Mãe Hilda é sepultada sob aplausos no Jardim da Saudade

Prefeito decreta três dias de luto oficial na cidade em homenagem à líder espiritual do Ilê Aiyê

“Nos preparávamos há anos para este dia, mas nunca acreditamos que ele chegaria”. Com esta frase, a diretora cultural do bloco Ilê Aiyê, Arani Santana, resumiu o sentimento de centenas de pessoas que acompanharam neste domingo, 20, o enterro da ialorixá Hilda dos Santos, 86, a Mãe Hilda. A despedida à mentora espiritual do grupo cultural não foi o último adeus. Agora, seguem mais sete dias de rituais e homenagens no terreiro Ilê Axé Jitolu, que ela comandava há 71 anos na Ladeira do Curuzu, no bairro da Liberdade.

 

Mãe Hilda estava internada desde o último dia 7 no Hospital Unimed, em Lauro de Freitas, com problemas cardíacos e pneumonia. Morreu na manhã de sábado, dia 19 e foi velada em casa. O governador Jaques Wagner esteve no velório, deu apoio à família e lamentou a perda da ialorixá, principalmente pelo trabalho social que exerceu no bairro.

 

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Cortejo no Curuzu


Às 8h30 deste domingo, o caixão foi fechado e os cantos em iorubá evocavam orixás. As entidades seguiram na frente do cortejo que subiu a ladeira até a entrada do Curuzu, um trajeto que normalmente é feito em tempos de alegria, quando Mãe Hilda abençoava a saída do Ilê no sábado de Carnaval. “Hoje, os orixás seguiram à frente, integrando minha mãe à sua última morada”, explicou Vivaldo Benvindo, diretor do Ilê e um dos seis filhos biológicos de Mãe Hilda.

Durante a passagem do cortejo, formado por aproximadamente 100 pessoas, todas vestidas de branco, moradores do bairro chegaram às portas das casas, mas o silêncio só era quebrado pelo canto em iorubá. As reações eram de choro, palmas. Cada morador fez a sua homenagem à moradora mais ilustre da rua. Em frente à Senzala do Barro Preto, sede do bloco e centro cultural que ela ajudou a fundar, os tambores soaram com apenas três batidas fúnebres.

“O que será do Ilê Aiyê? É uma pergunta que nós estamos fazendo”, comentou Arani Santana. “Ainda vamos nos reunir para definir como será daqui pra frente. Mas uma coisa é certa: o trabalho não pode parar”, completou Vovô, filho querido de Mãe Hilda e presidente do Ilê.

Mãe Hilda foi enterrada no cemitério Jardim da Saudade sob salva de palmas, cantos e muita dor. Além de seus filhos biológicos e de santo, também acompanharam o adeus representantes de outros terreiros, do movimento negro e autoridades.  Entre elas, o prefeito João Henrique Carneiro que decretou luto oficial de três dias, deputados federais e secretários do Estado e do município. Todos saudaram e homenagearam a ialorixá.

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