‘Hoje cativeiro é favela’

Sambas das escolas do RJ e de SP falam da importância do negro na sociedade

FONTEPor Ana Cristina Rosa, da Folha de S. Paulo
Integrante de escola se samba prepara carro alegórico para os desfiles no Sambódromo do Anhembi, em São Paulo (Foto: Eduardo Anizelli/Folhapress)

Para quem ainda não entendeu que o Carnaval é muito mais que um simples festejo ou um feriado prolongado, segue um alerta de spoiler. Em 2022, muitos sambas das escolas do grupo especial do RJ e de SP contêm temas sobre a importância do negro na construção da sociedade brasileira.

São enredos que exaltam a religiosidade, a resiliência, a capacidade, a consciência e o orgulho negro. Em tempos de manifestações cada vez mais bizarras e frequentes de ódio racial, discriminação e preconceito, é uma bela resposta pública às agressões.

O samba da Beija-Flor levanta questões como a subalternidade, o extermínio e a constante suspeição a que pessoas negras estão sujeitas. É um show de realidade em forma de poesia, que, entre outras coisas, diz:

“A nobreza da corte é de ébano/Tem o mesmo sangue que o seu/Ergue o punho, exige igualdade/Traz de volta o que a história escondeu/(…)/Mas você não reconhece o que o negro construiu/(…)/E o meu povo ainda chora pelas balas de fuzil/Quem é sempre revistado é refém da acusação/(…)Por um novo nascimento, um levante, um compromisso/Retirando o pensamento da entrada de serviço”.

Paraíso do Tuiuti, Salgueiro, Mocidade, Grande Rio, Tijuca e Vila Isabel saúdam o conhecimento e a resistência negra. “Um dia meu irmão de cor/Chorou por uma falsa liberdade/(….)/Hoje cativeiro é favela/De herdeiros sentinelas/Da bala que marca, feito chibata”, diz o Salgueiro.

Gaviões da Fiel canta que “Esta terra é de quem tem mais/Conquistada através da dor”. Colorado do Brás traz a história da escritora Carolina Maria de Jesus, e Mocidade Alegre a da sambista Clementina de Jesus. E tem ainda os sambas da Vai-Vai, Águia de Ouro e Barroca Zona Sul.

O Carnaval, além de rica manifestação cultural, movimenta a economia e serve como período de reflexão sobre as mazelas do Brasil. Como diz o jornalista Rafael Moraes Moura, é uma forma de pôr o país no divã.

-+=
Sair da versão mobile