Instituições do mercado financeiro assinam compromisso com a equidade racial

Anbima, B3, Febraban e Fecomercio tornaram-se apoiadoras do Pacto de Promoção da Equidade Racial

FONTEPor Thiago Bethônico, da Folha de S. Paulo
Homem negro passa de bicicleta por ciclovia na Faria Lima trabalhando em entregas por aplicativo (Foto: Danilo Verpa/ Folhapress)

Instituições ligadas ao mercado financeiro firmaram um compromisso coletivo com o combate à desigualdade racial.

Na tarde desta terça (9), a Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), a B3 (Bolsa de Valores do Brasil), a Febraban e a Fecomercio tornaram-se apoiadoras do Pacto de Promoção da Equidade Racial, iniciativa que busca estimular o mundo corporativo a adotar ações para enfrentar o problema.

A adesão ao Pacto ocorre no mês da Consciência Negra, e sinaliza que a questão racial precisa ser trazida para o centro do debate econômico brasileiro.

“No mês em que a sociedade nos convida a refletir sobre equidade racial, falar de avanços é importante, mas trabalhar para que eles não se esgotem é ainda mais significativo”, disse Ana Buchaim, diretora executiva de Pessoas, Marketing, Comunicação e Sustentabilidade da B3.

Durante o evento de assinatura da adesão, Buchaim disse que um dos papéis da B3 enquanto infraestrutura do mercado de capitais é incentivar boas práticas ESG (ambientais, sociais e de governança, na sigla em inglês).

“Queremos contribuir com a questão racial no debate econômico brasileiro e incentivar a adoção de boas práticas por parte das companhias listadas e do mercado financeiro como um todo”, afirmou.

O Pacto de Promoção da Equidade Racial foi criado em julho de 2021 e envolve entidades da sociedade civil, representantes da comunidade negra, especialistas e investidores.

O objetivo da iniciativa é fornecer um roteiro às empresas sobre como avançar nas questões raciais, de modo que elas sejam não apenas antirracistas, mas protagonistas nessa causa.

Quem apoia o Pacto se compromete com um protocolo racial, que propõe que as organizações trabalhem o tema internamente —por meio de ações afirmativas, como cotas e processos seletivos exclusivos para negros—, e externamente, com investimentos em educação pública e na formação de profissionais.

“Resolver a desigualdade racial na nossa sociedade passa pelo investimento social privado em equidade, investimento em educação pública, formação técnica e em empreendedorismo ​negro. Esses quatro fatores formam um novo protocolo ESG racial”, afirmou Gilberto Costa, diretor-executivo do Pacto.

Também participou do evento Helio Santos, presidente do conselho deliberativo do Pacto e cujo ativismo em prol dos direitos da população negra data dos anos 1970. Para ele, a desigualdade racial no mercado de trabalho tem desdobramentos relevantes para a economia.

“Quando os macroeconomistas calcularem o custo de oportunidade que o Brasil paga por desperdiçar talentos, nós teremos uma comoção, porque ninguém pode, impunemente, desperdiçar talentos”, disse.

Contudo, Santos diz que o setor corporativo está, hoje, bem mais permeável à discussão sobre desigualdade racial do que há alguns anos. “Em 2005, 2010, 2015 nós tínhamos uma dificuldade maior para trabalhar no campo corporativo. Não adianta só o Estado [agir], o setor corporativo é fundamental, ele é decisivo”, afirmou.

Marcelo Billi, superintendente de comunicação, educação e certificação da Anbima, disse que a importância do tema já é percebida no mercado. Segundo ele, uma pesquisa feita com os associados da instituição avaliou quais eram as principais demandas no mercado financeiro e de capitais.

“80% dos nossos associados, ou seja quase um consenso, nos disseram que a pauta de equidade racial é uma prioridade no mercado hoje”, disse.

Ao aderir à iniciativa, as instituições também poderão calcular o seu IEER (Índice ESG de Equidade Racial) para ver o quão equilibrada racialmente estão. O índice foi criado pelo Pacto e funciona como um rating (classificação), medido a partir da quantidade de pessoas negras em cada cargo e da massa salarial que elas representam.

A nota pode ser melhorada com a adoção de ações afirmativas e o compromisso de realizar investimentos em equidade racial.

“Quando a gente consegue avaliar em que estado estamos, a gente ganha uma sobriedade e condição de agir em direção à equidade racial”, disse Buchaim.

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