Sueli Carneiro será homenageada hoje e domingo pelo bloco afro Ilú Obá de Min; participe desta festa 

Filósofa, ativista e fundadora do Geledés será celebrada por sua força e coragem a serviço do coletivo, em especial das mulheres negras

FONTEpor Kátia Mello
Beth Beli, presidenta e maestra, no comando do Ilu

Depois de três anos longe das ruas de São Paulo, o bloco afro Ilú Obá de Min volta neste Carnaval com o tema “Akíkanjú: Pensamento e Bravura de Sueli Carneiro”. A femenageada, termo usado pelo próprio bloco, é a filósofa, ativista e fundadora do Geledés-Instituto da Mulher Negra. Akíkanjú em iorubá significa coragem e não poderia haver melhor termo para soar nas vozes e nos tambores do Ilú nessa emocionante homenagem à Sueli. 

A escolha da ativista e filósofa vai de encontro aos mesmos princípios usados anteriormente para celebrar a vida e a obra de Elza Soares e Lia de Itamaracá, por exemplo, que são referências de ação política e luta do movimento social negro para todas as mulheres pretas do Brasil. 

Sueli Carneiro, a homenageada, durante os ensaios

“Homenagear Sueli Carneiro em vida, enquanto ela ainda está entre nós, produzindo, entregando, é uma honra. Temos que reverenciar as pessoas que estão fazendo o trabalho aqui, hoje. Fizeram no passado e vão fazer no futuro. São mulheres negras como Lia de Itamaracá, Elza Soares. Agora, a gente homenageia Sueli com muito carinho e felicidade no tema akídanjú, que é relacionado à coragem de Sueli a serviço do coletivo. A braveza e a coragem da produção e a existência de Sueli Carneiro é tema perfeito para nossa volta ao carnaval de rua, partindo de uma visão de mundo de equidade racial, de gênero e de igualdade de oportunidades que ela representa”, disse ao Geledés Daiane Perini, coordenadora do Ilu.

O convite a Sueli Carneiro pelo Ilu foi feito no ano passado e desde então o bloco vem trabalhando com a femenageada. “Primeiro lemos o livro sobre ela de autoria de Bianca Santana. Depois ouvimos o podcast com Mano Brown, que foi maravilhoso, pois nos deu muitas ideias. E também há a relação dos orixás dela, Ogum, Oxumaré e Iansã. O que queremos trazer é a história dessa mulher negra no Brasil e no mundo, que carrega esse orixá Ogum que abre caminhos, porque Sueli abriu caminhos para muitas mulheres. Nós somos um secto do Exército de Sueli Carneiro. Estamos juntas. E vamos reverenciá-la com algumas surpresas”, conta ao Geledés a presidenta e uma das fundadoras do bloco afro, Beth Beli. 

Foto: Natátlia de Sena – Cibelle de Paula, coordenadora do Ilu

Apesar de anunciar surpresas, Beth dá algumas dicas da apresentação que acontecerá em dois dias, nesta sexta-feira às 20h, e no domingo, às 14h, com o cortejo saindo do Vale do Anhangabaú, no Centro de São Paulo. “Será uma ópera. No primeiro ato, vamos coroar Sueli Carneiro. O segundo ato será nas escadarias do Teatro Municipal de São Paulo e no terceiro ato haverá uma leitura de um texto de Lenny Blue de Oliveira”, revela. 

Geledés conversou com a advogada, ativista e uma das fundadoras do Movimento Negro Unificado (MNU) Lenny Blue de Oliveira sobre a elaboração do texto “Ode a Sueli”, que será lido durante o cortejo. Lenny e Sueli são amigas há quatro décadas e ela não esconde a felicidade de estar participando. “(Para escrever o texto), pensei no caminho que Sueli percorreu, eu a conheço há 44 anos. Nos caminhos que nós percorremos, nas teses que dão alicerce aos nossos fundamentos, no espelho que ela reluz para a luta do mulherio. Tanta coisa…demorei três dias absorvendo, ouvindo as lives dela”, diz. 

Foto: Kátia Mello – Coreografia se baseia nos orixas de Sueli

Dança

A coreografia também foi pensada de uma maneira muito especial. A proposta de abordagem era trazer os orixás de Sueli (Ogum, Oxumaré e Iansã) com a energia da guerra, da defesa. “Coragem e resistência são características do Movimento Negro que se vinculam à trajetória de Sueli. Nossa referência (para a coreografia) foi a movimentação da narrativa filosófica dos itãs da energia de guerra que todos os orixás têm. Fizemos essa licença de embate, de coragem para grupos étnicos africanos. A ideia é emocionar e inspirar para termos mais nutrição nas lutas cotidianas da vida e mostrar que a maior resistência da população negra, partindo da história da Sueli, é na corporeidade combativa. A luta é nossa nutrição, assim como a coletividade. Existe um fluxo da narrativa dos orixás. Esse panteão é subjetivo, mas há uma unidade, uma vez que todos os orixás se inter-relacionam”, disse Cibelle de Paula,  coordenadora do Ilu.Nos ensaios, já dava para se ter uma ideia da comoção que o cortejo provocará nas ruas de São Paulo. “Nascida de Ogum, Equedy de Iansã, Sueli nos ensina que nas guerras das mulheres podemos ser linha de frente, podemos estar na retaguarda para nos enegrecer”, cantavam as mulheres. O bloco sairá com 462 percussionistas, 320, bailarinas e bailarinos no corpo de dança, 35 cantoras e 15 pernaltas e mais 100 pessoas na harmonia. No último ato da ópera, a Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos abrirá suas portas e os tambores do Ilu ecoarão a força e a coragem de Sueli. 

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