“Fight the Power”. Título da mais famosa música do grupo de rap Public Enemy, lançada no fim dos anos 1990, é também uma das frases que não abandonam o discurso de Afrika Bambaataa, um dos pais do hip hop, movimento que completa 35 anos em 2010. Desde o fim de março, o MC (e também DJ) está no País para cumprir agenda de shows e palestras.
Na última terça-feira, em São Bernardo, conversou com seguidores. O Grande ABC sempre faz parte das turnês do artista. Desde 2002, a sede brasileira da ONG criada por Bambaataa, a Zulu Nation, funciona em Diadema, coordenada por King Nino Brown. A principal bandeira é a transformação social de comunidades carentes por meio dos cinco elementos do hip hop – MCs, DJs, b-boys (e b-girls), grafite e o conhecimento.
Em quase quatro décadas de existência, o hip hop como movimento social deposita suas esperanças de longevidade fora do Bronx, onde nasceu. “Nos Estados Unidos, a maioria está acomodada e dominada pela indústria musical, fazendo dinheiro. Alguns poucos ainda lutam por mudanças em seu bairro e no mundo”, critica o MC.
O Brasil tem grandes chances de ser forte, acredita. “Aqui o trabalho continua crescendo. Os brasileiros têm um espírito de colaboração independentemente de pobreza e riqueza. Todos sabem o quanto lutaram, o que superaram. Mas é preciso perceber que há algo de muito errado quando existem pessoas vivendo na miséria por conta de tanta ganância”, justifica.
SEM AFETAÇÃO – Apesar do evidente respeito dos hip hoppers ao ‘mestre”, como é conhecido, a plateia não se mostrou intimidada e crivou Bambaataa, que estava acompanhado de outros músicos, de perguntas. Na pauta, desde a função da moda como expressão do movimento musical até as diferentes vertentes que o estilo engloba.
A opinião do artista sobre o que os brasileiros estão fazendo artisticamente também gerou bastante curiosidade. Nomes como Marcelo D2, Racionais MCs e Rappin Hood foram indicados como bons exemplos do som. Mas a lista de trabalhos tupiniquins admirados não parou por aí, surpreendendo os hip hoppers que torcem o nariz para o funk carioca. A batida frenética que facilmente gruda nos ouvidos, conhecida no Exterior simplesmente como ‘baile funk” foi elogiadíssima.
“É o que mais chega do Brasil lá fora, embora muitos aqui digam que não gostam por conta das letras, cheias de referências a sexo. Mas nada impede fazer funk com letras que mostrem a sua verdade”, afirmou, citando Mr. Catra como exemplo.
Bambaataa também questionou o público, como forma de medir o nível de sabedoria sobre a identidade dos habitantes do continente. Pelo sorriso que exibiu ao fim do encontro, todos parecem ter passado pela sabatina