Império e Escravidão

Um breve resumo do tráfico transatlântico de escravos –Parte V

por David Eltis (Emory University) no Slave Voyages

Na segunda metade do século XVIII, havia seis sistemas imperiais em torno do Atlântico, cada um sustentado por uma rede de tráfico de escravos. Ingleses, franceses, portugueses, espanhóis, holandeses e dinamarqueses operavam todos por trás de barreiras comerciais (denominadas restrições mercantilistas) e produziam uma gama de produtos em plantations — açúcar, arroz, anil, café, fumo, álcool e alguns metais preciosos —, mas o açúcar era normalmente o mais valioso. É extraordinário que a busca dessa limitada gama de bens de consumo exóticos, que contribuiu coletivamente tão pouco para o bem-estar humano dos consumidores, possa ter acarretado durante tanto tempo os horrores e misérias da travessia do Atlântico e da escravidão nas plantations. Dada a predominância dos traficantes de escravos portugueses e britânicos, não é de estranhar que o Brasil e as Américas britânicas tenham recebido a maioria dos africanos, embora ambas as nações também tenham se tornado peritas em abastecer sistemas de escravos estrangeiros.

Durante toda a era do tráfico negreiro, mais de setenta por cento dos escravos foram para essas regiões. As Américas Francesas importaram cerca da metade do número de escravos adquiridos pelos britânicos, a maioria deles se dirigindo a São Domingos. A bandeira espanhola, que predominou na fase inicial do tráfico antes de se retirar em face da concorrência, voltou a se expandir no final do século XIX com o crescimento da economia açucareira cubana.

No entanto, no período de um século que se seguiu — entre 1750 e 1850 — cada um desses impérios ou desapareceu ou encolheu drasticamente.

Ocorreu uma grande guinada para o livre comércio, e a consequência foi que ao invés de seis impérios de plantations controlados da Europa, havia agora apenas três sistemas de plantations, dois dos quais — o Brasil e os Estados Unidos — eram independentes, e o terceiro, Cuba, muito mais rico e dinâmico do que seu proprietário europeu.

Nesses tempos de extrema especialização, os Estados Unidos produziam a maior parte de algodão do mundo, Cuba a maior parte do açúcar, enquanto o Brasil exercia um domínio semelhante sobre o café.

Cotton-slavary

Assim, os escravos desembarcavam em seis jurisdições distintas nas Américas no século XVIII, mas em 1850 eles eram quase todos destinados a apenas duas áreas, Brasil e Cuba, pois os produtores de algodão norte-americanos praticamente não importavam força de trabalho da África, contando apenas com a crescimento natural da população e com o tráfico de escravos doméstico.

De fato, os Estados Unidos absorveram no geral apenas cinco por cento dos escravos que aportaram nas Américas. Esta reorganização maciça do tráfico e o rápido crescimento vegetativo da população cativa nos EUA teve pouco impacto imediato sobre o tamanho do tráfico de escravos.

Os britânicos, norte-americanos, dinamarqueses e holandeses se retiraram do tráfico de escravos, mas na década de 1821-1830 mais de 80 mil pessoas ainda partiam anualmente da África em navios negreiros.

Bem mais de um milhão — um décimo do volume total transportado na era do tráfico de escravos — seguiram nos vinte anos subsequentes.

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leia também: 

Um breve resumo do tráfico transatlântico de escravos PARTE I
A escravização de africanos PARTE II
Agência e resistência africanas PARTE III
Primeiras viagens negreiras PARTE IV

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