Irmãs sergipanas fazem sucesso com grife inspirada na cultura africana

Confira a primeira reportagem da série Made in Sergipe

Por Fernanda Araujo, do F5News 

Elas são irmãs e, além disso, sócias em um empreendimento de moda afrobrasileira em Sergipe – a grife Maria Marrenta. Apaixonadas pelo estilo da moda étnica, Amanda Rodrigues e Fernanda Teles sempre procuraram por roupas diferenciadas, mas a falta desse tipo de peça no mercado local inspirou as meninas. Elas começaram a confeccionar as próprias roupas com produtos da terra, tanto para usá-las, quanto para comercializá-las.

“Nessa trajetória de não encontrar roupas diferentes, às vezes tínhamos que viajar para Salvador, Rio de Janeiro e São Paulo. Então, criamos o ateliê”, diz Amanda. Sem se contentar com o padrão da moda, o espaço das irmãs surgiu com a proposta de atender a todos os tamanhos e idades, diversificando a gama de produtos desde roupas a acessórios e objetos de decoração, sempre mantendo o estilo afro.

“A gente tenta pegar todo esse leque da população, tanto tamanho PP como XG, você vai encontrar, sendo criança, adulto ou idoso”, comenta Amanda, que é formada em designer de interiores e responsável pela maioria dos desenhos.

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As jovens começaram a ter um insight de criação pesquisando sobre as raízes africanas na internet. “Trazia para o ateliê para ver se combinava e com essas peças começamos a comercializar”, lembra Amanda. A primeira coleção para o lançamento da grife foi baseada no Carnaval e em instrumentos musicais. “Trabalhamos berimbau, tambor, agogô. Por trás de tudo que a gente produz tem um embasamento teórico”.

Todas as roupas são desenhadas pelas irmãs – traços que vêm de família. “É como um trabalho de formiguinha. Juntamos as ideias, depois escolhemos os tecidos, alguns deles compramos prontos, outros a gente pinta e borda. Dos croquis mandamos para um designer amigo nosso para ver como fica, mas vamos criando algo com cara própria”, detalha.

A marca bastante sugestiva também não passa despercebida. “O Maria por todas nós mulheres, as ‘marias’. O marrenta significa que são mulheres de atitude, de vontade própria, que querem usar uma estampa diferenciada, um penteado próprio”, comenta Fernanda. “Temos o cuidado para não ter peças iguais”, acrescenta.

E o que começou quase que por acaso aos poucos vai ganhando fôlego – atualmente o ateliê produz até 50 unidades de acessórios por mês.

Preconceito

Se manter um negócio já é desafiador, para a Maria Marrenta, a situação é ainda mais delicada, pois elas precisam lidar com o preconceito. Segundo as empresárias, há um tanto de rejeição porque as peças são produzidas em Sergipe e também pelo que elas acreditam ser um estigma social em relação ao conceito de cultura africana. “As pessoas perguntam: é de Salvador? Quando negamos é como se fosse um choque porque, se não é de Salvador, não presta. Não olham o material”, ressalta Fernanda. “As pessoas ligam muito a cultura somente à religião. Achavam que vendíamos roupa de candomblé já que é afro. É uma roupa de traço africano, mas que qualquer pessoa pode usar para trabalhar, ir ao shopping ou à festa”, completa Amanda.

Altos e baixos

Com quatro anos completos em dezembro de 2015, o ateliê também já navegou pelos mares oscilantes do mercado como todo novo negócio. A produção que começou na casa das irmãs logo se mudou para um espaço próprio, mas que não durou mais de um ano. As finanças apertaram e elas optaram por voltar à residência. No começo, buscaram parceira em instituições financeiras, mas a informalidade barrou a possibilidade de um financiamento. Agora, elas apostam na divulgação através do instagram e, com o CNPJ nas mãos, as empreendedoras já exportam seus produtos e esperam alavancar os negócios para reconquistar a loja física.

“A gente sabe que todo o trabalho no início é muito difícil, mas a marca está se firmando. A gente está sempre criando um adereço novo, uma coleção nova. Não fizemos só peças para serem bonitas, mas para ter um diferencial que a pessoa se identifique e quando olhar saiba que é da Maria Marrenta. A gente tem a nossa beleza, só precisa enxergar”, resumem.

Informalidade que dá certo

O trabalho por conta própria já representa quase 20% de todas as ocupações nas principais cidades do Brasil, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Histórias como a de Amanda e Fernanda se confundem com a de dois milhões de brasileiros que atualmente participam do CrediAmigo do Banco do Nordeste, considerado o maior programa de microcrédito produtivo orientado da América do Sul.

O gerente de negócios do BNB, Breno Valentim, explica que os empreendedores urbanos formais e informais podem participar do programa desde que atendam a alguns requisitos. “O principal deles é o faturamento de no máximo dez mil reais ao mês, o que equivale a cento e vinte mil reais por ano”, ressalta.

Para Valentim, um dos segredos do sucesso de um empreendimento é a orientação de um consultor que acompanhe a atividade, o que diminui consideravelmente as chances de frustrações e resulta em mais lucro e menos inadimplência, sobretudo neste cenário adverso de recessão. “Os assessores de crédito não são apenas emprestadores de dinheiro. Eles fazem uma análise e acompanhamento do negócio. Como resultado disso o Crediamigo possui uma taxa de inadimplência inferior a um por cento”, explica.

Made in Sergipe

Esta é a primeira reportagem da série “Made in Sergipe”. Nesta segunda-feira (27) você vai conhecer a história de mais um sergipano que fez a diferença neste ano.

Fotos: Fernanda Araujo/F5 News

Infográficos: Will Rodrigues/F5 News

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