Ivanir dos Santos autografa livro sobre intolerância religiosa em 12 de setembro, na Blooks Botafogo

Premiado internacionalmente e organizador de outros títulos, babalawô vai lançar o seu primeiro livro como autor, com prefácio de Muniz Sodré e orelha de Lazare Ki-Zerbo

Enviado para o Portal Geledés 

Divulgação

O babalawô Ivanir dos Santos fará uma noite de autógrafos e conversa com o público para lançar o seu primeiro livro como autor: “Marchar não é Caminhar” (Pallas Editora). Será na quinta, 12 de setembro, às 19h, na Livraria Blooks, em Botafogo, com a presença dos professores e doutores Helena Theodoro e André Chevitarese. O livro chega em momento oportuno, quando terreiros vêm sendo atacados e destruídos em nome de um Deus que, supostamente, não aprovaria religiões de origem africana. Só no Rio de Janeiro, há cerca de 200 terreiros sob ameaça. Imagine no país! O livro custará R$ 68,90.


Com prefácio de Muniz Sodré, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e orelha de Lazare Ki-Zerbo, vice presidente do Comitê Internacional Joseph Ki-Zerbo para a África e a Diáspora (CIJKAD), o título de 357 páginas é o resultado da tese de doutorado que levanta e analisa as interfaces políticas e sociais das religiões de matrizes africanas no Rio contra os processos de intolerância religiosa e o racismo no Brasil, entre 1950 e 2008. Com esta pesquisa, Ivanir se credenciou como doutor em História Comparada pela UFRJ, em maio de 2018.


“A intolerância religiosa, o racismo e o preconceito são um dos maiores fenômenos sociais brasileiros”, afirma Ivanir, criador da Caminhada em Defesa da Liberdade Religiosa, que chegará à sua 12ª edição no domingo seguinte ao lançamento, dia 15 de setembro, pela orla de Copacabana, reunindo, mais uma vez, judeus, muçulmanos, umbandistas, budistas, católicos, índios, ciganos, kardecistas, candomblecistas, evangélicos e quem mais quiser se manifestar. 


Para Ivanir, a pesquisa jamais estará concluída. “Acredito que o maior desafio, para todos nós, não é apenas construir uma sociedade mais tolerante, mas, sim, compreender que as pontas soltas que nos conectam fortalecem cotidianamente os processos de invisibilidade e sistematização do racismo e da intolerância”, diz. Ele espera possibilitar a abertura de outras janelas a partir da leitura deste “Marchar não é Caminhar”. Por anos a fio, a editora Cristina Fernandes Warth o incentivou a escrever sobre as suas lutas e conquistas. Dizia sempre:  ‘Quando você fizer um livro, eu quero editar!’. Esse dia chegou! 

Ivanir dos Santos (Foto: Brunno Rodrigues)

“Ivanir dos Santos é um intelectual pulsante, que está discutindo questões da história imediata do nosso país. O tema que ele aborda neste lançamento é necessário, urgente, grave e precisa ser olhado com sensibilidade. Ivanir é, sem dúvida, essa voz sensível para tratar das desigualdades, da intolerância e da viabilidade de diálogos. Ao mesmo tempo em que ele está na academia, também atua no movimento negro e no espaço da religião, e é  uma autoridade multifacetada. Para nós é motivo de orgulho lançar o livro de estreia desse grande e amoroso líder”, conta Cristina Fernandes Warth, da Pallas, uma editora que dá voz e vez aos autores negros.

 

Premiado internacionalmente

Há 40 anos atuando em prol das liberdades, dos direitos humanos, das pluralidades contra o racismo e a intolerância religiosa, Ivanir dos Santos recebeu o prêmio Internacional Religious Freedom (IRF), em julho último. Foi entregue pelo Departamento de Estado do Governo dos Estados Unidos, durante evento em Washington, pela importância na luta contra a intolerância a praticantes de religiões de matriz africana no Brasil. Ele foi o único líder religioso do Ocidente a ser premiado. Ao olhar para a trajetória de vida e militância, dentro e fora da esfera social, cultural, religiosa, política e acadêmica, o seu nome desponta como uma referência. 

 

É interlocutor da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa (CCIR) há doze anos – e, em parceria com o Centro de Articulação de Populações Marginalizadas (CEAP), a CCIR vem chamando a atenção da sociedade e das autoridades públicas para o perigo da construção de um estado teocrático em um país constitucionalmente laico como o Brasil. Suas lutas muitas vezes se entrelaçam à história de vida de tantas crianças pretas nascidas na Favela do Esqueleto, removida da área onde existe a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) para Bangu, no início dos anos 60.


No Esqueleto, Ivanir foi criado pela mãe, a doméstica Sonia, até os seus 7 anos, quando ela foi brutalmente assassinada. Filho de mãe solteira, foi entregue ao Serviço de Assistência ao Menor (Sam), ligado ao Ministério da Justiça que, após o golpe militar de 1964, mudou de nome para Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor (Funabem). Ivanir ficou recluso por 12 anos e carregou, por muitos anos, o estigma de ex-interno de um sistema que considerava crianças e jovens negros pobres das comunidades como potencialmente um perigo social.


Venceu todas as barreiras, estudou muito e fundou, com um amigo de internato, a Associação dos Ex-Alunos da Funabem, em 1979. A ideia surgiu após observarem que os alunos que saíam dos internato eram discriminados pela sociedade, não conseguiam empregos – e muitos entraram para o crime, mesmo com a ficha limpa até então. A iniciativa fez com que Ivanir levantasse a voz pela primeira vez para denunciar a ação crescente dos grupos de extermínio, um prenúncio sobre casos que posteriormente ganharam dimensões alarmantes, entre eles a Chacina da Candelária, em julho de 1993, e a Chacina de Vigário Geral, no mês seguinte.


Quando esses crimes ocorreram, Ivanir já estava envolvido na causa até o pescoço. Cinco anos antes, havia coordenado o primeiro levantamento oficial sobre o extermínio de crianças brasileiras para a Defense for Children International (DCI), entidade com sede em Genebra, na Suíça. O documento serviu de base para o Estatuto da Criança e do Adolescente (Eca), lançado no Brasil em 1990. Ivanir dos Santos colaborou com importantes campanhas – “Não Matem Nossas Crianças”, “Abolição do Trabalho Infantil” e “Tráfico de Mulheres é Crime”, entre outras – e dedica a sua vida a batalhar ao lado de movimentos populares fundamentais como esses.

 

Marchar não é Caminhar, noite de autógrafos ::

QUANDO: Dia 12 de setembro, quinta-feira, às 19h

ONDE: Livraria Blooks – Praia de Botafogo, 316, lojas D e E, em Botafogo

QUANTO: Entrada franca. Preço sugerido do livro: R$ 68,90

 

 

Leia Também:

“Eu não represento um movimento evangélico de ódio”, diz o pastor Kleber Lucas, um dos líderes da Caminhada em Defesa da Liberdade Religiosa

-+=
Sair da versão mobile