Homem negro é agredido após ser confundido com ladrão em Copacabana: ‘Sou trabalhador’

Agressão ocorreu no dia seguinte a uma série de ataques de moradores da Zona Sul, que se identificam como 'justiceiros'. O grupo justifica suas ações como forma de combater o crime no bairro.

FONTEG1, por Pedro Bassan
Reprodução

Em meio a série de casos de violência em Copacabana, na Zona Sul do Rio, um vendedor de balas foi agredido após ser confundido com ladrão, nesta quarta-feira (6).

Matheus Almeida estava trabalhando e chegou para vender balas em um restaurante do bairro, quando foi surpreendido pelo garçom do estabelecimento, que o agrediu com socos.

“Sou pai de família, trabalho honestamente. Sou trabalhador, todo mundo sabe. Olha como eu me visto, não sou mendigo, não sou crakudo. Eu saí lá de Santa Cruz, tenho uma filha, uma esposa e preciso levar alimentação para casa. Não preciso roubar nada de ninguém. Meu negócio é trabalhar”, contou Matheus após ser agredido.

A agressão por engano a um jovem trabalhador é o retrato atual de Copacabana, bairro que virou palco para cenas de violência e confusão.

Nos últimos dias, grupos de criminosos provocaram uma série de assaltos e agressões no bairro. Imagens de câmera de segurança mostraram mulheres sendo atacadas e até a forte agressão contra um empresário, que acabou desmaiado.

Essa rotina de violência nos últimos dias motivou o reaparecimento de grupos de “justiceiros” no bairro, prática já vista em 2015. Por grupos de WhatsApp, eles se dividem em grupos para “caçar” – como eles definem – quem rouba na região.

“Eu vou partir assim [com soco-inglês], quebrar osso da cara. Deixar eles [SIC] pior do que eles deixaram o coroa”, disse um integrante do grupo União dos Crias.

‘Justiceiro’ de Copacabana mostra soco-inglês — Foto: Reprodução

Em nota, a Polícia Civil informou que tomou conhecimento da situação e disse que diligências estão em andamento para identificar os envolvidos e esclarecer os fatos. Os delegados da 12ªDP (Copacabana) e 13ªDP (Ipanema) estão atuando nas investigações e analisam vídeos de redes sociais para identificar os suspeitos.

Fazer “justiça com as próprias mãos” é crime previsto no artigo 345 do Código Penal Brasileiro. E foi com base na lei que o secretário de Segurança do RJ, Victor Santos, comparou a atuação dos ‘justiceiros’ às milícias e grupos de extermínio. Para o secretário, os justiceiros também são criminosos.

“Justiceiro é o berço da milícia. É exatamente isso, um grupo que se acha acima do bem e do mal, que se acha no direito de fazer justiça com as próprias mãos. E antes da milícia, nós tínhamos os grupos de extermínio. Praticam crimes com o objetivo de evitar crimes. Na verdade, são todos eles criminosos. O justiceiro é criminoso”, afirmou Santos.

Corredor de Segurança

Em resposta ao cenário de violência, o Governo do RJ e a Polícia Militar decidiram que o bairro terá um “corredor de segurança”. Para isso, haverá a distribuição de viaturas baseadas ao longo da Avenida Nossa Senhora de Copacabana, no âmbito da Operação Verão.

As viaturas ficarão na Nossa Senhora de Copacabana das 18h às 23h. Em seguida, o corredor será reposicionado ao longo da Avenida Atlântica. O objetivo é melhorar a segurança de moradores e turistas que frequentam o calçadão e quiosques.

Além disso, as abordagens serão intensificadas. Vão participar da iniciativa agentes do programa Copacabana Presente, da Secretaria de Governo, do Rio Mais Seguro, da Prefeitura do Rio, além dos guardas municipais.

Índices de furtos e roubos disparam

Dados do Instituto de Segurança Pública apontam que Copacabana teve alta de roubos (25%) e furtos (23%), na comparação entre 2022 e 2023.

Entre os indicadores de violência analisados, os de maior destaque negativo são: Furto a transeunte, que aumentou 56,3% em um ano; roubo de celular, com 47% de aumento; furto de celular, que registrou crescimento de 34,9%; e furto em coletivo, com 23% de aumento.

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