Jovens negros têm mais risco de morte violenta

Dados do Rio Grande do Sul seguem tendência nacional; estudo foi realizado pela Secretaria Nacional da Juventude

Por Igor Natusch, do Jornal do Comércio 

Jovens negros morrem mais do que brancos no Brasil, em índices que não param de crescer. E o Rio Grande do Sul não foge desse panorama. Essas conclusões constam no relatório do estudo “Índice de Vulnerabilidade Juvenil à Violência e Desigualdade 2014”, desenvolvido pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública a pedido da Secretaria Nacional da Juventude (SNJ). O levantamento acrescenta a desigualdade racial como um novo indicador de violência contra o jovem brasileiro, somando-o aos índices de homicídio, acidentes de trânsito, pobreza e acesso a ensino e emprego já utilizados pelos órgãos governamentais.

O resultado dessa mudança é preocupante. Segundo a pesquisa, jovens e adolescentes negros de 12 anos a 29 anos têm, proporcionalmente, 2,6 mais chances de morrer de forma violenta do que brancos. Os dados, de 2012, indicam aumento nesse risco em comparação com 2007, quando o índice atingia 2,3.

O Rio Grande do Sul apresenta um percentual abaixo do nacional, chegando a 1,674. Dos 27 estados da Federação, o Estado está em 24º lugar no ranking da violência, sendo um dos que apresenta menor discrepância nas mortes de jovens negros e brancos. A diferença, porém, ainda existe. Em 2012 foram registradas 337 ocorrências contra 286 em 2007 – um índice que subiu de 54 para 60,3 mortes de jovens negros a cada 100 mil habitantes. Quando o comparativo é feito em relação a jovens brancos, o resultado é inverso: em 2007 foram 893 mortes registradas contra 844 em 2012, uma queda de 36 para 34 mortes a cada 100 mil habitantes. É preciso levar em conta que a população considerada branca no Estado é demograficamente bem maior que a negra, atingindo 83,2% do total, segundo dados do censo de 2010 do IBGE.

O estudo também traz dados importantes sobre a situação vulnerável dos jovens brasileiros, independentemente da cor da pele. Uma informação positiva apresentada na pesquisa refere-se ao município de Cachoeirinha, na Região Metropolitana. A cidade está entre as dez que obtiveram maior sucesso na redução da vulnerabilidade juvenil à violência entre 2007 e 2012. Dentre os indicadores usados pelo estudo, a melhora mais significativa ocorreu nas mortalidades no trânsito, que recuaram 61,4% no período.

Para outras três cidades gaúchas, contudo, o panorama está longe de ser positivo. Alvorada, Novo Hamburgo e Viamão estão entre os 100 municípios brasileiros com mais de 100 mil habitantes onde a vulnerabilidade juvenil à violência é considerada mais alta. Em duas delas – Viamão e Novo Hamburgo – o índice de piores resultados refere-se aos níveis de pobreza. Em Alvorada, por outro lado, o fator mais alarmante está no alto índice de homicídios.

A partir dos resultados do estudo, uma série de ações governamentais estão previstas para tentar reverter o quadro. Um dos programas da SNJ nesse sentido é o Plano Juventude Viva, que prioriza ações de prevenção que atendam a jovens em situação de exposição à violência, em especial negros. As propostas colocadas pelo plano atingem de forma especial 142 municípios, que somados concentraram, em 2010, 70% dos homicídios de jovens negros com idades entre 15 e 29 anos. Porto Alegre está entre essas cidades. Em junho do ano passado, a secretária-adjunta do Povo Negro da prefeitura de capital, Elisete Moretto, reuniu-se com a articuladora nacional do Plano Juventude Viva, Malu Viana, para encaminhar a adesão da capital gaúcha ao projeto.

Por meio de assessoria, a Secretaria da Justiça e dos Direitos Humanos do Rio Grande do Sul (SJDH) informou que o secretário César Faccioli teve acesso aos estudos e que eles orientarão as políticas da pasta, de forma integrada com as coordenadorias da Juventude e da Igualdade Étnica e Racial. A SJDH declarou ainda que pretende promover uma reunião com a articulação nacional do Plano Juventude Viva, tendo como pauta a possibilidade de criar um comitê gestor e promover a adesão de municípios gaúchos ao programa.

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