Se houvesse um motivo apenas para ver “How to Get Away With Murder”, seria a atriz principal, Viola Davis, impecável no papel da promotora Annalise Keating, especialista em casos de assassinato e professora numa faculdade de Direito.
Mas há muitos outros.
A série, cuja primeira temporada está no Netflix, é uma montanha russa de reviravoltas em tribunais em que cada capítulo encerra uma surpresa. No centro da trama está a morte de uma cheerleader. O marido de Annelise, professor da moça, é um dos principais suspeitos.
Os assistentes dela são sete alunos, escolhidos entre os melhores na sala. Recebem um prêmio pelos resultados. A corrida em busca de provas lembra um reality show, em que uns pisam na cabeça dos outros para faturar o primeiro lugar.
Ninguém é o que parece ser — inclusive a heroína Annelise. O honesto Wes (Alfred Enoch, excelente) não é tão gente fina assim; a ambiciosa Michaela tem esqueletos no armário do futuro marido rico; a sincera Laurel é tão sincera quanto a mulher de Eduardo Cunha.
Cada episódio traz um caso diferente, enquanto cenas em flashback mostram os probos meninos de Annelise tendo de lidar com um corpo queimado numa fogueira, o grande mistério do seriado.
Viola Davis ganhou o Emmy pelo papel. Fez um discurso belíssimo sobre negros e oportunidades. É uma daquelas intérpretes sobre as quais você se pergunta como é que não fez mais filmes. (Para refrescar a memória, ela foi indicada para o Oscar de coadjuvante por “Histórias Cruzadas”).
Carismática, arrogante, ela manipula seus estudantes. Todos os futuros advogados querem agradá-la e fazem de tudo — tudo — para que ela reconheça seus esforços. As sequencias em que Annelise/Viola tira a maquiagem e se transforma em uma figura vulnerável são de deixar Meryll Streep no chinelo.
“How to Get Away With Murder” tem a marca da produtora e roteirista Shonda Rhimes, a primeira mulher a emplacar três séries no horário nobre da TV americana: “Grey’s Anatomy”, “Scandal” e “HTGAWM”.
Sanguínea, Shonda respondeu a uma matéria sobre sua predileção por “elencos étnicos” na lata: “O artigo é tão ignorante que vou ignorá-lo”. Volta e meia encrenca também com ativistas de movimentos raciais (ela é negra).
Shonda gosta de dizer que suas histórias podem até não fazer sentido, “mas nunca são entediantes”. “How to Get Away With Murder” é a prova cabal disso.