Lima Barreto e a crítica (1900 a 1922) a conspiração de silêncio

Andrevruas [CC BY-SA 3.0], via Wikimedia Commons

Por: Alice Áurea Penteado Martha

Universidade Estadual de Maringá/Brasil

A conspiração de silêncio

O escritor em seu tempo

O início do século XX no Brasil, no que se refere às tendências críticas e, notadamente, no período entre 1907 e 1922, pode ser observado como reflexo e mesmo continuidade das idéias positivistas, deterministas e cientificistas que dominaram o século anterior. Denominada por Carmelo Bonet (Bonet, 1969) de Pré-modernista, a crítica tem em José Veríssimo sua estrela maior que, com sua dupla face de Jânus, conforme estudo de João Alexandre Barbosa (Barbosa, 1974, p.161), pode ser visto através de um jogo entre o crítico, interessado sobretudo na avaliação e no julgamento das obras, e o historiador literário, que tenta unir o impressionismo crítico e o modelo naturalista, tendo entre essas duas tendências o crítico social e o político. O impasse crítico constatado na produção de Veríssimo, e presente no homem de seu tempo, dificulta sobremaneira garantir que a elite intelectual do país pudesse despojar-se verdadeiramente de todo aparato cientificista/naturalista/determinista/impressionista para dedicar-se, exclusivamente, ao fato literário como manifestação estética.

Além de Veríssimo e de seu companheiro, Sílvio Romero, o pensamento crítico oficial do país, nos primeiros vinte anos deste século, era representado por nomes como, Gonzaga Duque, Nestor Vítor, João Ribeiro, Agrippino Grieco, Arararipe Júnior, Medeiros e Albuquerque, Osório Duque-Estrada e Andrade Murici, que compunham um quadro variado de tendências críticas. Conforme o estudo das linhagens, proposto por Wilson Martins (Martins, 1952), José Veríssimo e Ronald de Carvalho adotavam padrões de apreciação predominantemente estéticos; Araripe Júnior, Nestor Vítor, João Ribeiro, Alcides Maya, Medeiros e Albuquerque e Agrippino Grieco pertenciam à linhagem impressionista, ou do gosto e do desgosto; Osório Duque-Estrada, da linhagem gramatical, preconizava que o bom escritor é o que escreve certo.

Até 1922 era esse o quadro representativo da crítica no país, acrescido do nome de Tristão de Atayde, que iniciara suas atividades em 1919, e que também se filiava à corrente crítica impressionista. É importante observar, ainda, que o principal veículo divulgador da crítica do período era o jornal, notadamente, no caso daquela dirigida à obra de Afonso Henriques de Lima Barreto, que mais de perto interessa a este trabalho. Para compreender as linhas gerais dessa crítica é preciso, portanto, que se reconheça o campo intelectual da época, no sentido mesmo que lhe confere Pierre Bourdieu:

[…] o campo intelectual […] constitui um sistema de linhas de força: isto é, os agentes ou sistemas de agentes que o compõem podem ser descritos como forças que se dispondo, opondo e compondo, lhe conferem sua estrutura específica num dado momento do tempo. (BOURDIEU, 1968, p.105)

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Lima Barreto e a crítica (1900 a 1922)

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