Médico que acorrentou trabalhador negro é indiciado por racismo

Segundo a Polícia, o médico cometeu "racismo recreativo", que é quando alguém faz uma "brincadeira" ou "piada" racista

FONTEMetrópoles, por Laura Braga
Reprodução/Twitter

O médico Márcio Antônio Souza Júnior, conhecido como Dr. Marcim, que filmou um trabalhador negro acorrentado pelos pés, mãos e pescoço, em uma fazenda na Cidade de Goiás, antiga capital do estado, foi indiciado, nesta segunda-feira (14/3), por racismo.

O inquérito iniciado na delegacia local foi remetido ao Grupo Especializado no Atendimento às Vítimas de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Geacri), em Goiânia. No vídeo que gerou a investigação, o médico mostra o homem preso às correntes e diz: “Aí, ó, falei para ele estudar, mas ele não quer. Então, vai ficar na minha senzala”. 

Racismo

De acordo com o delegado responsável pela investigação do caso, Joaquim Adorno, a conduta foi de “racismo recreativo”. Segundo ele, o indiciado responde em liberdade e não cabe prisão no momento.

“Tem que reforçar que não é porque foi uma ‘brincadeira’, que não é crime”, disse o investigador ao G1. Caso seja condenado, a pena pode ser de dois a cinco anos de prisão.

“Zoeira”

À época do crime, o médico chegou a gravar uma outra série de vídeos pelas redes sociais, em que pediu desculpas. Márcio Antônio disse que tudo “foi uma encenação teatral” e “uma zoeira”. Na explicação publicada em seu perfil no Instagram, ele argumentou que não teve a intenção de magoar, irritar ou fazer apologia à escravidão.

“Olá, em relação à peça fictícia que eu e meu amigo fizemos, gostaria de deixar bem claro que a gente fez o roteiro juntos, a quatro mãos. Foi como se fosse um filme. Foi uma zoeira. Não teve intenção nenhuma de magoar, de irritar ou nenhuma apologia a nada. Gostaria de deixar bem claro: ele é meu amigo e gostaria de pedir desculpas, se alguém se sentiu ofendido. Mas foi uma encenação teatral. Desculpe”, diz o médico no vídeo explicativo.

O trabalhador, que informou à polícia em interrogatório que trabalha havia três meses para o médico, também se pronunciou no vídeo: “Ele é como [se fosse] meu pai. Não tem como nem falar nada, sem palavras. Ele que me ajuda em tudo”.

O homem, cujo nome não foi divulgado, apenas o apelido, Camarão, esteve na delegacia da Cidade de Goiás, ao lado de um defensor público. Na ocasião, ele adiantou ao delegado Gustavo Cabral a versão de que tudo teria sido uma brincadeira.

Na sequência do vídeo explicativo, o médico orienta a fala do trabalhador: “Lá quem colocou as peças…”. E o homem completa: “Quem colocou as correntes fui eu. Foi uma brincadeira. Não foi para magoar ninguém e muitas desculpas para todo mundo”.

O Conselho Regional de Medicina de Goiás (Cremego), desde o início da divulgação do vídeo, não se manifestou sobre o caso.

Repúdio

O caso chocou a população local, e a repercussão, logo, tornou-se nacional. A família do médico Márcio Antônio é tradicional e bastante conhecida em Goiás.

A prefeitura da cidade, por meio da Secretaria Municipal das Mulheres, Juventude, Igualdade Racial e Direitos Humanos, divulgou uma nota de repúdio, na qual diz que fará questão de acompanhar de perto os desdobramentos do caso.

“O ato divulgado, sem explicação aceitável, causa profunda repulsa e deve ser objeto de investigação e apuração pela autoridade policial competente, para uma célere instrução e responsabilização nos termos da lei. Desta forma, a Prefeitura Municipal informa que acompanhará atentamente os desdobramentos da investigação e tomará as medidas de sua competência”, anuncia.

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