Jovens negras assumem o cabelo crespo com muita atitude

O orgulho está na pele, no cabelo e na história dos seus antepassados. Assumir-se negra já é em si uma postura política. Portanto, falar da beleza da mulher negra inclui abordar o significado de reafirmar essa negritude.

A ideia de ter cabelo alisado nunca seduziu a produtora audiovisual Jessyca Lires, de 21 anos. Ela explica que o simples fato dela assumir quem ela é de verdade já causa reação na sociedade. “Nosso corpo é um espaço de resistência. Em qualquer lugar que a gente chega causa um impacto. Manter nossos cabelos assim é um posicionamento político, é uma forma de resistir”, afirma Jessyca.

O racismo ainda está longe de acabar, mas as integrantes do coletivo Meninas Black Power não se deixam intimidar. Elas decidiram escancarar toda a beleza e a exuberância dos seus cabelos crespos.

“Nossa imagem incomoda algumas pessoas, mas isso acontece porque nós, mulheres negras, estamos ocupando espaços que antes a gente não ocupava. E esse incômodo é transmitido em forma de racismo”, diz a estudante de comunicação Karina Vieira, de 31 anos.

Entretanto, o preconceito nem sempre é tão escancarado. De acordo com Karina, muitas vezes ele vem disfarçado de brincadeiras e piadas. “Mas racismo não tem graça”, destaca a universitária.

Violência

As mulheres negras são as maiores vítimas de violência no Brasil. Segundo os dados do Mapa da Violência 2015, o feminicídio de negras cresceu 54% em 10 anos, entre 2003 e 2013, enquanto o número de mulheres brancas mortas caiu 10% no mesmo período.

Suzane Santos trabalha com publicidade afirmativa em comunidade do Rio e articuladora cultural. Quem vê a bela jovem, de 22 anos, não imagina que ela pode ser agredida por conta de sua aparência física. Mas foi.

“Uma vez estava atravessando uma passarela, em Ramos, dois homens passaram por mim e um dele me chamou de ‘gostosa’. Olhei feio e um deles disse que eu tinha que agradecer porque estava recebendo um elogio. Minha estética não agrada, só meu corpo que interessa”, afirma Suzane.

Desigualdade

As mulheres negras continuam recebendo as menores remunerações no mercado de trabalho. Para as Meninas Black Power, essa questão não está separada de sua estética. “Estamos na base da pirâmide social pelo racismo. Isso também é uma forma de violência. Somos agredidas quando nos negam o direito de usar nosso cabelo, nossas tranças e nossos turbantes”, diz Karina Vieira.

Pérola negra

“A gente nasce preta, mulata, parda, marrom, roxinha dentre outras, mas tornar-se negra é uma conquista”, diz a militante do movimento negro Lélia Gonzalez. Tomar consciência é só o começo, mas é um começo importante. Por isso, o cabelo das mulheres negras não é só uma questão de moda ou estilo. É uma afirmação de toda história dos antepassados, das rebeldias, da resistência cultural e identidade.

Deste modo, as bandeiras levantadas pelo fim da violência contra a mulher, do racismo e das desigualdades de salário estão atreladas à luta pelo direito de usar o cabelo afro e pela estética que reafirma a identidade negra.

+ sobre o tema

Jordan Peele vai gravar seu próximo filme ainda em 2018

Jordan Peele, diretor de Corra!, revelou ao THR que pretende gravar seu...

Conheça o estilo de Elaine Welteroth ,a nova Diretora de Beleza da Vogue Teen

Olá meninas ! Já ouviram falar da Elaine Welteroth?...

Feira ‘Encrespa Geral’ deixa BH (ainda mais) linda e empoderada

Música, palestras e atividades 0800 agitam a programação da...

Rap eletrônico de Craca e Dani Nega questiona o senso comum

A dupla, que está lançando o single “Peito Meu”,...

para lembrar

Rompendo com os silêncios

O patriarcado projetou um modelo ideal de mulher, em...

A imortal baiana do candomblé

Mãe Stella é a primeira ialorixá na Academia de...

Ex-policiais britânicos são condenados por mensagens racistas sobre Meghan e membros da realeza

Seis ex-policiais de Londres foram condenados nesta quinta-feira (7)...

Hoje na História, 25 de julho é o Dia da Mulher Negra Latina e Caribenha

O dia 25 de Julho desde 1992 é marcado...
spot_imgspot_img

Comida mofada e banana de presente: diretora de escola denuncia caso de racismo após colegas pedirem saída dela sem justificativa em MG

Gladys Roberta Silva Evangelista alega ter sido vítima de racismo na escola municipal onde atua como diretora, em Uberaba. Segundo a servidora, ela está...

Uma mulher negra pode desistir?

Quando recebi o convite para escrever esta coluna em alusão ao Dia Internacional da Mulher, me veio à mente a série de reportagens "Eu Desisto",...

Da’Vine Joy Randolph vence o Oscar de Melhor atriz coadjuvante

Uma das favoritas da noite do 96º Oscar, Da'Vine Joy Randolph se sagrou a Melhor atriz coadjuvante da principal premiação norte-americana do cinema. Destaque...
-+=