Liniker: ‘O afeto é uma força política necessária’

Divulgação/Reprodução/TPM

Três anos (e três turnês na Europa) depois do primeiro disco, Liniker e os Caramelows misturam o que viram e ouviram na estrada com seus pensamentos sobre amor e resistência no disco “Goela Abaixo”

POR DANDARA FONSECA, da Revista TPM

Divulgação/Reprodução/TPM

As três faixas presentes em Cru, primeiro EP de Liniker e os Caramelows, lançado em 2015, foram gravadas na sala do guitarrista da banda, William Zaharanszki. Apresentadas ao mundo via Youtube, o grupo de Araraquara, que esperava no máximo 20 mil visualizações e alguns shows pelo interior paulista, se espantou ao ver que, em apenas cinco dias, o vídeo de “Zero” já somava mais de 1 milhão de visualizações. Um ano depois do sucesso das músicas na internet, veio ao mundo Remonta, álbum de estréia da banda. Agora, após três turnês na Europa e passagens por festivais como Rock in Rio e Lollapalooza, eles lançam, pela Natura Musical, o segundo disco, Goela Abaixo.

Liniker, que começou a escrever as músicas de Remonta quando tinha apenas 16 anos, acredita que o amadurecimento, tanto do som quanto de si mesma, é ponto central do novo álbum. “Foi uma troca muito gostosa da Liniker do Remonta para a Liniker do Goela, de entender que minha poesia está ficando em um lugar já de maturação”, diz. Goela Abaixo foi um álbum concebido na estrada, entre 2017 e 2018, quando o grupo passou por mais de 20 países, e gravou em cidades como Lisboa e Berlim.

“Foi muito bom termos dado esse tempo de quase três anos entre o Remonta e esse novo disco. O nosso som está muito maduro”, diz Liniker (Crédito: Leila Penteado/Divulgação)

“Fiz muita música no avião, na estrada, e dá uma sensação de movimento. É como se você conseguisse direcionar as criações através do movimento que o seu corpo está fazendo”, diz a cantora. O impacto das viagens é percebido não só no som, que tem influências do nordeste da África e da América Central, mas também nos idiomas. Na faixa “Calmô”, a vocalista se entrega ao espanhol. Já em “Beau”, Liniker entrelaça o inglês e o português em texturas dançantes influenciadas por sonoridades dos anos 60. Para ela, isso é liberdade.

Mesmo com todas as viagens, o disco olha para o íntimo. Em uma retomada aos tempos de Cru e aos processos caseiros, faixas como “De Ontem”, “Boca” e “Goela” foram gravadas fora de estúdios, na casa do baterista  Pericles Zuanon e da própria Liniker. “Ter gravado na minha casa, na minha intimidade, foi muito gostoso. Gravar de pijama, de pé descalço”, conta. O amor, o toque, o sexo e o carinho estão muito presentes nas letras do novo disco. “O afeto me transforma. E é uma força política é necessária, é o jeito que tenho achado para dialogar com o mundo.”

Capa do disco “Goela Abaixo”, feita pela artista mineira Domitila de Paulo (Capa do Livro)

As parcerias também permeiam o álbum. A canção “Beau” conta com a participação das cantoras ganesas Florence Adooni e a Lizzy Amaliyenga. O grupo as conheceu em Berlim, quando gravavam no Estúdio Philophon. A carioca Mahmundi participa de uma das faixas, intitulada “Bem Bom”. Já a música “Claridades”, segundo Liniker, foi um presente do cantor Giovani Cidreira. “Quando eu e ele estávamos no evento Sofar ele falou que havia escrito uma música para mim. Fiquei muito emocionada. Falei ‘preciso gravar’. E a música é linda, uma poesia, ele é um artista deslumbrante”.

Em “Goela”, última faixa do disco, a voz e os instrumentos de Liniker e os Caramelows vêm acompanhados de um coro poderoso de mulheres, composto pelas cantoras Josyara, Juliana Strassacapa, Ayiosha Avellar, Natália Nery, Grasielli Gontijo, Tássia Reis, Mel Gonçalves e Lina Pereira, além de Renata Éssis, integrante da banda. “A ideia é que é um disco que não é para cantar sozinha, sabe? A gente entendeu que precisamos estar mais junto. E esse disco fala sobre caminhar juntas, sobre ter intimidade, sobre estar perto”, diz Liniker.

Liniker e os Caramelows são: Liniker Barros (voz), Rafael Barone (baixo), Pericles Zuanon (bateria), William Zaharanszki (guitarra), Renata Éssis (backing vocal), Marja Lenski (percussão), Fernando TRZ (teclados) e Éder Araújo (saxofone) Crédito: Leila Penteado/Divulgação

A primeira demonstração do processo artístico de Goela Abaixo veio no fim de 2018, com o videoclipe de “Calmô”. Ele mostra, de forma calma e intimista, a viagem de moto feita por um casal de mulheres entre as montanhas de Gonçalves, em Minas Gerais. Segundo a cantora, mais clipes vêm por aí. Os shows de lançamento, que passarão por por capitais brasileiras e também de países vizinhos, como o Uruguai, começam no próximo dia 23, no Cine Joia, em São Paulo. “Tem um processo artístico acontecendo neste disco como nunca aconteceu antes. O ao vivo está lindo. Tem cenografia, projeção, iluminação, figurino. Está tudo muito visual. É um disco que dialoga muito com a imagem, você pode quase tocar”.

O novo momento na carreira vem acompanhado de uma mudança no visual. “Estou me sentindo maravilhosa. Quando raspei a cabeça, falei: ‘Eu sou realmente bonita de qualquer jeito’. E não estou falando isso da boca para fora, é uma sensação que realmente senti, que quando a gente está bem com a gente, nada abala.”

“Quando raspei a cabeça, falei: ‘Eu sou realmente bonita de qualquer jeito'” Crédito: Reprodução Instagram

 

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