Monstros, fantasmas, valentões: ter medo nos acompanha desde pequenos, e nossos obstáculos já foram tema de muitas fábulas e livros infantis. O poema de Maya Angelou, ilustrado por Jean-Michel Basquiat, porém, tenta falar sobre as aflições da infância de dentro do olhar de empoderamento. A vida não me assusta, ganha edição especial de 25 anos pela Dark Side Books.
Publicado pela primeira vez em 1993, o poema convoca nossos demônios antes de gritar para eles que nada nos assusta — e a gente bem que podia fazer isso quando adulto. A autora, que faleceu em 2014, afirmava que escreveu o livro para “todas as crianças que fingem não ter medo do escuro”, mas a verdade é que A vida não me assusta é uma obra que une Maya e Basquiat para lembrar a adultos e crianças de encarar o medo e derrotar nossos monstros, reais e imaginários.
Racismo e outros monstros
Maya Angelou conheceu bem o que é o medo. Nascida em 1928, foi estuprada aos sete anos. O trauma fez com que Maya passasse cinco anos sem falar qualquer palavra. A autora foi mãe aos 17 anos, foi a primeira motorista de ônibus negra em São Francisco e enfrentou o racismo no sul dos Estados Unidos. Tornou-se uma das primeiras escritoras negras a ter um best-seller no país e ganhou prêmios em diversas áreas artísticas.
Já Basquiat, nascido em 1960, ascendeu em uma Nova York a beira do colapso econômico. Um dos expoentes do neoexpressionismo, era um dos poucos artistas negros em uma cena artística de predominância branca. Seu trabalho por muitas vezes questionou a falta de diversidade nas artes e o racismo contra os negros nos EUA. Suas obras só se uniram ao poema de Angelou cinco anos depois da morte do artista, em 1988. Basquiat foi tema de uma exposição no Centro Cultural Banco do Brasil em janeiro deste ano. A exposição passará ainda por Brasília, Rio de Janeiro e Minas Gerais.
A união das palavras de Maya às obras de Basquiat misturam o mundo distorcido, assustador e ao mesmo tempo divertido e cheio de cor das pinturas do artista com a rebeldia e a coragem da poetisa e ativista, criando uma obra atemporal. Pequenas lições sobre medo e aceitação da vida, relevantes para todas as idades.
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