ITAN E TAL: Afrofuturismo e pertencimento afro-indígena no sul do Brasil

Grupo Baquetá traz em seu novo espetáculo a presença negra e dos povos originários no estado do Paraná não contada nos livros de história.

FONTEEnviado para o Portal Geledés
Grupo Baquetá (Imagem enviada ao Portal Geledés)

Guiada por Ananse, a aranha que trouxe as histórias pra terra, pela onça Jaguaretê, os seres da mata e por sua orixalidade, uma menina se confronta com a possibilidade de adentrar uma jornada rumo à sua própria história.

Até julho de 2023, cerca de 35 mil crianças da rede estadual e municipal de ensino, do Paraná, poderão embarcar nessa jornada junto à Nati, personagem de nove anos que vive essa grande aventura em busca de suas origens. Trata-se do espetáculo Itan e Tal, nova montagem do Grupo Baquetá, que se dedica a criar espetáculos com foco na identidade e cultura africana, afro-brasileira e dos povos originários, um projeto novo voltado para estudantes e, também, à comunidade local. 

Itan e Tal conta a história de Nati, uma menina pretinha, que canta e adora brincar. Ao inventar o jogo chamado Mundo Invertido das Palavras, descobre que seu nome ao contrário é “Itan”. Em seu mundo de fantasia, ela inicia uma profunda jornada em busca do significado desta palavra, encontrando a sua história afro-indígena, por meio de uma viagem ao passado e ao futuro. 

Grupo Baquetá (Imagem enviada ao Portal Geledés)

Diferente dos outros espetáculos que marcaram a trajetória bem sucedida e consistente do Grupo Baquetá, Itan e Tal desafia os atores a saírem do papel de narradores ou interlocutores de histórias tradicionais e recriadas, para a construção de sua próprias histórias e personagens, construídos à partir dos referenciais dos arquétipos dos orixás. “Todos nós, do Baquetá, fomos crianças afro-indígenas, sem informações de nossos antepassados, das nossas histórias”, conta Kamylla dos Santos, fundadora do Grupo Baquetá. Além da dramaturgia, a sonoplastia também é autoral, os atores são cantores e compositores de todas as músicas do espetáculo. A musicalidade africana, afro-brasileira e indígena é que embala toda a história!

O espetáculo estreou em Março, no Teatro Guaíra, principal palco da cidade de Curitiba, com casa cheia. Cerca de 900 pessoas assistiram ao espetáculo, em um final de semana. Itan e Tal segue em circulação estadual, até Junho de 2023, e depois inicia circulação nacional, em festivais e circuitos culturais e artísticos.

Equipe experiente e afro-indígena referenciada!

O projeto Itan e Tal reúne uma equipe afrocentrada: o ator, diretor e pesquisador Marcel Malê assina a direção cênica, Nelson Sebastião está a frente da direção musical, Kunta Leonardo da Cruz assina a direção de movimento e coreografias. A Cenografia é assinada pela artista visual Ayala Prazeres, os figurinos foram elaborados por Carla Torres da Africanize Ecodesign, Preto Martins é o Dj e sonoplasta do espetáculo e Nathan Gabriel é o responsável pelo desenho de luz. O Grupo Baquetá é formado pelos artistas André Daniel, Maycon Souza e Kamylla dos Santos, que também assina a direção de produção.

Grupo Baquetá (Imagem enviada ao Portal Geledés)

O Grupo Baquetá é um coletivo de teatro afro-referenciado, sediado em Curitiba, que mescla música, teatro, dança, contação de histórias e teatro de formas animadas. Para o Grupo, a base do espetáculo é imaginar possíveis futuros por meio de uma lente cultural negra e indígena, resgatando valores e princípios apagados pela colonialidade. Para chegar a essa proposta, a montagem é inspirada no cosmograma bakongo, que é uma representação simbólica dos ciclos do sol, da vida, do universo e do tempo, que explica a criação do mundo, a vida humana e os processos sociais como metáfora do ciclo vital. Além da circularidade do cosmograma, Itan e Tal também usa como referência as afrografias, oralituras e o tempo espiralar proposto por Leda Maria Martins, para apresentar elementos da orixalidade e do afro-futurismo. A dramaturgia é original, construída a partir de histórias de Ananse, o homem aranha que tece linhas que conectam os céus e a terra.

Itan e Tal é resultado de um edital direcionado para produção de obras literárias para crianças e, neste contexto, as histórias dos povos originários não são incluídas. É preciso falar dos orixás, de jaguaretê e de outros elementos presentes até hoje na cultura nacional, transmitidos pela oralidade. Os itan são milenares e fundamentaram a literatura clássica, como as fábulas de Esopo, com contos de animais, sentimentos duais e outros elementos. Sua construção narrativa é semelhante aos contos e mitos dos povos indígenas brasileiros. “O que torna uma obra literária um clássico é sua excelência, sua capacidade de ser atemporal, de gerar emoções e reflexões. É comum apenas obras europeias ou escritas por pessoas brancas entrarem nessa classificação. Itan e Tal busca ampliar essas referências. Pois há histórias milenares, contos africanos e indígenas, que até hoje fazem sentido, despertam sentimentos humanitários. É imprescindível incluir histórias de autoria negra e indígena dentre o rol dos clássicos, ainda mais no contexto da infância, em que padrões e visões de mundo estão sendo construídos”, explica Kamylla.

Itan e Tal é patrocinado pela Audi, por meio do edital do PalcoParaná e a Secretaria de Estado da Cultura, e levará a experiência do teatro para cerca de 35 mil crianças de Curitiba e região metropolitana em espetáculos diários, ao longo de março à junho.

Para saber mais sobre o Grupo Baquetá:

www.grupobaqueta.com.br

https://linktr.ee/grupobaqueta

Instagram: @grupo_baqueta

Facebook: Grupo Baquetá

(41) 99827-1737

Ficha técnica:

Realização – Grupo Baquetá; Dramaturgia – Kamylla dos Santos e André Daniel; Elenco – André Daniel, Kamylla dos Santos e Maycon Souza; Direção cênica – Marcel Malê; Direção de movimento – Kunta Leonardo da Cruz; Direção musical – Nelson Sebastião; Cenografia – Ayala Prazeres; Máscaras – Eduardo Santos; Figurinos – Carla Torres – Africanize; Visagismo – Kenia Coqueiro; Desenho de luz – Nathan Gabriel; Produção musical/ sonoplastia – Preto Martins; Fotos e vídeos: Stay Flow; Design gráfico – Keyla Lima; Ilustrações: Cleyton Telles; Composição musical – Grupo Baquetá; Mediação Cultural – Isabel Oliveira; Direção de produção – Kamylla dos Santos; Produção executiva – Maikon Gueiros; Assistente de Produção – Rapha Natel; Intérprete de Libras – Nathan Sales; Assessoria de imprensa – Flamma Comunicação.

O Grupo Baquetá é uma produtora especializada em espetáculos e oficinas teatrais, musicais e de dança, com base nos saberes africanos, afro-brasileiros e dos povos originários do Brasil. Idealizado por Kamylla dos Santos, o Grupo Baquetá foi fundado na cidade de Curitiba (PR), em 2009, visando preencher uma importante lacuna: divulgar a cultura brasileira ancestral.

Desde então, seu compromisso é construir coletivamente contextos que instiguem reflexões e entendimentos que promovam o respeito à diversidade, sobretudo étnico-raciais, por meio de práticas de teatro, dança, música, artes visuais e literatura. 

Na prática, os artistas profissionais do grupo desenvolvem espetáculos autorais e oficinas, que são fruto da pesquisa da musicalidade, oralidade e o conhecimento destes povos, nem sempre valorizados na cultura brasileira. Por meio da arte, o Grupo Baquetá pretende plantar sementes que contribuem para o enriquecimento do repertório pessoal de crianças, jovens, adultos e professores.

O Grupo lançou dois álbuns nas plataformas digitais, o EP Baquetá (2021) e Baquetinhá (2023) com participações de Janine Mathias, Giovani DiGanzá, Leo Cardoso e Diorlei Santos, gravado no Estúdio Fervo, em São Paulo. Foi, também, contemplado com o Prêmio Arte Paraná, organizando a turnê por oito cidades do Paraná com o espetáculo “Baquetinhá: brincadeiras musicais”, em novembro de 2016. Já abriu o show da “Palavra Cantada” no Teatro Positivo e participou da Roda de Conversa com Sandra de Sá, em 2014, ambos com o espetáculo “Baquetinhá”.

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