Homem preso por reconhecimento fotográfico em foto 3×4 antiga deixa a cadeia no Rio

Jeferson Pereira da Silva, de 29 anos, foi apontado como autor de um roubo por meio de uma imagem de mais de dez anos. Foto usada para reconhecimento era de 10 anos atrás.

FONTEDo G1
Jeferson Pereira da Silva foi solto após ser preso injustamente (Foto: Reprodução/TV Globo)

O motorista de aplicativos e montador de móveis Jeferson Pereira da Silva, de 29 anos, deixou nesta segunda (13) a Central de Triagem em Benfica, na Zona Norte do Rio. Jeferson é mais um caso de uma pessoa presa preventivamente com base apenas em um reconhecimento fotográfico. E o pior: a imagem para produzir prova contra ele é de um retrato tamanho 3×4 e com mais de dez anos de existência, que o mostra ainda adolescente. Foram seis dias preso injustamente.

Na delegacia, Jeferson foi reconhecido como autor de um roubo cometido no dia 4 de fevereiro de 2019. A vítima registrou a ocorrência 21 dias depois, disse que teve uma arma apontada para si e que o celular, R$ 5 e a identidade foram levados.

O advogado dele, Carlos Dutra, conseguiu um habeas corpus pela soltura no Plantão Judiciário, e o jovem deveria ter sido solto neste domingo (12). Mas um erro de digitação no alvará acabou atrasando o trâmite. Jeferson foi solto durante o Bom Dia Rio desta segunda.

“Os piores dias da minha vida, nunca mais quero voltar. Isso aí não se chama de presídio, Deus me livre. Eu gostaria de dizer o pensamento foi sempre neles, meu pai, minha mãe, minha irmã, minhas sobrinhas, rezei muito pra que essa hora chegasse”, afirmou o jovem, na porta da cadeia.https://d2182993621ab015f2cfe37b6295dbee.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html

A luta, agora, é para limpar seu nome. “Eu ainda não sou inocente. Todo mês eu vou ter de voltar aqui, nesse inferno”, pontuou.

Jeferson só soube que tinha o nome na polícia oito meses depois, durante uma abordagem de policiais militares do programa Méier Presente.

“Na quarta-feira (8), meu irmão foi chamado para receber um saldo do cálculo de uma rescisão de um contrato de trabalho que foi de 2015, e foi chamado para receber em um shopping em Del Castilho. Chegando lá não havia escritório da empresa. Tinha duas viaturas aguardando e deram voz de prisão”, diz Fernanda Pereira da Silva, irmã de Jeferson.

“Ele nunca teve passagem pela polícia. Por que a foto dele estava no álbum da delegacia?”, questiona.

Ela conta ainda que foi ele foi orientado a ir até a delegacia onde o crime foi registrado. Jeferson foi até o lugar, sozinho, no próprio veículo e ligou para casa para contar o que estava acontecendo.

Rapaz se apresentou na delegacia

A informação consta no depoimento de Jeferson, que informa que ele compareceu espontaneamente, informou que vivia com os pais no bairro Engenho Novo, que era funcionário de uma empresa e que acreditava ter sido confundido pelo reconhecimento fotográfico, já que nunca praticou condutas ilícitas.

A irmã de Jeferson diz ainda que no dia do roubo, ele estava em casa com a família.

“Ele estava em casa. Era uma segunda-feira, estava comigo, a minha mãe e minhas duas filhas”, diz Fernanda.

Retrato é de quando jovem tinha 14 anos

Foto de Jeferson, aos 14 anos, usada para fazer o reconhecimento do rapaz, hoje com 29 anos. (Foto: Reprodução/TV Globo)

Jeferson tinha 27 anos na época em que foi reconhecido pela vítima por um retrato 3×4 de quando ele tinha 14 anos.

“O que essa foto está fazendo lá? O Jeferson nunca teve passagem, nem quando era de menor. O que essa foto está fazendo lá? ”, questiona Fernanda.

Na quinta-feira (9), Jeferson foi transferido da delegacia de Inhaúma, para a Central de Custódia, em Benfica, na Zona Norte do Rio.

“Recentemente a 1ª turma do STF e a 6ª do STJ se alinharam no sentido que prisão preventiva e sentença condenatória não pode ser embasada unicamente em reconhecimento fotográfico em sede policial”, diz o advogado de Jeferson, Carlos André Dutra, que conta ainda com o apoio da Defensoria Pública para tentar reverter o caso.

O que diz a Polícia Civil

A Secretaria de Estado de Polícia Civil informou que a foto do Jeferson já foi retirada do álbum de suspeitos da delegacia. E que o inquérito foi relatado pelo delegado à época e o reconhecimento fotográfico pela vítima ocorreu na gestão passada.

Quanto ao reconhecimento por foto, a Polícia Civil reforçou que a atual gestão recomendou que os delegados não usem apenas o reconhecimento fotográfico como única prova em inquéritos policiais para pedir a prisão de suspeitos.

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