Mães de Maio organizam ato e lançam livro em São Paulo

Data também marca a inauguração da campanha #BlackBraziliansMatter (Negros Brasileiros Importam); ato questiona quem matou os cinco jovens na zona leste da capital

Texto: Pedro Borges / Edição de Imagem: Pedro Borges , do Alma Preta 

No dia 17 de Novembro, Quinta-feira, a partir das 18h, as Mães de Maio articulam o lançamento do livro “Mães em Luta – 10 anos dos Crimes de Maio”, na Sala dos Estudantes da Faculdade de Direito da USP, no Largo São Francisco, centro. O evento também marca a inauguração da campanha #BlackBraziliansMatter, uma parceria com o movimento negro norte-americano. Depois da programação, todas e todos protestam em frente à Secretaria de Segurança Pública para exigir que o Estado descubra quem matou os cinco jovens na zona leste de São Paulo.

A obra “Mães em Luta – 10 anos dos Crimes de Maio” foi organizada pelo jornalista André Caramante, da Ponte Jornalismo, com prefácio da escritora Eliane Brum. Débora Maria da Silva, fundadora do movimento Mães de Maio, apresenta o livro e sua importância enquanto ferramenta de denúncia. “É um lançamento bem vindo, com o perfil de quinze mulheres, inclusive o meu. São mulheres que tiveram suas vidas violadas, e violadas por uma instituição que deveria dar segurança para nós e para os nossos filhos, mas é quem mais ataca os direitos humanos no nosso país”.

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Ela destaca a relevância de atuar em conjunto com jornalistas independentes, que também sofrem intimidações do Estado. “Quando a gente tem um jornalismo como a Ponte, a gente tem a confiança. É muito importante ter a mídia alternativa, que é a mídia que traz a veracidade dos fatos, dos casos reais, que acontecem no cotidiano. É essa mídia que alimenta o movimento Mães de Maio. A gente não divulga a mídia sensacionalista, mas sim a que conta a verdadeira realidade das favelas e das periferias”.

Depois de toda cerimônia, acontece um cortejo fúnebre com velas e fotos de vítimas do Estado com a participação de organizações do movimento negro em direção à Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP). Na semana passada, no dia 10 de Novembro, os manifestantes protestaram em frente à SSP-SP e ocuparam o prédio. Débora pensa que os atos não podem parar enquanto o Estado não responder o que de fato ocorreu. “Dentro dessa perspectiva que a gente tem, de mães de vítima, a gente está cobrando e vamos cobrar até que o caso seja resolvido na íntegra, não até eles arrumarem uma farsa na história, porque a história geralmente nunca é contada. Tem muita água para correr debaixo dessa ponte. Nós queremos descobrir tudo o que aconteceu com esses meninos”.

Jonathan Moreira Ferreira, 18 anos, César Augusto Gomes Silva, 20, Caique Henrique Machado Silva, 18, Jonas Ferreira Januário, 30, e Robson de Paula, 17, desapareceram em 21 de Outubro, após saírem de carro da zona leste da capital paulista para uma festa em Ribeirão Pires, Grande São Paulo.

Os jovens foram encontrados no dia 6 de Novembro, duas semanas depois de desaparecerem, em estado avançado de decomposição e com marcas de tortura. Um dos meninos estava decapitado. A Ponte Jornalismo apurou que, algumas das dez baladas encontradas na cena do crime, de munição .40, pertencem à Polícia Militar de São Paulo. O rastreamento foi feito pela própria Corregedoria, órgão fiscalizador da corporação.

A Ponte também revelou que policiais militares consultaram os dados de dois dos cinco jovens que foram encontrados mortos. Outro forte índico de participação da polícia na morte dos jovens é fruto de uma mensagem de Jonathan, antes de desaparecer. Ele enviou áudio para uma amiga dizendo que havia sido parado pela polícia. “Ei, tio. Acabo de tomar um enquadro ali. Os polícia tá me esculachando”, disse o jovem.

Débora expõe a violência do fato e a necessidade de investigar para que isso não se torne rotina. “Tem primeiro o sequestrado, depois a ocultação de cadáver, depois o crime bárbaro que aconteceu com esses meninos. Mataram e jogaram cal em cima. A gente tem que se unir senão vai começar a acontecer em série. Não vai ser só um Amarildo, mas vão ser vários”.

Negros Brasileiros Importam

Em Abril deste ano, em viagem aos EUA com a Anistia Internacional, as Mães de Maio conheceram o movimento negro norte-americano Black Lives Matter (Vidas Negras Importam). O primeiro contato possibilitou o diálogo com outros coletivos como a Rede contra a Violência, Fórum de Manguinhos, Fórum da Juventude do Rio de Janeiro, Justiça Global e o coletivo Nós por Nós para articular a programação do Julho Negro. As atividades possibilitaram o convite ao Black Lives Matter vir ao Rio de Janeiro e participar de uma turnê pela cidade. Depois dessa aproximação, surgiu a inspiração para se construir a campanha #BlackBraziliansMatter (Negros Brasileiros Importam). “Nós estivemos no Estado do Rio de Janeiro com os membros do Black Lives Matter. Eles vieram e nós fizemos uma turnê de uma semana. Eles conheceram a realidade das UPPs, a realidade do Rio de Janeiro e quando foram se despedir, levaram a bandeira das Mães de Maio”, explica Débora.

Ela destaca a parceria com o Black Lives Matter e a importância da campanha. “Assim que eles retornaram para os EUA com a bandeira das Mães de Maio, eles têm feito várias manifestações, vários enfrentamentos com a bandeira das Mães, e a última que eles fizeram foi agora contra o atual presidente, Donald Trump. Essa campanha é bem vinda, porque mãe não pare, a mãe pare a vida. É diferente. O filho dela é bem recebido seja negro, seja pobre. Então a ideia dessa campanha era unir as duas lutas”.

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