MASP apresenta maior mostra já vista dedicada ao artista e ativista Abdias Nascimento

FONTEDo Hypeness
Abdias do Nascimento: Escritor, ator, artista plástico, professor, político e ativista | Foto: Paulo Moreira/Agência O GLOBO

Depois do Museu de Arte Negra ocupar o Inhotim, agora o MASP — Museu de Arte de São Paulo apresenta a mostra “Abdias Nascimento: um artista panamefricano“. A exposição é a maior já feita dedicada a este importante intelectual, ativista político, dramaturgo, ator, escritor e diretor.

Com curadoria de Amanda Carneiro, curadora assistente, e Tomás Toledo, curador-chefe do MASP, a exposição fica em cartaz de 25 de fevereiro a 5 de junho de 2022, ocupando os espaços da galeria e do mezanino. É uma das mostras do biênio dedicado às Histórias Brasileiras no museu, desta vez com apoio cultural do IPEAFRO, instituição fundada em 1981 pelo artista e responsável por seu acervo.

Reunindo 62 pinturas — desde o início de sua produção em 1968 até o ano de 1998 —, a mostra enfatiza o repertório de ideias, cores e formas do movimento pan-africanista, com noções, fontes e imaginário ladino-amefricano — termo cunhado por Lélia Gonzalez (1935-1994), amiga e interlocutora política e intelectual do artista e formuladora do conceito de amefricanidade para se referir à experiência negra na América Latina.

Figura fundamental para a história do país, Abdias Nascimento desempenhou papéis que marcaram o século 20 em diversos campos, tais como a política, a cultura e a intelectualidade. Suas pinturas associam orixás à abstração geométrica, formas livres a símbolos africanos — como os adinkras —, além de explorarem gêneros mais tradicionais, como paisagens e retratos.

Foto: Divulgação/MASP

A mostra retoma conceitos formulados por Nascimento, como o quilombismo, para destacar o projeto de transformação social sobre bases que retomam a experiência dos quilombos. O artista materializou seu pensamento também na pintura homônima, presente na exposição e visualmente representada pela união do tridente de Exu aos ferros de Ogum, divindades iorubás que se popularizaram no Brasil com a umbanda e o candomblé.

Em 1968, ano que marca o início de sua produção de pinturas e sua mudança para os Estados Unidos, Nascimento já era um nome conhecido no Brasil. Participou da formação da Frente Negra Brasileira, movimento e depois partido político criado na década de 1930, e da fundação do Teatro Experimental do Negro, o TEN, uma das mais radicais experiências de dramaturgia do país, nos anos 1940.

Foto: Divulgação/MASP

O artista realizou ainda o concurso “Cristo de cor”, que contou com diversos artistas, como Djanira da Motta e Silva (1914-1979), para a representação de um Jesus negro, em 1955; e na mesma década idealizou o Museu de Arte Negra, cujo acervo é referência nos debates sobre museus e comunidades. Hoje o Museu ocupa a Galeria da Mata, no coração do Inhotim, com 4 mostras agendas até 2024.

Já seus trabalhos de artes visuais foram mais celebrados em solo estadunidense, onde realizou exposições nos conceituados Studio Museum em Harlem, Nova York; Museum of Fine Arts, em Syracuse; e Crypt Gallery, da Universidade de Columbia.

Parte das pinturas desta mostra apresenta ao público a pesquisa de Nascimento sobre símbolos e bandeiras de projetos e identidades nacionais, que podem ser lidas de uma perspectiva simultaneamente pan-africanista e amefricanista.

Os trabalhos “Okê Oxóssi” e “Xangô”, ambos de 1970, por exemplo, estabelecem paralelos entre representações do Brasil e dos Estados Unidos por meio de uma recomposição de símbolos nacionais, mais especificamente os elementos de suas bandeiras.

Segundo Amanda Carneiro, curadora da exposição, “ao subverter o sentido das bandeiras, incorporando referências de matriz africana, questionam-se medidas de incorporação (ou seria retomada?) de signos culturais mais plurais, não exclusivamente alicerçados no eurocentrismo, repensando as comunidades imaginadas”.

“Okê Oxóssi”, inclusive, pode ser considerada um dos grandes pontos de partida para a mostra individual de Abdias Nascimento no MASP. A pintura — doada ao acervo do museu em 2018 no âmbito da mostra Histórias Afro-Atlânticas por Elisa Larkin Nascimento, cofundadora e atual presidente do Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros (Ipeafro) — ganha agora novos significados no contexto expositivo dedicado a histórias brasileiras, em conjunção com a extensa produção do artista.

Abdias Nascimento: um artista panamefricano
MASP — Museu de Arte de São Paulo
25 de janeiro a 5 de junho de 2022
Terça grátis, das 10h às 20h (entrada até as 19h); quarta a domingo, das 10h às 18h (entrada até as 17h); fechado às segundas
Agendamento online obrigatório pelo link masp.org.br/ingressos
R$ 50 (entrada); R$ 25 (meia-entrada)

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