“Mad Max: Estrada da Fúria” é o filme feminista que Hollywood estava precisando

Enviado por / FontePor Gustavo Abreu, do Ig

O filme começa mostrando um mundo pós-apocalíptico onde não tem água, a desigualdade social paira sobre a humanidade e o povo bate panela durante o discurso do imperador. Poderia ser um docudrama sobre São Paulo em 2015 mas são os dez primeiros minutos de“Mad Max: Estrada da Fúria”, que chega aos cinemas brasileiros na quinta-feira (14).

O novo longa de George Miller, quarto da série inaugurada em 1979 com Mel Gibson (e primeiro em 30 anos), é um dos melhores e mais impactantes filmes de ação dos últimos anos. E tem um mérito do qual poucos do gênero podem se gabar: ele dá uma aula de feminismo a Hollywood ao colocar as mulheres para dirigir a história e retratar os homens como um bando de bundões mimados e inseguros.

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Furiosa (Charlize Theron) divide as atenções com Max em ‘Estrada da fúria’ (Foto: Divulgação)

“Estrada da Fúria” é basicamente um filme de fuga e perseguição, veloz e nervoso. Não dá ao espectador quase nenhuma chance de respirar, da primeira cena ao clímax final, com a ajuda da trilha sonora frenética do holandês Junkie XL.

Conta a história do ambulante solitário Max (Tom Hardy), que é capturado pelos escravos do ditador Immortan Joe (Hugh Keays-Byrne) e se junta à Imperatriz Furiosa (Charlize Theron) para escapar desse império chamado Citadela.

Como nos filmes com Mel Gibson, Max é um homem monossilábico e vive assombrado pela morte da mulher e da filha. Furiosa é uma desertora, uma vez que trai Immortan Joe e foge da Citadela com as cinco mulheres do ditador escondidas em seu caminhão. Eles passam boa parte do filme tentando não matar um ao outro, mas acabam virando parceiros na escapada.

A relação entre Max e Furiosa dá o tom feminista a “Estrada da Fúria” por vários motivos. O primeiro é que o personagem-título mal tem um arco próprio e passa o filme todo lutando por sobrevivência. Já Furiosa tem um plano de fuga, um caminhão armado até nas rodas e suas próprias coadjuvantes, as belas mulheres de Joe — entre elas, Zöe Kravitz(“Divergente”) e Rosie Huntington-Whiteley (“Transformers”).

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(Foto: Divulgação)

Apesar do espectador ser apresentado ao mundo do filme por Max, ele vira um coadjuvante na fuga e dá apenas uma ajudinha a Furiosa na sua jornada até o Vale Verde, a terra prometida aonde ela quer chegar.

A cena que mais define essa relação é boba, mas diz muito: Max tem três balas na arma e precisa acertar em um carro que vem em direção ao grupo. Ele erra duas, enquanto Furiosa observa a ação do personagem. Frustrado e inseguro, decide entregar a arma a ela, que se apóia no ombro dele para mirar. “Não respire”, ela diz. E boom! O carro explode em pedaços; as mulheres dominam.

Explosão, aliás, é o que não falta no filme de George Miller. O tempo todo, carros, caminhões, famílias e montanhas são destruídos, num mix de excelentes tomadas e efeitos especiais/sonoros, tudo muito bem orquestrado. Isso torna quase obrigatório ver o filme em 3D e, se possível, IMAX.

“Estrada da Fúria” tem ainda umas loucuras que a princípio parecem surreais demais (amas de leite para adultos, exército de soldados carecas e fanáticos, um guitarrista que não para de tocar durante perseguições de carros), mas aos poucos você vai se acostumando com as regras do universo do filme e quase tudo se justifica — o guitarrista ainda parece um pouco demais, mas é preciso ter desprendimento da realidade.

Por fim, não tem como não falar da maravilhosa Charlize Theron. Ela, que recentemente falou à revista “Elle” sobre igualdade de gênero em Hollywood — “se você está fazendo o mesmo trabalho, você deveria ser paga e tratada da mesma maneira” –, rouba completamente a cena. Deixa Tom Hardy, que já não é dos melhores atores por aí, apagadinho. Deixa também a impressão de que o filme devia chamar “Mad Furiosa”. Felizmente, Miller já deixou claro que vai filmar “Mad Max: Furiosa” em breve. Sorte de quem sai da sessão achando que quem deveria mandar no mundo são elas.

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