assinasse o decreto que sancionava o direito de voto para as mulheres da sociedade brasileira.

Isto apenas 44 anos após a abolição da escravidão no Brasil.

Neste período onde estavam as mulheres negras brasileiras? Nas senzalas ou nos porões dos casarões exercendo função escrava? Mucambas. Amas de leite. Criadas mudas de um tempo que é aplaudido por ter avançado pela conquista do voto feminino. Mas estagnou a vida das mulheres negras e suas gerações com as medidas tomadas pelo Estado.

O direito ao voto era reservado somente às mulheres casadas, autorizadas pelos maridos a exercer o voto, alfabetizadas com comprovação de renda, viúvas e solteiras cuja renda era oriunda de seus próprios esforços.

Quantas mulheres negras tinham estas condições no Brasil ? Abolição até o presente momento estar inconclusa.

A atual Constituição Brasileira foi elaborada 100 anos após a escravidão em 1988, quantas mulheres negras já votavam?

Incrivelmente este mês de fevereiro de 2022 tem 28 dias e fevereiro de 1932 tinha 29 dias. Hoje aproxima a grande data histórica do voto feminino com seus 90 anos ao Dia Internacional de Luta das Mulheres, o 08 de Março, instituído na Dinamarca aos 22 aos após a abolição da escravidão no Brasil.

Mas qual é o papel das mulheres negras na sociedade brasileira? O esforço para diminuir o preconceito e a desvalorização das mulheres não incluiu as mulheres negras.

Porque não existe notas, matérias que falam das mulheres negras nesta parte da história tão comemorada? Onde estão as mulheres negras?

Almerinda Farias de Gama Mulher negra jornalista, Alagoana é invisibilidade pela história, mesmo sendo uma das primeiras mulheres a votar no Brasil, em 1932. Uma das mais combativas lideranças do movimento organizado de mulheres nos anos de 1930.

A professora Antonieta de Barros foi primeira mulher negra a ser eleita para uma cadeira na Assembleia Legislativa.

A história das mulheres negras somente tem visibilidade se garantir grandes projeções para a forte informadora. Para isto é considerados apenas o resultado.

Quantas Almerindas, Antonietas e Lélias que existem e que lutaram e lutam por direitos e por liberdade?

“Passados quase 90 anos da conquista do direito ao voto pelas mulheres alfabetizadas no Brasil, ainda há a percepção de que o êxito da aceitação feminina na cidadania é fruto do trabalho de articulação política empreendido unicamente por mulheres brancas e que mulheres negras estariam apartadas de toda a movimentação política que existia neste período histórico”.

É preciso incluir as mulheres negras na historia das mulheres brasileiras. Ressaltar para além do papel de escravas ou cativas. É preciso falar do importante papel que as mulheres negras desempenham na vida politica do Brasil . Citar nomes, reeditar a historia e fechar os porões .

** ESTE ARTIGO É DE AUTORIA DE COLABORADORES OU ARTICULISTAS DO PORTAL GELEDÉS E NÃO REPRESENTA IDEIAS OU OPINIÕES DO VEÍCULO. PORTAL GELEDÉS OFERECE ESPAÇO PARA VOZES DIVERSAS DA ESFERA PÚBLICA, GARANTINDO ASSIM A PLURALIDADE DO DEBATE NA SOCIEDADE.

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