A atriz Zoe Saldana estará nos cinemas do mundo todo em breve. Ela é uma das estrelas de “Sentimentos Que Curam” (“Infinitely Polar Bear”, no original), filme cuja personagem vai trabalhar em outra cidade e deixa as filhas sob os cuidados do pai (Mark Ruffalo), que possui um transtorno bipolar. Zoe também é capa da revista “InStyle” de julho, onde conta sobre maternidade (ela deu à luz ao um casal de gêmeos, Cy e Bowie em novembro de 2014), casamento e seu trabalho no longa que estreará em breve.
Mas o que mais chamou a atenção do mundo todo em sua entrevista foi a revelação de que seu marido, o artista italiano Marco Perego, adotou o sobrenome da atriz. “Eu tentei convencê-lo a não fazer isso. Eu disse a ele ‘se você usar meu nome, você será diminuído como homem por sua comunidade de artistas, pela sua comunidade latina de homens, pelo mundo”, contou a Zoe à InStyle. “Mas o Marco olhou para mim e disse ‘ah, Zoe, eu não dou a mínima para isso”.
Obviamente, a declaração da atriz ganhou as manchetes, isso porque, assim como acontece no Brasil, é muito comum a esposa adotar o sobrenome do marido, e não o contrário. Na terra do Tio Sam, apenas 8% das mulheres mantém seus nomes após o casamento. Nos anos 90, esse percentual era de 23%.
O principal motivo para que as mulheres continuem a levar o sobrenome de seus maridos podem ser explicados pela tradição e pressão social para que façam isso. Uma pesquisa feito pela Universidade de Indiana, em 2009, mostra que 71% da população americana acredita que é “melhor” que as mulheres adotem o sobrenome dos maridos.
Um estudo da revista Women’s Health com os leitores da revista Men’s Health, diz que 63,3% deles preferem que as esposas levem seus sobrenomes, enquanto 96,3% deles disseram que não adotariam o sobrenome delas. “Uma família, um nome. Se ela não acrescentar meu sobrenome, eu questionaria seriamente sua fé em nós enquanto casal. E eu não quero crianças com sobrenome hifenado”, explica um dos leitores que participaram do estudo da Women’s Health.
No Brasil a figura não é diferente, mas números mostram uma mudança de comportamento. Em 2002, 91,67% das mulheres adotavam o sobrenome do marido. Em 2012, esse número caiu para 85,75%.
Desde a mudança no nosso Código Civil, em 2002, a escolha de maridos em adotar o sobrenome da esposa aumentou. Segundo pesquisa realizada pela Arpen-SP (Associação dos Registradores de Pessoas Naturais de São Paulo), a prática teve um aumento de 278% em 10 anos. Em 2012, homens que adotaram o sobrenome da esposa representavam 25%. Na região de Sorocaba (SP), a prática aumentou 144%, entre 2002 e 2012.
O sociólogo entrevistado pelo site de notícias G1, José Geraldo Bertoncini, acredita que as relações de gênero no Brasil vêm mudando e isso explicaria o aumento nos casos de maridos adotarem o sobrenome das esposas. “Isso também indica que o machismo está declinando, está enfraquecendo. Significa que em um passo bastante rápido, a relação de gênero se modifique bastante no Brasil, sobretudo, por conta de em casa os papéis estarem sendo muito modificados. Os papéis de homens, papéis de mulheres, estarem cada vez mais flexíveis”.
Os maridos entrevistados pelo G1, explicaram que os motivos que os levaram a adotar os sobrenomes das esposas foram por amor ou homenagear a família da noiva. “Eu gosto muito da família dela, por isso, decidi fazer essa surpresa. No começo, todo mundo achou estranho, até o meu pai, os meus amigos. Ouvi muitas piadas machistas, mas foi uma opção, ninguém me obrigou”, contou Bruno César Bifano, marido de Camila Ayres Saraiva. No entanto, segundo reportagem da Folha, a maioria dos casais fazem uma troca: ele adota o dela, e ela o dele.
Para trocar de sobrenome no Brasil, é preciso alterar todos os documentos que requerem o novo nome: RG, CPF, carteira de motorista, carteira de trabalho, passaporte, e outros documentos.
Zoe Saldana foi ao seu Facebook comentar a repercussão da mudança de sobrenome de seu marido, dizendo:
“Pais, filhos, irmãos e homens do mundo todo: o legado de vocês não vai perecer se vocês adotarem o sobrenome de sua parceira ou se ela mantiver o dela. Tomei conhecimento de que um comentário feito sobre meu casamento recebeu muita atenção. Fico orgulhosa de que meu marido tenha decidido levar meu último nome como se fosse dele… e eu o dele. Eu dividi minha hesitação com ele quando ele me contou sobre sua decisão. Ele não só disse ‘eu não dou a mínima’ (com um sotaque italiano bem forte), como me perguntou ‘por que não? Do que você tem medo?’. E isso me fez pensar… Do que eu tenho medo?
[…] Homens, vocês não vão deixar de existir se adotarem o sobrenome de sua parceira. Pelo contrário – vocês serão lembrados como um homem que levantaram-se pela mudança. Sei que seus filhos respeitarão e admirarão seus pais ainda mais, porque o pai deles liderou pelo exemplo.
Cavalheiros, eu os imploro para que pensem fora da caixa – removam-na totalmente. Vamos redefinir a masculinidade. Um “homem” de verdade lidera ao lado de sua parceira. Um homem de verdade aceita sua mortalidade. Um homem de verdade entende que nada pode ser feito sozinho”.
Numa sociedade patriarcal e machista, a atitude de Marco Saldana ainda ganha proporções muito grandes, mas talvez seja algo que os homens deveriam considerar mais e, quem sabe, não precisar parar no noticiário.