Mais de 120 ativistas participam de encontro e homenageiam a obra de Clóvis Moura

No dia 14 de dezembro último, mais de 120 ativistas anti-racistas participaram do Encontro “Clóvis Moura” de ativistas contra o genocídio da população negra. O evento foi realizado na Escola de Comunicações e Artes, promovido pelo Celacc, Círculo Palmarino e Instituto Luiz Gama.

O encontro foi uma homenagem ao professor Clóvis Moura, sociólogo especialista na discussão das relações etnicas no Brasil, autor de obras como “Rebeliões da Senzala”, “Sociologia do Negro Brasileiro” e “Dialética Radical do Brasil Negro”, falecido há 10 anos. Além disto,  foi uma oportunidade de reunir ativistas anti-racistas para aprofundar a discussão sobre as relações étnico-raciais contemporâneas no Brasil sob a perspectiva das teorias marxistas e do pensamento “moureano”.

Clovis Moura

O formato do evento foi de “roda de conversa”, com intervenções especiais de especialistas e lideranças, como Juarez Xavier (professor da Unesp), Deusdete (assistente social e militante do Círculo Palmarino), Juninho Jr (jornalista e da coordenação do Círculo Palmarino), Dulce Sena (médica, professora da USP e membro do Neinb – Núcleo de Estudos Interdisciplinares do Negro Brasileiro da USP), Patrícia Alves Matos (professora e mestranda da Unesp), Silvio Almeida (professor do Mackenzie e presidente do Instituto Luiz Gama), Neninho de Obaluayê (presidente do Centro de Resistência Java-Angola), Jamyle Brasil (professora e dirigente da Unegro/Rondonia), além deste que escreve.

As falas foram intermediadas com intervenções culturais de artistas do Sarau da Remo, Grupo Cachuera e Sarau Preto no Branco. No final foi lida uma carta do encontro com treze pontos levantados como essenciais para a luta contra o genocídio, além da apresentação do manifesto de criação do Coletivo Quilombação, uma rede aberta que se propõe a juntar e articular ativistas que lutem contra o racismo nesta perspectiva.

A idéia de criação do Coletivo parte do pressuposto que a luta contra o racismo é cotidiana e se desenvolve em todos os espaços sistêmicos ou não sistêmicos. Por isto, é uma luta que se aproxima mais da perspectiva do ativismo, o que gera a necessidade de fortalecimento por meio de informação e formação constante. Uma das análises mais recorrentes no encontro é o esgotamento das possibilidades de ação institucional no combate ao racismo – apesar da importância de estar presente nos conselhos, órgãos governamentais, disputas eleitorais, entre outros, fica nítido que a ausência de um projeto estratégico de superação do sistema social vigente, transforma tal participação em submissão às agendas governamentais, institucionais e/ou partidárias, diluindo a dimensão estratégica do debate racial.

A formação do Coletivo Quilombação é um passo para a criação de um espaço de atuação e discussão política para além destas estruturas.  No encontro, outros coletivos, como o Coletivo Negro da USP também se apresentaram, além de grupos culturais e projetos de ação, como o Observatório Popular de Direitos. Novas iniciativas, rodas de conversa, espaços públicos alternativos de debate político podem surgir e contribuir para que se avance na luta pela equidade racial.

 

 

Fonte: Revista Fórum

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