Mascarados que cantam – Gelede

Uma sacerdotisa da divindade Are é acompanhada por um mascarado que a honra retratando seu papel ritual. Ilaro, 1978.

Os acompanhantes

Assim como as máscaras preliminares preparam o caminho para a aparição das mães sagradas, acompanhantes mascarados cantam e dançam para anunciar a iminente chegada do principal personagem, Ọrọ Ęfę.

Os personagens importantes raramente aparecem em público sem seu séquito e Ọrọ Ęfę não constitui exceção, sobretudo porque seu desempenho é uma missão perigosa, que exige procedimentos e propiciações apropriadas, para assegurar sua segurança e a bem sucedida realização de sua tarefa ritual. Em muitas regiões, um mascarado que canta precede imediatamente Ọrọ Ęfę . Consideradas subordinadas a Ọrọ Ęfę , as máscaras usadas assumem diferentes formas.

Entre os povos iorubá de Ketu, o mascarado acompanhante de Ọrọ Ęfę , o qual entra cantando, é denominado Tètèdé, literalmente “Aquela-Que-Vem-Antes”, nome que se dá ao primeiro gêmeo que nasce, se for do sexo feminino.

Considerada a caçula, ela vem experimentar o mundo para seu irmão (Moulero 1971). Outros definem Tètèdé como a “esposa” de Ọrọ Ęfę, que representa “a mais bela mulher que agrada às feiticeiras” (Harper 1970:78). Numa cidade daquela região, esta máscara é denominada “Mundo Calmo”, pois sua presença alivia, refresca, aplaca os vários poderes presentes na comunidade ali reunida, tornando assim mais segura, para Ọrọ Ęfę, a sua aparição. As máscaras de Tètèdé, semelhante a algumas máscaras diurnas Gęlędę, que representam mulheres com elaborados arranjos de cabeça, são habitualmente encimadas por uma bandeja, um tigela ou outro recipiente. Seus rostos brancos ou amarelos as distinguem dos mascarados noturnos. O tema das oferendas é sugerido pelo formato e decoração dos receptáculos que se equilibram na cabeça.

(…) Os mascarados de tipo Tètèdé, encontrados em Ketu e em regiões contíguas, usam trajes que contêm elementos encontrados na maioria dos trajes de Ęfę e Gęlędę – perneiras, braçadeiras, chocalhos de ferro amarrados nas pernas e espanta-moscas, porém outros elementos indicam atributos decididamente femininos. Vários panos de cabeça fortemente amarrados no torso do dançarino dão a impressão de um corpete, característica do estilo das máscaras Gęlędę femininas de Ketu. Uma armação de madeira ou uma espécie de estrutura cilíndrica são amarrados na cintura e cobertos por um comprido pano, para simular nádegas e cadeiras volumosas. (…) Uma imagem transcendental é produzida por uma forma que exagera traços femininos, a rica profusão de trajes e as elaboradas máscaras, cujos traços brancos ou em tons pastel ressaltam dramaticamente na escuridão.

(…) Estes acompanhantes que cantam podem apresentar variações quanto à forma e identidade, mas não quanto ao papel que desempenham. Conforme sugere o nome de uma dessas máscaras, “Mundo Calmo” (Aiye Tutu) – seja ela encarada como esposa ou irmã, irmão ou companheiro – seu propósito é preparar o caminho e tornar seguro ou “suave” um mundo no qual Ọrọ Ęfę precisará executar sua corajosa e perigosa tarefa, em meio a forças potencialmente destrutivas.

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