Manifestação em São Gonçalo pede justiça pelo assassinato de Durval Teófilo por vizinho

FONTEPor Leonardo Sodré, do Extra
Protesto pede justiça no caso da morte de Durval Teófilo (Foto: Márcia Foletto)

Centenas de pessoas se reuniram na manhã deste sábado em São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio, para pedir justiça pela morte do repositor Durval Téofilo, assassinado a tiros pelo sargento da Marinha Aurélio Alves Bezerra, no condomínio onde ambos moravam, no último dia 2. A manifestação que começou às 10h na Praça Zé Garoto segue em caminhada na direção da prefeitura, no Centro de São Gonçalo. Representantes do movimento negro pedem que o militar seja denunciado por homicídio doloso e uma indenização para a família de Durval. O protesto está sendo acompanhado desde o início por forte presença da Polícia Militar, com agentes e viaturas.

Luziane Téofilo, viúva do repositor Durval Téofilo, esteve no protesto, disse acreditar na Justiça e contou sobre a apreensão para a Reprodução Simulada do assassinato do marido, que deve ocorrer na próxima semana. O caso está sendo investigado pela Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí.

— Meu coração está dilacerado, estou buscando forças para participar da simulação, porque ainda dói muito. Mas estou confiante que a justiça vai ser feita. Estou aqui hoje pela nossa filha Letícia, ela sabe que vim aqui lutar por justiça pela morte do pai. Por que tanta violência? Meu marido era um homem da paz, nunca foi violento, não merecia morrer como ele morreu — lamentou Luziane.

A viúva de Durval esteve no protesto (Foto: Márcia Foletto)

A viúva do repositor reafirmou que o marido foi assassinado por racismo. Para Luziane, Durval foi vítima da estrutura que oprime o povo negro.

— (o assassino) Era um marinheiro, uma pessoa preparada, ele não poderia ter feito aquilo. Foi racismo, sim. Todo dia um preto é assassinado, seja a paulada, a tiro… Nós temos que dar um basta nisso. Somos um país de misturas onde todos têm o direito de viver em paz e ser respeitado — disse.

Presidente da União de Negras e Negros pela Igualdade (UNEGRO), Cláudia Vitalino, disse que a manifestação foi promovida neste sábado para mostrar às autoridades que os pedidos por justiça seguirão até que o marinheiro Aurélio Alves Bezerra seja denunciado e condenado por homicídio doloso.

— O que aconteceu com Durval poderia ter acontecido com qualquer outra pessoa negra. Ele (Aurélio Alves Bezerra) não falou nada, simplesmente atirou. Ele não viu um vizinho, viu um homem preto. O homem da lei sobe na favela, executa negros e diz que é bandido, mas acontece também em condomínio. Ele estava voltando do trabalho e foi executado por ser um homem negro. A população negra não tem paz nenhum dia nesse país — diz Cláudia.

Relembre o caso

O repositor de estoque Durval Teófilo Filho foi morto a tiros por um vizinho quando chegava em casa, no condomínio Portal do Columbandê, no dia 2 de fevereiro, uma quarta-feira. O sargento da Marinha, Aurélio Alves Bezerra, disse a policiais militares que confundiu a vítima com um bandido e atirou.

Aurélio foi preso no dia seguinte ao crime. Inicialmente o caso foi qualificado como homicídio culposo, quando não há intenção de matar, o que revoltou a família de Durval. Mas a juíza Ariadne Villella Lopes mudou para doloso.

Depois do caso, a viúva de Durval contou ter sofrido intimidações e ameaças. Ela afirmou ainda que vai prestar queixas sobre estes episódios, que diz ser constantes.

Nas imagens das câmeras de segurança do condomínio, é possível ver que Durval chega na entrada do condomínio por volta das 22h50 da noite, momento em que o Sargento Aurélio aguardava no portão de entrada dentro do carro. Durval então abre a mochila para pegar a chave do portão, quando é possível ver três clarões dos disparos dentro do carro.

Ferido, a vítima cai no chão e se arrasta para trás. O militar então sai do carro e anda até Durval e parece conversar com ele, para em seguida retornar ao carro e pegar um telefone celular. Ele posteriormente socorreu o ferido, e o levou para o Hospital Estadual Alberto Torres, onde não resistiu aos ferimentos.

— Ele morreu por quê era preto. É fácil atirar em um preto mexendo na mochila por que é preto, então logo é suspeito. Se fosse um branco, nunca que aconteceria isso. Ninguém atira em um branco mexendo na mochila. Ele vai dizer que não, mas atirou sim por que era preto, por quê era fácil – disse a viúva, Luziane Teófilo.

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