Mídia e a situação carcerária brasileira: Até Bananas!

Texto de Camilla de Magalhães Gomes.

“TOMATE, CEBOLA, PIMENTÃO, OVOS, SACOS DE ARROZ, ÓLEO E ATÉ BANANAS”.

Em 2013, ocorreram mais de 50 homicídios no Complexo Penitenciário de Pedrinhas em São Luís, no Maranhão. Mais um reflexo da situação carcerária nacional. Rio Grande do Norte, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Rio Grande do Sul, Maranhão. Todo estado brasileiro tem sua história de horror própria do sistema penitenciário.

Tortura, condições de vida e de higiene mais do que precárias, seres humanos tratados como lixo (já passamos do “tratados como animais há bastante tempo), violência, mortes, superlotação, reincidência… São esses os termos que definem o sistema penitenciário brasileiro.

No começo deste mês, uma notícia teve repercussão nacional e internacional: em um vídeo, presos do Complexo Penitenciário de Pedrinhas mostram outros detentos sendo decapitados. A partir daí, a situação carcerária no Maranhão virou tema e mobilizou mídia, Estado, organismos internacionais, redes sociais. Vimos de denúncias sobre as condições precárias do complexo a questionamentos sobre a eficácia do “combate ao crime”. Esse texto é sobre um desses momentos, promovido pela mídia.

Quando falamos em mídia e sua responsabilidade como agência informal do sistema penal, chovem os exemplos: Datena, Marcelo Rezende, as muitas versões do telejornal Balanço Geral… Sempre — ou na maioria das vezes — os exemplos são de canais de televisão diferentes da Rede Globo. Ainda que possamos reconhecê-la como parte disso, raramente a incluímos na crítica, já que chutar cachorro morto – no caso, esses programas sangrentos – é mais fácil.

Porém, o jornalismo que vende o medo, a repressão e a política de lei e ordem não precisa do sangue. É feito com ares de “denúncia”, de “reportagem investigativa”, com “imagens exclusivas” e a capa do compromisso e da seriedade com a apuração de um fato que “atordoou o país”.

Aí, a história é outra e a venda é mais garantida: se alguns se chocam com o escândalo, o sangue, o exagero dos programas açougueiros; o “jornalismo” com bancada bonita, canal a cabo e tom de seriedade fecha o negócio e ganha aqueles que não compraram no açougue.

É o que esse vídeo do canal GloboNews faz muito bem: Imagens exclusivas mostram presos com regalias dentro do presídio de Pedrinhas (MA).

O caso Pedrinhas escandalizou o país com suas cabeças cortadas. O canal, no lugar de procurar noticiar a superlotação, as condições do presídio, os agentes corruptos ou que não tem condições de exercer sua atividade no presídio, decide “denunciar” que havia uma “fartura de alimentos” nas celas “sem nenhuma repreensão”. Ou em uma cela, claro, porque a reportagem não se preocupa em falar que cela, quantas celas, a quem “pertence” a cela, como estão os demais presos.

E, para piorar, fala de “regalias”. Não quer avaliar como ou porque os presos possuem fogão nas celas – ou alguém acha que chegaram ali no bolso de algum deles? Mas é bem eficaz em fazer tomadas precisas sobre os alimentos. “Até bananas”. Vejam vocês, essas pessoas que queríamos excluir da sociedade, jogar num depósito, trancar a chave e deixar que se matem, estão comendo até bananas. Regalias.

Vou guardar esse vídeo. Não há Datena que faça um serviço tão eficiente em criar o medo.

 

 

Fonte:  Blogueiras Feministas

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